as velas
Quanto ao 19 de Abril, não sei ainda se vou estar em Lisboa (apesar de andar por lá num curso, continuo a viver e trabalhar em Coimbra e, no dia 21, tenho de estar na Covilhã). Se estiver, porém, garanto que irei ao Rossio.
Quando há sangue no passado, a tendência é para culpar o presente (porque o passado já lá foi). Posso dar dois exemplos, um mediático, outro pessoal. Primeiro: quando em 2000 se comemoraram os 500 anos do "achamento" do Brasil, achei correcta a lembrança da colonização violenta - detesto branqueamentos -, mas não pude suportar a condenação moral, per se, de Portugal e portugueses actuais. É que isso é, também, um branqueamento, neste caso, do presente, de modo a permitir a extensão de uma acusação quando o réu já morreu há muito. Que culpa tenho eu de um passado que não é meu? Não escolhi nascer português, não escolhi nascer homem, nem sequer escolhi nascer pessoa e, além do mais, tenho bem consciência dos crimes passados. Aquele é o mesmo mecanismo que liga automaticamente a ideia de "Alemanha" à de "Nazi". Ora (e este é o segundo caso), eu nunca conheci ninguém tão susceptível à mera pronúncia desta palavra como uma amiga minha, alemã, a quem não pude contar até ao fim um sketch do "Faulty Towers" em que o John Cleese gozava, nem sequer com os alemães, mas com o preconceito inglês contra os alemães.
Ir pôr uma vela no Rossio no dia 19, para mim, não tem nada de religioso: é uma declaração de que o meu passado é o de toda a humanidade, de que sou responsável só pelos meus erros e de que sou, apesar de tudo, tão dono da memória como outra pessoa qualquer. É o meu modo de dizer "eu comporto-me eticamente para evitar a estupidez humana que fez com que isto acontecesse há quinhentos anos e que agora faz acontecer outras frustrações". É, por fim, um ajuste de contas comigo mesmo, com todos os vivos e com todos os mortos.
Quando há sangue no passado, a tendência é para culpar o presente (porque o passado já lá foi). Posso dar dois exemplos, um mediático, outro pessoal. Primeiro: quando em 2000 se comemoraram os 500 anos do "achamento" do Brasil, achei correcta a lembrança da colonização violenta - detesto branqueamentos -, mas não pude suportar a condenação moral, per se, de Portugal e portugueses actuais. É que isso é, também, um branqueamento, neste caso, do presente, de modo a permitir a extensão de uma acusação quando o réu já morreu há muito. Que culpa tenho eu de um passado que não é meu? Não escolhi nascer português, não escolhi nascer homem, nem sequer escolhi nascer pessoa e, além do mais, tenho bem consciência dos crimes passados. Aquele é o mesmo mecanismo que liga automaticamente a ideia de "Alemanha" à de "Nazi". Ora (e este é o segundo caso), eu nunca conheci ninguém tão susceptível à mera pronúncia desta palavra como uma amiga minha, alemã, a quem não pude contar até ao fim um sketch do "Faulty Towers" em que o John Cleese gozava, nem sequer com os alemães, mas com o preconceito inglês contra os alemães.
Ir pôr uma vela no Rossio no dia 19, para mim, não tem nada de religioso: é uma declaração de que o meu passado é o de toda a humanidade, de que sou responsável só pelos meus erros e de que sou, apesar de tudo, tão dono da memória como outra pessoa qualquer. É o meu modo de dizer "eu comporto-me eticamente para evitar a estupidez humana que fez com que isto acontecesse há quinhentos anos e que agora faz acontecer outras frustrações". É, por fim, um ajuste de contas comigo mesmo, com todos os vivos e com todos os mortos.
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Home