os cidadãos-jornalistas
O que eu pergunto, na sequência de tudo o que se tem escrito e dito sobre este tema, é se o que está por detrás do receio e da recusa (isso morreu, dizem alguns) não será uma humana e nada racional reacção humana de medo por parte dos jornalistas. Vejamos: o Ponto Media anuncia o facto de uma empresa de comunicação pagar a cidadãos-jornalistas, e isto parece revelador de algo novo. Mas recuemos uns anos e lembremo-nos que, quando acontecia uma catástrofe onde os órgãos de comunicação não estavam (e ainda hoje a libertação de Abu Bakar Bachir lembra os vídeos que se fizeram há quatro anos em Bali), era normal vermos vídeos ou fotografias de não-jornalistas que tinham sido testemunhas do facto e, se as imagens tivessem qualidade suficiente e o acontecimento fosse relevante, as pessoas faziam-se pagar – e bem. A diferença desta realidade para a de hoje tem a ver com o facto de a Internet permitir a circulação de muito mais material captado por estas testemunhas e, simultaneamente, com o de Dan Gilmor ter definido um conceito e sistematizado uma utopia. O primeiro facto faz com que os jornalistas se sintam menores, pois consciencializam-se de que há muito mais coisas a acontecer para além da sua capacidade de relato, mesmo que esta não esteja já em luta constante com o suporte – caracteres, minutos – e com a base comercial-publicitária que lhes financia a profissão. O segundo facto retira-lhes o predomínio sobre o termo com que se denominam (poderemos censurá-los?, que escarcéu não haveria se alguém cunhasse o termo “cidadãos-médicos”?) e mete-lhes na mente a noção de uma continuidade sobre a qual eles não querem deixar de influir. Ora, a verdade é que essa continuidade pode ou não existir – na minha perspectiva, a realidade de toda a mudança depende mais das ideias que sobre ela se têm produzido do que propriamente daquilo que realmente está a acontecer – e o que frustra é que, mais uma vez, como em tantas outras coisas, é o medo que diz o que é que se pensa, o que é que se discute e o que é que se faz.
4 Comentários:
É por isso que digo que não há cidadãos-jornalistas. Há um meio dos cidadãos - a Internet; um citizen media e não um citizen journalism, portanto.
Embora eu discorde da visão tecno-optimista de Gillmor, note-se que o livro se chama "We, the Media". Não "We, the Journalism".
Quanto à reacção dos jornalistas, pelo menos em Portugal, creio que é um misto de receio (menos significativo), de indiferença (predominante) e de entusiasmo (minoritário).
A propósito: bem feito, o pequeno redesign. Mas o logo deveria apontar para a primeira página, como creio que acontecia antes...
Não, não, estás enganado.
Ok, estou enganado.
Mas continuo a defender que o logo deveria apontar para a primeira página.
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