O porreiro que há nisto de se trabalhar ao computador é que permite que se vão ouvindo as coisas que estão a dar na televisão ali ao lado com menos (pouco frequente) ou mais (ya, é isso) atenção. Agora mesmo, por exemplo, a RTP mostra uma reportagem feita numa aldeia do xisto sobre uma mísera menina de 8 anos que só tem 8 vizinhos. E eu nem deveria ter visto semelhante coisa, pois no peito de cada pessoa que mora na cidade há um coração.
(claro, dentro do peito de cada aldeão também, mas é gente que passa tanto tempo nas cortes com os bichos e a sorver tanto ar puro que bem pode gerar um potente, saudável e suínico coração)
Sim, a minha alma sofre por aquela criatura, principalmente quando penso que, se a reportagem fosse sobre ingleses que vão viver para uma casinha escondida na costa vicentina ou uma família lisboeta que retorna ao Alto Minho da infância para passar a reforma em paz ou sobre os artistas e freaks que escolhem voluntariamente o mesmo xisto da Lousã para viver sem que lhes fodam a cabeça, a aldeia já era um lugar paradisíaco, que não estava ao alcance de qualquer um e ao qual seria impossível aceder.
Talvez se se construísse um empreendimento de luxo na Lousã e uma cambada variegada de ex-administradores de empresas, ex-ministros e outros ex com caminho livre para uma reforma de uma vida inteira de chuchice fossem para lá morar em casas de milenas de eurecos, talvez aí a aldeia da menina já valesse a pena. Pelo menos, o pai dela teria pessoas para quem trabalhar. Porque, para construir o empreendimento, os campos iam-lhe ao ar, é claro.
(claro, dentro do peito de cada aldeão também, mas é gente que passa tanto tempo nas cortes com os bichos e a sorver tanto ar puro que bem pode gerar um potente, saudável e suínico coração)
Sim, a minha alma sofre por aquela criatura, principalmente quando penso que, se a reportagem fosse sobre ingleses que vão viver para uma casinha escondida na costa vicentina ou uma família lisboeta que retorna ao Alto Minho da infância para passar a reforma em paz ou sobre os artistas e freaks que escolhem voluntariamente o mesmo xisto da Lousã para viver sem que lhes fodam a cabeça, a aldeia já era um lugar paradisíaco, que não estava ao alcance de qualquer um e ao qual seria impossível aceder.
Talvez se se construísse um empreendimento de luxo na Lousã e uma cambada variegada de ex-administradores de empresas, ex-ministros e outros ex com caminho livre para uma reforma de uma vida inteira de chuchice fossem para lá morar em casas de milenas de eurecos, talvez aí a aldeia da menina já valesse a pena. Pelo menos, o pai dela teria pessoas para quem trabalhar. Porque, para construir o empreendimento, os campos iam-lhe ao ar, é claro.