Eu não vou dizer que esta foi a música que me chamou a atenção mais a sério para os blues ou para o rock a sério ou seja lá para o que for. Lembro-me é que, com 16 anos, aproveitei uma ida do meu pai ao Porto para comprar três cd's que me marcaram nos gostos (uma colectânea do Hendrix, o Odelay do Beck e o Domingo no Mundo do Sérgio Godinho). Lembro-me também de estar à noite a ouvir a música nos auscultadores e a tentar perceber que raio de sintonia mefistofélica entre homem e guitarra é que isto exigiria (
that's alright, I still have my guitar, diz ele quando percebe que a namorada se pôs a andar). Foi, sim, das primeiras músicas que me arrepiei a ouvir. O Hendrix, não sei se por tocar com o braço da guitarra para a direita e por ter as mãos tão grandes que conseguia pisar os trastos com o polegar e o indicador - a
prender a guitarra - em vez de só com o indicador, tinha o poder de
encantar. Não estou a brincar - há um poder encantatório no modo como este domínio da guitarra traduz um domínio do mundo físico. Desse ponto de vista, esta música não existe no mundo real. Ouvi-la é, por uns minutos, ouvir o mundo dos sonhos.
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