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o pequeno almoço de campeões

Tenho-me andado a rir no eléctrico com Vonnegut e coisas como
A história em si tinha como título: «O Bailarino Louco». E como muitas histórias de Trout focava um trágico problema de falta de comunicação.
Era este o resumo: uma criatura chamada Zog chegara à Terra num disco voador para explicar a forma de evitar guerras e de curar o cancro. Trazia as informações de Margo, um planeta em que os nativos comunicavam por traques e sapateado.
Zog aterrou em Connecticut durante a noite. Mal tocara o solo quando avistou uma casa em chamas. Dirigiu-se apressadamente à casa, dando traques e sapateando para avisar as pessoas do terrível perigo que corriam. O dono da casa fez saltar os miolos de Zog com um taco de golf.
e assim por diante, mas, a cem páginas do fim, no que me parece ser o início de um terceiro acto, o próprio narrador-autor entra no texto e, olhando para o encontro das personagens num bar, diz
Com a aproximação do meu quinquagésimo aniversário, tornara-me cada vez mais revoltado e desiludido pelas decisões idiotas tomadas pelos meus compatriotas. E depois começara subitamente a lamentá-los, porque eu compreendi que ao comportarem-se abominavelmente e com resultados tão abomináveis o faziam inocente e naturalmente: davam o seu melhor para agirem como as pessoas inventadas nos romances. Era este o motivo por que os Americanos disparavam uns contra os outros tão frequentemente: era um mecanismo literário conveniente para finalizar contos e romances.
Porque é que tantos Americanos eram tratados pelo governo como se as suas vidas fossem tão fáceis de dispor como lenços de papel? Porque era essa a forma como os autores costumavam tratar os personagens dos contos que inventavam.
E assim por diante.
Quando compreendi o que estava a tornar a América uma nação tão perigosa e infeliz de pessoas que nada tinham a ver com a vida resolvi abandonar toda essa mentira literária. Escreveria sobre a vida. Todas as pessoas seriam igualmente importantes. A todos os factos daria igual importância. Nada ficaria de parte. Ao deixar que os outros ordenassem o caos, decidi estabelecer o caos na ordem, o que julgo ter conseguido.
Se todos os escritores procedessem assim, talvez os cidadãos sem interesses literários comerciais compreendessem que não existe a ordem no mundo que nos rodeia e que em vez disso nos devemos adaptar às exigências desse caos.
A adaptação ao caos é difícil, mas não impossível. Eu sou uma prova real de que se pode fazer.
o que, em si, é todo um programa. Fiquem a saber que o meu exemplar do livro é uma primeira edição portuguesa de 1973, tradução de Maria Emília Ferros Moura e edição de uma tal Futura. Nunca ouvi falar desta editora e nada sei para além do que o livro me diz - que de Vonnegut editou também Matadouro 5 e que tinha sede na Avenida 5 de Outubro, n.º 317, 1º andar. A tradutora, vejo, foi-o também de vários títulos de ficção científica. Mais alguém tem informações sobre isto?

3 Comentários:

Blogger agarb disse...

qual é o nome desse livro mesmo?

fiquei com vontade de ler as desventuras desse senhor!!!

2:57:00 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

É mesmo "Pequeno almoço de campeões" ;)

10:09:00 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Essa editora já não existe mas editava bizarrias divertidas. Hei-de procurar dois ou três livros que tenho sei lá lá onde.
"E sorriu, porque sabia que o sexo depende da beleza dos incisivo", é a frase inicial de SEXO 20, um livro de um autor com um nome tão anódino como Santos Fernando.
Há uns três anos enviei uma carta para a morada da editora. Nunca obtive resposta. Na missiva dizia chamar-me Júlio, ter 12 anos e ter acabado de estrear uma arca congeladora :)

5:27:00 da tarde  

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