o parágrafo que todos os estudantes universitários deviam ler
De todos os sectores postos de parte [pela sociedade tecnológica], o dos estudantes é o mais agitado e, com a excepção dos negros norte-americanos, o mais exasperado. A sua exasperação não provém de condições de vida particularmente difíceis, mas do paradoxo que ser um estudante implica: durante os longos anos em que homens e mulheres jovens estão isolados em escolas de educação superior, eles vivem sob condições artificiais, sendo meio reclusos privilegiados, meio irresponsáveis perigosos. Some-se a isto a extraordinária sobrelotação das universidades e outras bem conhecidas circunstâncias que operam como factores de segregação: seres reais num mundo irreal. É verdade que a alienação dos jovens é apenas uma (e das mais benevolentes) das formas de alienação impostas sobre todos pela sociedade tecnológica. É também verdade que, por causa da própria irrealidade da sua condição como habitantes de um laboratório no qual algumas das regras da sociedade exterior não se aplicam, os estudantes podem reflectir sobre o seu estado e também sobre o do mundo que os rodeia. A universidade é ao mesmo tempo o objecto e a condição da crítica estudantil. É o seu objecto porque é uma instituição que segrega os jovens da vida colectiva e, assim, de certo modo antecipa a sua própria alienação futura. Eles descobrem que os homens são fragmentados e separados pela sociedade moderna; o sistema, como consequência da sua própria natureza, não pode criar uma verdadeira comunidade. E é a sua condição porque, sem a distância que a universidade estabelece entre os jovens e a sociedade exterior, a sua crítica não seria possível e os estudantes entrariam imediatamente no ciclo mecânico de produção e consumo. A contradição é irresolúvel. Se a universidade desaparecesse, também desapareceria a possibilidade de crítica; ao mesmo tempo, a sua existência é uma prova – mais, uma garantia – da permanência do objecto da crítica, ou seja, daquilo que se deseja que desapareça. A rebelião estudantil oscila entre estes dois extremos: a sua crítica é real, as suas acções são irreais. A crítica é certeira, mas as acções não podem mudar a sociedade – e nalguns casos, longe de atrair ou inspirar outros sectores, elas até provocam regressões, como as eleições francesas de 1968.
Octavio Paz, "The Other Mexico: Critique of the Pyramid" (1969)
(tradução e negritos por mim)
Octavio Paz, "The Other Mexico: Critique of the Pyramid" (1969)
(tradução e negritos por mim)
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