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a lição


E, por falar em valter hugo mãe, será que pessoas viciadas neste kitsch gostarão de ver a M.I.A. a ensinar dança a miúdos?

o prémio

valter hugo mãe não foi a primeira pessoa a vencer o prémio José Saramago. Paulo José Miranda, José Luís Peixoto, Adriana Lisboa e Gonçalo M. Tavares venceram-no no passado também. No entanto, ele foi o primeiro a vencê-lo na Internet - e isso merece a memória.

o metro ideal

Se eu encenar uma fotografia semelhante à de Cravinho numa carruagem de metro português com 100 passageiros, e usando as estatísticas do estudo, a arrumação fica mais ou menos assim: 83 pessoas estão a ler um jornal, sendo que 24 têm uma revista no bolso e 44 têm uma revista num bolso e um livro no outro; oito pessoas estão a ler um livro; uma está a ler instruções de telemóvel, outra um recado do marido e duas estão a ler molhos de recibos da água e do gás. E, perante esta fabulosa carruagem de metro, fico a pensar: as pessoas ou mentem nas sondagens ou lêem às escondidas.
Bárbara Reis, ípsilon de 26 de Outubro.

o filme: I'm not there


Eu disse que isto ia ser muito bom, mas não pensei que até a antecipação pudesse ser tão boa...

o break

Estive anos a tentar encontrar um sítio onde aplicar todos aqueles sábios ensinamentos d'Os Homens da Segurança (lembram-se? Anos 80, Nicolau Breyner, Tozé Martinho, Tróia...). Anos depois, chegou o Break do Sócrates do Filipe Homem Fonseca.

o daily show de 4 de junho de 2002

o chico buarque é mariquinhas

Ontem fui ver o Fados, de Carlos Saura. Enquanto filme, é um excelente concerto, mas fiquei de boca aberta a ouvir a Cuca Roseta cantar a Rua do Capelão e, principalmente, quando o Chico Buarque calou o verso do ainda vai tornar-se um império colonial no Fado Tropical. Será o chamado "compromisso"?
(curiosamente, nesta versão aqui colocada cala-se a "sífilis", o que transmite uma visão do mundo bem curiosa, do estilo "pode dizer que eu lhe roubei a terra, a família e a dignidade, mas não fale da doença venérea, está bem?")

o programa de rádio sobre a peste

Para quem quiser ouvir alguns posts deste blog ditos por Pedro Ribeiro: faz favor, vá à página do programa O Meu Blog Dava Um Programa de Rádio. Julgo que se aguentará aí durante uma semana e promete momentos que, como convém, vão da reflexão erudita ao ginga-cu mais desavergonhado.

a descoberta (que até é mais só lembrança)*

Um deputadome viu de cuecas.

a canção

If as we're walkin a hand should slip free
I'll wait for you
And should I fall behind
Wait for me
ou seja, o que realmente quero dizer é algo como isto:

(que vídeo tão bonito, um só gesto, uma só nota ao lado e tudo cairia como um castelo de cartas)

e eu até sempre tive uma ou outra coisa com o Springsteen que fazia com que ele não me convencesse, crueza a mais durante um tempo, a menos durante outro, mas vejo isto e oiço-me pensar "sim, senhor, assim sim", mas, na verdade, o que eu queria dizer era
Now everyone dreams of a love lasting and true
But you and I know what this world can do
So let's make our steps clear that the other may see
And I'll wait for you
If I should fall behind
Wait for me
e dizê-lo a quem não está aqui comigo e às vezes se enerva a ler o que escrevo.

a vida dura

É normal que as luzes dos palcos ofusquem os olhares de quem vê, mas há quem julgue que a vida de estrela é fácil. Eu vejo nelas uma tradição crística. Amy Winehouse, por exemplo, grita "no, no, no" enquanto a carregam para a reabilitação porque, ao pecar pelos outros, carrega os pecados do mundo. Do mesmo modo, Lucky Dube morreu para que se inicie um debate. Vinte mil assassinatos em ano e meio é muito assassinato. Debater é preciso.

o canibal

Sempre tive uma certa curiosidade pelo caso de Armin Meiwes, o canibal alemão. Um homem que satisfaz o desejo de outrem de ser devorado, saciando assim a sua própria fome, mas sem prescindir de algum capricho no acto (Meiwes comeu o seu companheiro de festança em forma de bife, com molho de pimentão verde, croquetes e couve de Bruxelas como acompanhamento), merece, afinal, o interesse alheio. Como Hannibal Lecter, este homem obedece a um pulsar irracional e ao mesmo tempo não se esquece de incorporar no ritual a forma organizada e civilizada de prazer do gourmet. O requinte deste Mal é o que o torna especialmente doentio e vampírico, mescla perfeita de eros e thanatos, pois não esqueçamos que, antes de se esvair em sangue, a vítima Bernd Jürgen Brandes tentou partilhar com o assassino o seu próprio pénis salteado com pimenta e alho. Diferença fundamental quanto ao psiquiatra inventado por Thomas Harris: Meiwes é real. Diferença ainda mais fundamental quanto a Lecter: Meiwes gravou em vídeo a sua aventura gastronómica. Sem dúvida, seria algo a mais tarde recordar, mas isto mostra de forma exemplar o papel da imagem no modo actual de representação e construção do real. Para além de ter, digamos, domesticado o seu canibalismo com a elaboração culinária, Meiwes concebeu-o como um espectáculo, um filme que poderia rever vezes sem conta. A intenção poderá ter sido puramente masturbatória, mas não creio: estou em crer que terá sido narcísica. A explicação dele para a sua patologia é a obsessão por um irmão mais novo - "alguém para fazer parte de mim", diz ele. Meiwes quer fazer crescer aquilo que é. Como tal, precisa de um objecto que lhe sirva de registo desse crescimento - que ateste o momento em que outrem integrou o seu eu. Este caso, curiosamente, tem bastante a ver com o do artista Stelios Arcadiou e o modo como este utiliza o corpo enquanto material artístico. Engraçado como não me parece que tenha tanto a ver com o sucesso do escritor mexicano que retalhou a namorada mas nega tê-la comido. Meiwes nunca se perdeu de si mesmo: é, de uma certa perspectiva, um homem consciente dos seus desejos e que os soube satisfazer. Jose Luis Calva, pelo contrário, perde-se num remoinho de acidentes e acasos. No entanto, se se provar que o homem realmente não resistiu à debicadela, será interessante pensar em porque é que admitir o homicídio era preferível a admitir o canibalismo. Assassino sim, vaidoso nunca?

o Fionn Regan


Via Auto-retrato, um vídeo (num bom português já com ligeiro travo a arcaísmo dir-se-ia "teledisco") que facilmente é apelidado de "fofo". Ainda por cima, acaba numa loja de animais, o que, segundo pessoa que conheço, faz dele um produto desonesto.

o momento "pois é" do dia

o guitarrista

Oiço diariamente a KCRW's Today's Top Tune e fiquei encantado hoje com este tema de um guitarrista havaiano chamado Cyril Pahinui, que toca uma modalidade de guitarra conhecida como slack-key guitar (algo como "guitarra de nota solta"), em que, pelo que percebo, as cordas são afinadas de modo a formarem um acorde por si só. O som (se não fosse um inculto, arriscaria dizer a tonalidade) é impressionante - por momentos, pensei estar a ouvir uma guitarra portuguesa com uma caixa de ressonância maior, o que não é de espantar, dada a quantidade de influências e misturas que a música havaiana contém. Aqui fica a cançoneta.

a pergunta

Há quem se interrogue sobre o porquê de algumas pessoas pedirem licença antes de rasgar papel. Eu pergunto outra coisa: será que isso tem algo a ver com o facto de rasgar papel ser um trabalho proibido no Shabat?

a profanação

Quanto à profanação do Cemitério Judaico de Lisboa, não consigo deixar de pensar na natureza profundamente ridícula do momento em que dois homens adultos baixaram as calças ao ar livre e, de rabo ao léu (e, quem sabe, de mãos dadas, para manterem o equilíbrio), esperaram por que chegasse a vontade de defecar. Curioso como doutrinadores da violência enquanto força de progresso social chegam a um momento do seu percurso político e de pensamento que tem no arrear do calhau o instrumento preciso para marcar a sua opinião. Isso, por si só, já diz muito. No entanto, uma vez que a obradela chegou em cerimónia iniciática, talvez tenha sido um imprevisto causado pela emoção. Afinal, estes senhores passaram um serão a grafitar suásticas em pedra tumular - não deve ser todos os dias que fazem algo tão construtivo.

O poema

DEBAIXO DO MUNDO HÁ MUITO CU HÁ MUITA CONA
muitas bocas e caralhos,
debaixo do mundo há muita esporra, e muita saliva a pingar para riachos,
Há muita Merda debaixo do mundo, a flutuar sob cidades para rios,
muita urina a flutuar debaixo do mundo,
muito ranho nas narinas industriais do mundo, suor por baixo do braço de ferro do
[mundo, sangue
a sair às golfadas do peito do mundo,
lagos intermináveis de lágrimas, correntes de vómito entre os hemisférios
a flutuarem para o Mar de Sargaço, trapos velhos sujos e óleo de travões, gasolina
[humana -
Debaixo do mundo há dor, ancas fracturadas, napalm a arder em cabelo negro, fósforo a
[rabunhar cotovelos até ao osso
insecticida a contaminar maresia, bonecos de plástico a flutuar no Atlântico,
Soldadinhos a abarrotar o Pacífico, bombardeiros B-52 a sufocarem o ar da selva com
[rastos de vapor e chamas brilhantes
Robots telecomandados inclinados sobre terraços de arroz a derramarem granadas
[cluster, um spray de fragmentos de plástico em carne, minas bailarinas e fogos de gelatina caem em telhados de palha e búfalos aquáticos,
trespassam cabanas com lixo farpado, trincheiras cheias de pós explosivos
[combustivenenados,
Debaixo do mundo há crânios partidos, pés esmagados, olhos cortados,
[dedos dilacerados, maxilares desfeitos,
Disenteria, milhões sem casa, corações torturados, almas vazias.


Allen Ginsberg, 1973. Tradução minha, 2007.

a senhora da estação

Hoje na mercearia chamaram-me "jovem", ou seja, o homem na caixa olhou para as minhas compras e perguntou "jovem, é isso?". Sempre que oiço esse tratamento, lembro-me de uma mulher que tinha uma banca dentro da estação rodoviária de Coimbra (horroroso lugar - muitas tarde passei lá, tantas que agora só ando de comboio). Vendia queijadas, garrafas de água e rebuçados, vocês estão a ver o estilo, cabelo longo pintado de preto, pele morena, brincos dourados, baton nos lábios e óculos com aquelas lentes escurecidas. Tratava, ou tratou durante certa altura, todos os homens por "jovem", dos 7 aos 77. Tinha piada, a senhora. Ao chamar "jovem" a todos, não estava verdadeiramente a chamar nada a ninguém, pois, se ninguém é velho, também ninguém pode ser jovem - mas, ao fazê-lo, ela própria tornava-se alguém que chamava "jovem" aos outros e, como tal, jovem era ela também.

o silêncio

Jornalistas suspensos por declarações dadas a jornais? Sindicatos visitados por agentes à paisana na véspera de uma manifestação? Não se preocupem, continuem a ver a Fátima Lopes e a chocar-se com manifestantes de cara tapada. Isto, na verdade, é que é aterrador e, seja como for, muito mais fotogénico.

a ópera bichus

a anatomia

Há afirmações que, por razões conceptuais ou do formato, estão condenadas a más interpretações e a julgamentos precipitados sobre a pessoa que as profere. Não é o caso desta, conscientemente misógina: a Anatomia de Grey é a série mais entranhadamente de gaja que pode existir. Se alguma vez for ultrapassada na distilação dessa essência feminil, muito me espantarei.

o segundo livro

Há uns poucos meses, arrumando as estantes, descobri que tinha dois exemplares da mesma edição de Literatura e Fantasma, de Javier Marías. Isto não é algo que me aconteça normalmente. Já me aconteceu perder um livro e comprá-lo outra vez, comprar um livro de novo para oferecer, comprar o mesmo livro em edições diferentes por já não me lembrar que o tenho e não reconhecer a capa. No entanto, eu sei que não comprei a mesma edição de Literatura e Fantasma duas vezes e lembro-me perfeitamente da vez em que o comprei. Também não passei pela situação de alguém mo ter oferecido e eu ter calado o facto de já o ter.

A única coisa que pode ter acontecido é eu ter ensacado dois exemplares sem que nem eu nem a vendedora nos tenhamos apercebido. Isto não faz de mim um ladrão - quanto muito, um negligente. Não sou muito de roubar livros. Já os pedinchei por achar que o dono não os leria (no caso, um dono que não falava a língua em que o livro estava escrito) e, uma vez, num acto heróico, resgatei um da estante de uma loja, onde servia de mero adereço e onde nunca teria hipóteses de vir a ser lido. Portanto, salvador, pedinchador e negligente, serei eu perante a biblioteca. O primeiro impulso é pensar que serei acima de tudo proprietário, mas isso não é verdade. Neste particular, a propriedade também sou eu.

o trabalho infantil

a ópera bichus

a derrocada


Hoje, na Fnac, descobri que há action figures do Kurt Cobain. Uma tem-no em pose de concerto e camisola às riscas, a outra reprodu-lo em instantâneo Mtv Unplugged.

E eu vejo isto e penso na minha vida, nos futuros que o tempo deixou escorrer para o esgoto e na loucura do mundo.

Perigosamente, apetece citar:
We passed upon the stair, we spoke in was and when
Although I wasn't there, he said I was his friend
Which came as a surprise, I spoke into his eyes
I thought you died alone, a long long time ago...
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