o diálogo
A que Pacheco Pereira não goste de comentadores compulsivos e anónimos, nada a opor: afinal, o anonimato na Internet é tão fácil que, mesmo que não fosse mais nada (e é-o), seria de um extremo mau gosto. O que choca no artigo que ele escreveu para o Público de quinta-feira (transcrito aqui por Eduardo Pitta, também ele dono de um blog sem caixa de comentários) tem a ver com o facto de a sua condenação de personalidades revelar algo de marcadamente auto-suficiente, absolutista, monopolista e devorador na sua própria personalidade. O que não deixa de ser interessante, principalmente quando este recente artigo explicou recentemente que não é nos blogs de maior audiência que a interacção (lembro que estamos na InterRede) tende a ocorrer.
Por natureza, tendo a não gostar de pedidos exagerados de respeito; acho, precisamente, que as ideias avançam quando se supera o supérfluo. Quando o blogger Pacheco Pereira inventa um dispositivo chamado “O Abrupto feito pelos seus leitores” para, resumidamente, publicar comentários que lhe chegam por via indirecta (correio electrónico), está a assassinar o diálogo à partida. Ou seja, o blogger, que deveria ser uma personalidade identificada e dialogante, uma voz que se afirma numa conversa entre pares, torna-se editor dos demais. Quer Pacheco Pereira queira, quer não, publicar no Abrupto comentários alheios é diferente de deixar que o leitor deixe um comentário directo – a imediatez e a personalidade perdem-se na primeira alternativa. Quando publica o correio dos leitores, está apenas a premiar textos.
Não se percebem os argumentos do eurodeputado. Afinal, não é tantas vezes legível nos comentários dos leitores do Abrupto a mesma “procura de atenção” e “pulsão psicológica para existir”que Pacheco Pereira encontra nos comentários a blogs alheios? Não será essa atenção e essa afirmação de personalidade que leva o próprio Pacheco Pereira (tal como qualquer outro autor) a publicar um blog enquanto parte da sua acção criativa e da expressão de um pensamento que se dispersa por tantas publicações e programas? E não é possível regular o “Faroeste da Rede” (“insultos, ataques pessoais, insinuações, injúrias, boatos, citações falsas e truncadas, denúncias”) através da simples moderação da caixa de comentários? Eu próprio já me debati com esse problema e não vejo porque não se deve, apesar de tudo, manter a fasquia alta: um comentário discordante e violento pode, mesmo sendo anónimo, ter valor (se não o tiver, elimine-se: é mero bom senso). Mas não percebo como alguém que há meses escreveu sobre o caso das caricaturas de Maomé desta e desta maneira pode ser tão choramingão com a “tradição nacional de maledicência”. Qualquer pessoa pode ter muito boas razões para dizer porque é que outra é uma besta e qualquer pessoa pode ter interesse em lê-las. Enquanto autor num meio aberto, opino pelo encorajamento do choque, seja ele comigo ou com outra pessoa qualquer.
A Internet de Pacheco Pereira é uma em que cada um tem o seu blog, espaço de publicação próprio, e em que a interacção se deve necessariamente fazer por meios indirectos como o e-mail? Peço desculpa, essa não é a minha Internet. Pacheco Pereira sabe, com certeza, existir na Rede, mas saberá existir em Rede? Se me ler, convido-o a responder. Não precisa de me mandar um e-mail, pode deixar um comentário aqui em baixo ou escrever uma resposta no seu próprio blog. É bom entrar em diálogo, Sr. Dr. Desafio-o a experimentar.
Por natureza, tendo a não gostar de pedidos exagerados de respeito; acho, precisamente, que as ideias avançam quando se supera o supérfluo. Quando o blogger Pacheco Pereira inventa um dispositivo chamado “O Abrupto feito pelos seus leitores” para, resumidamente, publicar comentários que lhe chegam por via indirecta (correio electrónico), está a assassinar o diálogo à partida. Ou seja, o blogger, que deveria ser uma personalidade identificada e dialogante, uma voz que se afirma numa conversa entre pares, torna-se editor dos demais. Quer Pacheco Pereira queira, quer não, publicar no Abrupto comentários alheios é diferente de deixar que o leitor deixe um comentário directo – a imediatez e a personalidade perdem-se na primeira alternativa. Quando publica o correio dos leitores, está apenas a premiar textos.
Não se percebem os argumentos do eurodeputado. Afinal, não é tantas vezes legível nos comentários dos leitores do Abrupto a mesma “procura de atenção” e “pulsão psicológica para existir”que Pacheco Pereira encontra nos comentários a blogs alheios? Não será essa atenção e essa afirmação de personalidade que leva o próprio Pacheco Pereira (tal como qualquer outro autor) a publicar um blog enquanto parte da sua acção criativa e da expressão de um pensamento que se dispersa por tantas publicações e programas? E não é possível regular o “Faroeste da Rede” (“insultos, ataques pessoais, insinuações, injúrias, boatos, citações falsas e truncadas, denúncias”) através da simples moderação da caixa de comentários? Eu próprio já me debati com esse problema e não vejo porque não se deve, apesar de tudo, manter a fasquia alta: um comentário discordante e violento pode, mesmo sendo anónimo, ter valor (se não o tiver, elimine-se: é mero bom senso). Mas não percebo como alguém que há meses escreveu sobre o caso das caricaturas de Maomé desta e desta maneira pode ser tão choramingão com a “tradição nacional de maledicência”. Qualquer pessoa pode ter muito boas razões para dizer porque é que outra é uma besta e qualquer pessoa pode ter interesse em lê-las. Enquanto autor num meio aberto, opino pelo encorajamento do choque, seja ele comigo ou com outra pessoa qualquer.
A Internet de Pacheco Pereira é uma em que cada um tem o seu blog, espaço de publicação próprio, e em que a interacção se deve necessariamente fazer por meios indirectos como o e-mail? Peço desculpa, essa não é a minha Internet. Pacheco Pereira sabe, com certeza, existir na Rede, mas saberá existir em Rede? Se me ler, convido-o a responder. Não precisa de me mandar um e-mail, pode deixar um comentário aqui em baixo ou escrever uma resposta no seu próprio blog. É bom entrar em diálogo, Sr. Dr. Desafio-o a experimentar.
3 Comentários:
Caro Nande,
O texto em causa (que, aliás, está no blog do próprio Pacheco Pereira) já suscitou também algumas reflexões - e algum debate - no meu blog.
Um dos pontos bem apontados por uma das pessoas que comentou na minha "caixa de comentários" é a existência de "várias blogosferas". Aquela em que Pacheco Pereira se move é muito diferente daquelas onde tu e eu estamos e é, também, muito mais propícia à necessidade de supervisão e moderação de comentários.
Quanto a isso não há grande argumento: espaços para comentários em sites bem conhecidos que tratem temas controversos tendem a tornar-se pequenos chats que pouco mais produzem que ruído.
A questão parece-me, e tu próprio o admites ("um comentário discordante e violento pode, mesmo sendo anónimo, ter valor (se não o tiver, elimine-se: é mero bom senso"), estar mais na selecção a priori ou na eliminação a posteriori.
Ambas as opções me parecem válidas e não vejo a mínima razão para que um blogger tenha que ter uma abertura dialogante na rede. Enquanto espaços pessoais que muitos ainda são, os blogs devem ser exactamente aquilo que os autores preferirem.
Quanto ao esquema de Pacheco Pereira para a participação dos leitores, não apresenta grandes diferenças relativamente ao esquema de selecção prévia de comentários que muitos bloggers populares usam. Nota-se é mais a presença da edição. O que não é necessariamente mau.
Ana, não posso deixar de concordar contigo. No entanto, como de costume, JP, tenho algo a apontar às tuas observações: a questão não é a selecção a priori ou a eliminação a posteriori de comentários, mas o carácter mesmo, a filosofia, se quiseres, que está por detrás da concepção do espaço. Obviamente, não ponho em causa a liberdade de o fazer ou não, era o que faltava – este é um debate de ideias.
Eu opto por ter uma caixa de comentários porque não encaro a Internet como um espaço "de" alguém, a menos que seja um espaço "de todos". Digamos que A Peste é a minha sala aberta ao público, o meu pequeno bar, e, muito prosaicamente, recuso-me a "reservar o direito a admissão". Ao fim e ao cabo, é uma questão exterior e prévia ao blog - é uma questão filosófica.
Palhaço!! És um palhaço azul de chinelas , plagiador de letras supostamente elegante e pensante!
Pega na tua ovelha gonorreica e raspa-te!
Não te queremos aqui!!
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