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O Jogo de Vídeo Anti-Bush

"O Milagre Segundo Salomé"

É um pouco frustrante dizer isto, mas o que este filme tem de espantoso vem realmente do seu aparecimento no âmbito do cinema português. Não porque seja um filme de época (até apetece dizer: mais um?...) ou uma "grande produção" ("Capitães de Abril" já o era), mas porque é estranho ver um filme português com as coisas tão no sítio certo. Não há outra maneira de dizer: este é um filme que tem as coisas no sítio. Os actores não exageram, o ritmo está bem marcado, os cenários são credíveis. "O Milagre..." parece, acima de tudo, ter sido feito por pessoas que souberam trabalhar bem umas com as outras - há, principalmente, uma banda sonora solidíssima de Bernardo Sassetti e uma actriz principal extraordinária, Ana Bandeira. O raccord do encontro amoroso entre Salomé e Gabriel na casa deste fica na memória. Tirando um ou dois pontos menos agradáveis (uma fixação talvez excessiva no rosto de Bandeira; a hostilidade repentina de Salomé para com Sertório não é bem explicada), estamos perante um caso raro de filme português que fixou os seus objectivos com consciência e os atingiu com competência.

"Amanhã Mudamos de Casa"

Muito agradável, este filme de Chantal Akerman que fui ver anteontem sem qualquer informação prévia que não a dos breves trailers. Útil para compreender a invasão, melhor, o enamoramento entre duas linguagens, a do teatro e a do cinema (as personagens são aquilo que dizem: muito teatral). Arrisco: num registo emocional diametralmente diferente, este filme está contudo muito próximo de "Dogville", na medida em que desiste (e ainda bem) de qualquer compromisso de representação da realidade e prefere criar um espaço com regras de relacionamento próprias. O palco de "Dogville" é aqui o duplex de Charlotte e Catherine.

Emmett Till


Este era Emmett Till. Em Agosto de 1955, Emmett tinha 14 anos e estava a passar uma temporada com parentes numa terreola do Mississipi chamada Money (!), longe da Chicago onde vivia.


Num desses dias, Emmett assobiou a Carolyn Bryant, uma lojista branca de 21 anos. Algumas versões dizem que ele teria sido demasiado licencioso com ela, outras dizem que não. Três dias depois, a meio da noite, Emmett foi arrancado da cama na cabana do seu tio-avô e raptado. O seu corpo seria encontrado por pescadores no rio Tallahatchie. Tinha a cara completamente amassada, a cabeça baleada e, atada ao pescoço com arame farpado, uma grelha de descaroçador de algodão (que penso ser a tradução mais correcta de "cotton gin fan") com cerca de 35 quilos, de modo a não flutuar.

Seriam constituídos arguidos Roy Bryant, marido da lojista, e o seu meio-irmão J. W. Milam. Provou-se que a grelha que tinha sido atada ao pescoço de Emmett era do celeiro deste último. Várias testemunhas afirmaram terem visto os arguidos com a vítima. No entanto, um júri constituído apenas por homens brancos oriundos do distrito natal dos mesmos ilibá-los-ia depois de uns meros 67 minutos de deliberação. Um ano depois, por 4000 dólares, tanto Bryant como Milam confessariam o homicídio à revista Look. Nenhuma consequência lhes veio daí, pois uma vez inocentados, não podiam voltar a ser julgados.

A diferença deste para com todos os outros homicídios de negros no Sul dos Estados Unidos foi a de a mãe de Emmett, Mamie Till-Mobley, ter insistido em fazer o funeral com o caixão aberto. E o que então toda a gente viu foi isto.



Esta fotografia de um corpo desfigurado tornar-se-ia a partir de então um ícone fundador do Movimento pelos Direitos Cívicos. A própria Rosa Parks, que apenas três meses depois do julgamento recusaria dar o seu lugar no autocarro a um branco (o que levaria à declaração pelo Supremo Tribunal da inconstitucionalidade da segregação nos transportes públicos), teria mesmo dito a Mobley que, nesse dia, pensava em Emmett acima de tudo.

Ora bem, o processo do homicídio de Emmett Till vai ser reaberto. Ao que parece, um documentário desenterrou nova informação que leva a concluir que pelo menos mais uma pessoa estaria envolvida no crime. E essa pessoa, ao que parece, ainda está viva e pode ser chamada ao tribunal.

Esta notícia deixa-me indeciso. O que é mais importante afirmar: o natural esgotamento do efeito útil de uma possivel sentença ou o castigo da atroz impunidade que paira há meio século sobre este caso? Nem questiono a escolha entre o Direito e a Justiça. Parece-me que a questão aqui é mesmo a de saber o que é justo. Opiniões?

Para saber mais:

- A morte de Emmett Till:http://afroamhistory.about.com/library/weekly/aa021703a.htm; http://www.bobdylanroots.com/till.html.
- A entrevista aos homicidas:http://www.pbs.org/wgbh/amex/till/sfeature/sf%5Flook%5Fconfession.html.
- A reabertura do processo: http://www.boston.com/news/globe/editorial_opinion/editorials/articles/2004/05/19/in_memory_of_emmett_till/; http://www.chron.com/cs/CDA/ssistory.mpl/editorial/2575621.
Bush caiu de bicicleta. Aqui há uns meses, tinha-se engasgado num biscoito. Aguardo o momento em que os seus neurónios redescobridores de Deus liguem os dois acontecimentos e concluam que a Al-Qaeda, afinal, é o Demónio, uma emanação maligna que pode estar EM TODO O LADO (numa bicicleta, num biscoito, no Partido Democrata), sendo assim necessário declarar guerra a "todo o lado". Depois, é fácil: o Congresso aprovará a dispensa de muito dinheiro para financiar as batalhas em "todo o lado"; a América dirá adeus aos seus valorosos rapazes que partem para dar a vida pela pátria em "todo o lado"; o Reino Unido dirá que está sempre pronto a ajudar os Estados Unidos em "todo o lado"; haverá muito sangue em "todo o lado"; as populações civis em "todo o lado" sofrerão bem mais do os exércitos porque terão as suas casas destruídas, a sua economia de rastos e o seu governo fragilizado; vozes críticas dentro da sociedade americana dirão, primeiro tímidas, depois com mais força, que "todo o lado" é demasiado longe para se preocuparem com ele e que, por isso, nunca devia ter havido guerra em "todo o lado"; o Governo americano discutirá durante muito tempo se deve retirar de "todo o lado" ou se deve lá ficar; finalmente, os americanos sairão de "todo o lado" deixando "todo o lado" num caos a ser resolvido por quem lá fica. E tudo porque, um dia, o W. percebeu que uma bicicleta e um biscoito têm muito que se lhe diga. Que felicidade.

What Blogging Archetype Are You Most Like?

3 pensamentos sobre "Ali"

1. Há crítica à figura de Don King? É que Michael Mann era o produtor da série "Acção em Miami" e nela entrava, em episódios pontuais, o próprio Don King. Uma relação que se estragou?


2. Em que dimensão é que "American Splendor" era verdadeiramente original e deixava este "Ali" a milhas de distância? Na medida em que se constituía enquanto biopic perfeito, aquele que sabe integrar a interpretação dos factos tendencialmente totalitária que é a feita pelo próprio retratado.


3. "Ali" não compreendeu que a dimensão mais fascinante do boxeur ex-Cassius Clay foi, precisamente, a que se passava fora do ringue - isso e o modo como ele, enquanto figura pública, tentava ser e mostrar-se fiel a si próprio e às suas ideias, mesmo que isso significasse enfrentar todos os demais, quando a figura que o público tinha dele era fabricada com consciência desde o início (não é extrapolação: eu ouvi o próprio Ali dar uma entrevista em que confessava que a sua maneira fanfarrona copiava a de um pugilista que ele tinha ouvido quando era criança).
A primeira coisa que vi mal cheguei à casa-natal foi uma cobra a serpentear pelas folhas caídas. Depois, foi sem pensar que pus esta música da Sensational Alex Harvey Band.
Depois das fotos de Abu Ghraib, o que raio vem a ser isto?
Há já algum tempo que esta dúvida me assalta: será Ariel Sharon o Alberto João Jardim dos Estados Unidos da América?

The Infinite Cat Project

Se há coisas que provam a vocação artística da Internet enquanto algo que produz sentidos que não poderiam surgir em mais nenhum contexto - esta é uma delas.

You are an AKMA.

You stand out from the crowd because of deeply held beliefs in the unknown.

You ponder endlessly and treat everyone, even fucknozzles, with respect.

WWAD (what would AKMA do) guides your actions.


Segundo o , o meu nome de actor pornográfico seria LEX SINNER.

Miss Vitriolica Webb's Ite


But Teenager ii. I have no idea about. He is a peculiarly Portuguese invention, this one. I don't mean his clean cut-ness. Clean teenagers exist everywhere, though obviously in reduced numbers since global advertising campaigns originating from the UK, (the origin of the truly gross teenager) inform the whole world's youth that scummy is COOL. Clean teenagers even existed in my teens, they were called the Benetton Babies then.


But THIS clean, sweet smelling teenager is super clean, super sweet smelling, super brilliant white. He wears only "rugger" style shirts from Sacoor Bros or Gant or Benetton clothes, in all the glorious shades of white and blue, the more daring sometimes go for a pale pink stripe. He wears those leather loafer-cum-deck shoes so popular with "Lisbon Man goes Casual". His most astonishing feature, though, is his HAIR. Not only is it sparklingly clean, with a shine on it to make his mother proud, it is swept and vigorously combed into this 1970s stylee, so "Dukes of Hazard" or "Chips", and I can't work out HOW, these boys with this particularly SILLY hairdo still manage to SWAGGER down the street, while looking like Beau Duke in pastel three quarter length pants.



(via Santa Ignorancia - obrigado, Bruno)

novos templates? e os macs?

Curiosamente, depois de ontem ter concluído o processo de normalização da aparência deste humilde sítio - apenas, é claro, na medida em que ele só estará concluído quando eu estiver satisfeito, ou seja, nunca -, reparei que vários dos blogs que acompanho decidiram mudar de template. Talvez seja por se ver a vaga bloguística portuguesa em aniversários ou por reacção aos templates que a Stopdesign desenhou para o novo Blogger. Não interessa. Tudo está bem para o Babugem e para o Sous les Pavés, la Plage!. Mas porque é que o Prazer Inculto e o Santa Ignorância se vêem com os posts demasiado puxados para a esquerda e com a largura ao mínimo (quase só uma palavra por linha)? Em nome dos utilizadores de Mac, eu vos rogo, Possidónio, Adeodato, Bruno, Carla, Nelson e Sérgio: mudem o template, deixem-nos continuar a leitura.

tarde

Deixei-me dormir para abafar o cansaço. A água do banho já pediu uma torneira fria mais aberta. Vesti uma camisa da minha namorada. Fiz a barba. Queria cortar o cabelo, mas não quero cortar o cabelo. Fui almoçar, tomar café. Li o jornal, falei do jornal com um amigo. Está sol, o calor está para chegar. Hoje é dia de sentir.

Bravo, pequeno

ontem, falando com um caloiro

- Então, gostaste do cortejo?
- Hmm, nem por isso.
- Porquê?
- Para mim, é o contrário do que o espírito académico deve ser.


Estavam sozinhos na gaveta-do-que-quase-se-esquece.

Third Level of Hell

Não é tão bonito?

O espírito de Nguyen Ngoc Loan

Isto e isto.

(obrigado, Justin Podur)

Jusqu'ici tout va bien




I had no reason to be over optimistic,
But somehow when you smiled
I could brave bad weather.

Kill Bill Vol. 2

Parece-me claro que a influência da Manga perde força neste Kill Bill Vol. 2 para ser suplantada pelo film-noir dos anos 40 (as cenas a preto e branco, principalmente a inicial, e o estilo gráfico dos créditos finais), os filmes de artes marciais (o capítulo dos ensinamentos de Pai Mei, com os close-ups abruptos - aliás, talvez os close-ups sejam um definidor das influências tarantinescas: veja-se a entrevista que ele dá para o making-of que vem no dvd de "Era Uma Vez na América", de Sergio Leone) e, é claro, os comics (o discurso de Bill sobre o Super-Homem é esclarecedor q.b.).

Penso que o Vol. 1 sobrevivia melhor enquanto obra isolada do que esta segunda parte, mas duas ideias se impõem a esta observação: o tom ensaístico sobre a violência da primeira parte a isso dá azo (as ideias de imagem do segundo filme são porventura mais ricas - uma reflexão constante sobre a luz e a sombra, ou seja, sobre a própria matéria-prima fundamental do cinema); o segundo filme diz muito mais claramente (se assistirmos até ao fim - mesmo até ao fim) que é subordinado ao primeiro, como se nos repetisse constantemente "não se esqueçam que isto tudo é um só filme".

O resto fica para o Série B.

Googlando

Já tenho a minha conta no Gmail. Eu sei, eu, sei: é um serviço controverso, porque sonda as mensagens de modo a juntar-lhes os Google Ads mais adequados, e muita gente não gosta disso. Os responsáveis pelo Gmail garantem que nunca ninguém lerá os e-mails, que tudo isto se processará informaticamente e sem qualquer violação da privacidade.

Grande parte desta confusão vem da oferta pública de aquisição do Google, a afectuar daqui a poucos meses. O Google, dono do Blogger, do Google News, do Gmail, o pólo de que parte a utopia do GooOS, ou seja, a empresa que melhor tem conseguido fomentar a mentalidade libertária, amadora e apaixonada da Internet inicial a um nível global e adaptando-a aos tempos modernos da web empresarial, vai passar a ser cotada na bolsa de valores. Faz-me um pouco de impressão, confesso: para quando o primeiro problema que vai acabar com a gratuitidade e a eficiência? Conseguir sobreviver à tentação do lucro sem, como o Yahoo e o Altavista, cair no modelo da busca-catálogo (para isso haverá o Froogle...), será o grande desafio para o Google e a grande esperança para nós, seus utilizadores.
Uma mulher que vem bêbeda no avião. Um adolescente de franja que diz "ai, que estoiro" quando dois carros batem no Saldanha. Uma adolescente que sorri com um bebé ao colo. Frases rápidas que, mal ouvidas, soam a búlgaro e a finlandês. Uma mãe que berra ao filho se está satisfeito com o que fez. Um diário que recupera a morte do Ayrton Senna para o comércio. Uma bifana que se pede pelo nome. Um motorista de expresso que não gosta de sacos no chão. O Benfica que ganha ao Sporting.

Voltei ao meu país, carago.
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