luto nacional 2, seguido de choques eléctricos
Depois de ler o post de Possidónio Cachapa, confesso que me desiludiu um pouco o texto original da carta de José Carlos Palha. Não discordo profundamente da opinião do leitor do Público, apenas esperava um enfoque para além da questão do merecimento do luto nacional pelo triângulo Sophia-Pintassilgo-Lúcia, que, no entanto, é precisamente a questão que se versa:
3ª QUESTÃO DE FÉ: ultimamente, ando a apanhar imensos choques em corrimões de escadas, fechaduras de portas e portas de automóveis. Ora, eu sei algo sobre electricidade estática - não muito, mas o suficiente para reconhecê-la como causa dessas pequenas descargas. Mas se não soubesse - aí pensaria que o mundo me estaria a castigar por maldade. O curioso é que esse conhecimento prévio depende da existência do saber na comunidade, o que é desigual e arbitrário. Ou seja, o progresso científico subsiste no e pelo acaso, tanto como a superstição. Estão aí ao mesmo nível.
A igualdade de tratamento nos três casos era no mínimo o que se deveria exigir dos poderes políticos de um país desenvolvido. Não termos sido capazes de o fazer só veio contribuir para manter o nosso baixo índice de cidadania e de liberdade de escolha, fragilizando a nossa democracia; democracia que afinal parece ter sido apenas "oferecida" generosamente a uma população com um baixíssimo grau de instrução e de literacia.O mérito de José Carlos Palha, no entanto, está na identificação precisa do que cada uma daquelas pessoas representou.
Uma foi talvez a nossa maior poetisa de sempre, candidata ao Prémio Nobel da Literatura e uma cidadã a todos os títulos exemplar; a segunda foi uma mulher, integrada numa ordem religiosa, que dedicou a sua vida às mais elevadas causas e trouxe à política a marca do seu ideal cristão, chegando a ser a única primeira-ministra de Portugal; a irmã Lúcia foi um exemplo de vida abnegada e simples movida por uma enorme fé em fenómenos ocorridos em Fátima que nos merecem o maior respeito e nos interrogam o mais profundo da nossa alma como católicos, embora não sendo dogmas de fé.Esqueçamos agora a questão to be or not to be do luto nacional, sempre dependente da conjuntura política e (hoje mais do que nunca) do calendário eleitoral, e perguntemos: o que nos diz de nós mesmos a diferença entre os modos como foram celebradas as mortes das três, tendo em conta aquilo que elas representam e os valores e ideias a que as suas figuras apelam? Talvez que, muito mais do que iliterados e pouco instruídos, os portugueses pensam-se e sentem-se abnegados e simples. E isto é um ponto de partida muito mais interessante.
3ª QUESTÃO DE FÉ: ultimamente, ando a apanhar imensos choques em corrimões de escadas, fechaduras de portas e portas de automóveis. Ora, eu sei algo sobre electricidade estática - não muito, mas o suficiente para reconhecê-la como causa dessas pequenas descargas. Mas se não soubesse - aí pensaria que o mundo me estaria a castigar por maldade. O curioso é que esse conhecimento prévio depende da existência do saber na comunidade, o que é desigual e arbitrário. Ou seja, o progresso científico subsiste no e pelo acaso, tanto como a superstição. Estão aí ao mesmo nível.
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