o concerto
Preciso de dizer isto antes que me vá deitar, o amanhã chegue e a verdade perca a necessidade: Bob Dylan foi talvez o melhor que poderia ter visto no preciso momento em que o vi. Com "Lisbon" e a apresentação da banda como únicas palavras pronunciáveis e tudo.
Na segunda-feira, descobri que uma pessoa que conheci há anos nos Jovens Criadores teve um derrame cerebral - mas só porque um dossier sobre ela (faz de si a sua matéria artística, a valente) me veio em anexo num e-mail de divulgação cultural e só porque ela tem o mesmo nome que uma actual colega de trabalho minha que é também pintora, senão o mais provável é que nem tivesse aberto o e-mail.
Na quarta-feira, descobri que o meu vizinho do lado de há quase dois anos, nado e criado em Lisboa, namorou com uma antiga professora minha, nada e criada na Trofa e passada por Monção.
Ontem, descobri que alguém que conheci há anos nos Jovens Criadores - os mesmos em que conheci a pessoa de há dois parágrafos atrás - está a trabalhar no Ikea, mas só porque, por coincidência e à última da hora, lá fui.
Quando o Dylan tocou a "It's Alright Ma", todo o concerto se abriu para o público. Antes, o John Butler Trio só o conseguira quase no final, com um solo sobre-humano do baterista, mas ao Dylan bastou ter a banda toda a olhar para ele para saber as variações, repetir compasso atrás de compasso e murmurar as letras. E, ainda assim, houve um momento em que tudo aquilo fez sentido. A banda para trás no palco, como a de um cabaret, sem se querer mostrar, sem fazer de si própria o espectáculo, a ausência de palavrinhas gentis, o agradecimento final, sem vénia, sem nada, só a banda no centro, de pé, a olhar para o público que a aplaudia e eu sentia que aplaudiria aqueles gajos, aquele gajo, o tempo todo que eles quisessem ali ficar de pé. E o Dylan não me engana com aqueles olhos de ratito malandrão: depois daquela malta toda, velha e nova, cantar a Like a Rolling Stone ao mesmo tempo, havia ali sorriso mal escondido.
Não foi um concerto como qualquer outro quanto àquilo que pede ao público para ser e ao modo como lhe pede para estar. Mas, a partir de um momento, fez sentido. A partir de um momento, tudo faz sentido.
Na segunda-feira, descobri que uma pessoa que conheci há anos nos Jovens Criadores teve um derrame cerebral - mas só porque um dossier sobre ela (faz de si a sua matéria artística, a valente) me veio em anexo num e-mail de divulgação cultural e só porque ela tem o mesmo nome que uma actual colega de trabalho minha que é também pintora, senão o mais provável é que nem tivesse aberto o e-mail.
Na quarta-feira, descobri que o meu vizinho do lado de há quase dois anos, nado e criado em Lisboa, namorou com uma antiga professora minha, nada e criada na Trofa e passada por Monção.
Ontem, descobri que alguém que conheci há anos nos Jovens Criadores - os mesmos em que conheci a pessoa de há dois parágrafos atrás - está a trabalhar no Ikea, mas só porque, por coincidência e à última da hora, lá fui.
Quando o Dylan tocou a "It's Alright Ma", todo o concerto se abriu para o público. Antes, o John Butler Trio só o conseguira quase no final, com um solo sobre-humano do baterista, mas ao Dylan bastou ter a banda toda a olhar para ele para saber as variações, repetir compasso atrás de compasso e murmurar as letras. E, ainda assim, houve um momento em que tudo aquilo fez sentido. A banda para trás no palco, como a de um cabaret, sem se querer mostrar, sem fazer de si própria o espectáculo, a ausência de palavrinhas gentis, o agradecimento final, sem vénia, sem nada, só a banda no centro, de pé, a olhar para o público que a aplaudia e eu sentia que aplaudiria aqueles gajos, aquele gajo, o tempo todo que eles quisessem ali ficar de pé. E o Dylan não me engana com aqueles olhos de ratito malandrão: depois daquela malta toda, velha e nova, cantar a Like a Rolling Stone ao mesmo tempo, havia ali sorriso mal escondido.
Não foi um concerto como qualquer outro quanto àquilo que pede ao público para ser e ao modo como lhe pede para estar. Mas, a partir de um momento, fez sentido. A partir de um momento, tudo faz sentido.
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