Pela não-realização da Queima das Fitas
(artigo publicado na edição de hoje do jornal A Cabra)
Na Assembleia Magna de passado dia 27, uma moção pela não realização da Queima das Fitas obteve voto favorável. Com elevado simbolismo, esta votação teve efeito meramente indicativo, já que apenas o Conselho de Veteranos pode decidir com carácter final sobre a Queima das Fitas. É hora de reflectir sobre as eventuais vantagens deste tipo de protesto ser aprovado neste momento.
Primeiro, a sempiterna questão da opinião civil sobre os estudantes: são bêbados que não estudam. Para além de uma bacoquice redutora (estudantes há-os de todas as idades e feitios), quem diz isto são os mesmos que não se coíbem de encher as ruas de Coimbra aquando dos cortejos da Queima e da Latada ou de assistir aos concertos das mesmas. Aquilo de que se trata aqui é de direitos fundamentais à expressão, à liberdade e à educação, ou seja, livres de qualquer necessidade de merecimento.
Esta é a extrema simplicidade do que está em causa. E esta proposta, com um efeito perturbador gigantesco e uma garantia de credibilização segura, surge num momento extremamente conveniente. Primeiro, ainda não há entraves de uma organização iniciada que impeça o cancelamento (ainda nem sequer foram eleitos os Comissários e não há contratos comerciais celebrados). Segundo, a repressão policial voltou depois dos tempos negros do final dos governos Cavaco: os estudantes voltam a ser identificados como um grupo de desordem social a reprimir e prevê-se até a aprovação de um regime disciplinar específico para os estudantes que se manifestem! Quando se visa assim restringir garantias constitucionais, é porque os detentores do poder repressivo deixam de se sentir seguros no seio quente das suas formalidades representativas, ou seja, estamos perante um enfraquecimento político – alturas ideais para uma agilização do movimento estudantil, para a criação de consensos, conversações entre representantes estudantis com grupos políticos e demais sectores de influência (sindicatos, associações, grupos culturais e artísticos, movimentos cívicos, etc.).
É necessário que o Conselho de Veteranos (que, no início da mesma Magna em que se aprovou esta moção, declarou a sua união com a luta estudantil) compreenda que insistir na realização da Queima ou qualquer meio-termo de celebração é desbaratar este momento privilegiado da luta estudantil: com um Governo em deterioração progressiva, que não reúne o consenso dentro do próprio partido da maioria, com um senado a refugiar-se cada vez mais no conforto ou no temor, o movimento estudantil pode avançar nestes meses o que não avançou em anos. Optar pela Queima com base em critérios económicos será pouco corajoso, mantê-la por causa da praxe será simplesmente incompreensível.
É verdade, o cancelamento da Queima das Fitas terá repercussões a nível interno da AAC, implicando um sacrifício financeiro pelas secções culturais. Mas quando um órgão coloca o seu funcionamento regular acima de tudo, mesmo dos princípios que basearam o seu surgimento, ele deve pensar em desistir de ser o que é. Nalguns momentos, é preciso escolher o sacrifício. Este é um desses momentos.
Na Assembleia Magna de passado dia 27, uma moção pela não realização da Queima das Fitas obteve voto favorável. Com elevado simbolismo, esta votação teve efeito meramente indicativo, já que apenas o Conselho de Veteranos pode decidir com carácter final sobre a Queima das Fitas. É hora de reflectir sobre as eventuais vantagens deste tipo de protesto ser aprovado neste momento.
Primeiro, a sempiterna questão da opinião civil sobre os estudantes: são bêbados que não estudam. Para além de uma bacoquice redutora (estudantes há-os de todas as idades e feitios), quem diz isto são os mesmos que não se coíbem de encher as ruas de Coimbra aquando dos cortejos da Queima e da Latada ou de assistir aos concertos das mesmas. Aquilo de que se trata aqui é de direitos fundamentais à expressão, à liberdade e à educação, ou seja, livres de qualquer necessidade de merecimento.
Esta é a extrema simplicidade do que está em causa. E esta proposta, com um efeito perturbador gigantesco e uma garantia de credibilização segura, surge num momento extremamente conveniente. Primeiro, ainda não há entraves de uma organização iniciada que impeça o cancelamento (ainda nem sequer foram eleitos os Comissários e não há contratos comerciais celebrados). Segundo, a repressão policial voltou depois dos tempos negros do final dos governos Cavaco: os estudantes voltam a ser identificados como um grupo de desordem social a reprimir e prevê-se até a aprovação de um regime disciplinar específico para os estudantes que se manifestem! Quando se visa assim restringir garantias constitucionais, é porque os detentores do poder repressivo deixam de se sentir seguros no seio quente das suas formalidades representativas, ou seja, estamos perante um enfraquecimento político – alturas ideais para uma agilização do movimento estudantil, para a criação de consensos, conversações entre representantes estudantis com grupos políticos e demais sectores de influência (sindicatos, associações, grupos culturais e artísticos, movimentos cívicos, etc.).
É necessário que o Conselho de Veteranos (que, no início da mesma Magna em que se aprovou esta moção, declarou a sua união com a luta estudantil) compreenda que insistir na realização da Queima ou qualquer meio-termo de celebração é desbaratar este momento privilegiado da luta estudantil: com um Governo em deterioração progressiva, que não reúne o consenso dentro do próprio partido da maioria, com um senado a refugiar-se cada vez mais no conforto ou no temor, o movimento estudantil pode avançar nestes meses o que não avançou em anos. Optar pela Queima com base em critérios económicos será pouco corajoso, mantê-la por causa da praxe será simplesmente incompreensível.
É verdade, o cancelamento da Queima das Fitas terá repercussões a nível interno da AAC, implicando um sacrifício financeiro pelas secções culturais. Mas quando um órgão coloca o seu funcionamento regular acima de tudo, mesmo dos princípios que basearam o seu surgimento, ele deve pensar em desistir de ser o que é. Nalguns momentos, é preciso escolher o sacrifício. Este é um desses momentos.
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