a marca
Hoje no metro pus-me a olhar para uma marca em forma de quarto minguante que tenho no braço direito desde há uns meses. Já esteve mais marcada, foi enfraquecendo com a passagem do tempo, mas continua a ser visível. O que mais me perturba nela é que não representa absolutamente nada. É, muito simplesmente, uma queimadura feita enquanto passava a ferro. Não simboliza um acontecimento importante, não me recorda vencer uma luta memorável contra um vilão sobre-humano - é só a porra de uma queimadura doméstica. No entanto, isso faz-me pensar que talvez esteja a ser um sonhador e que, afinal, é o pacato, o trivial e o comezinho que nos vão marcando, não os acontecimentos extraordinários que, precisamente por o serem, representam uma muito menor passagem do tempo por nós. Isso, por outro lado, faz-me pensar que estou só a justificar perante mim mesmo o facto de me ter deixado marcar para o futuro no braço direito por um estúpido ferro, como se fosse a minha própria rês, mas também me faz pensar que, se calhar, me marquei para mostrar que sou dono de mim próprio.
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Home