"A Paixão de Cristo"
finalmente, e a pedido de muitas famílias...
Ontem vi o filme. E, como objecto cinematográfico, tem coisas de muito mau gosto. A gota de chuva digitalizada, as cenas em "ralenti", a utilização do filme como instrumento de doutrina e de moralização com os flashbacks. Tudo isto diminui o valor do objecto cinematográfico e o da realização (que é, antes de mais e principalmente, concepção).
No entanto, parece-me um filme essencialíssimo. Gibson (que consegue aqui passar definitivamente à categoria de "realizador" na consciência colectiva) falha e cai no mau gosto precisamente quando pretende fazer com que não se perca a dimensão moral, porque o filme existe - esse é o plano em que sobrevive, o que o justifica na sua essência, o que revela a sua urgência enquanto narrativa - enquanto documento não de Cristo enquanto Deus, não de Cristo enquanto homem, mas sim de Cristo enquanto corpo. "A Paixão de Cristo" mostra-nos o corpo de Cristo e, por isso, é talvez o passo definitivo na tendência que a história de 2000 anos tomou desde o século passado, a de humanização da figura. Ora, o humano tem, em si mesmo, várias dimensões. A dúvida de Scorsese, a juventude de Jewison, tudo isso foi renovador, tudo isso foi um passo em frente. Gibson leva o Cristo-homem até ao ponto onde o Verbo não pode ser mais Verbo: até à pele, ao sangue, à carne e ao osso. É nisto que se concentra, é nisto que renova. Nunca a história de Cristo chegou a este ponto, nunca mais será Cristo tão pouco emanação.
Com todas as escapadelas místicas, com todas as câmaras lentas de mau gosto, "A Paixão de Cristo" explora o sentido das palavras na história universalmente conhecida da Paixão, história que, quando encenada nas aldeias por alturas da Páscoa, tem as paragens pontuadas com narrações breves do clérigo que descrevem o episódio. "Aqui Jesus foi chicoteado, pontapeado pelos soldados romanos" ou "coroado com uma coroa de espinhos", por exemplo. Nunca ninguém tinha tido a coragem de mostrar isto, a crueldade que sempre existiu nesta história e que as palavras, pela sua capacidade simbólica, escondiam. Para o bem e para o mal, e com todos os seus defeitos, Gibson foi o primeiro. Essencial ver, essencial.
Ontem vi o filme. E, como objecto cinematográfico, tem coisas de muito mau gosto. A gota de chuva digitalizada, as cenas em "ralenti", a utilização do filme como instrumento de doutrina e de moralização com os flashbacks. Tudo isto diminui o valor do objecto cinematográfico e o da realização (que é, antes de mais e principalmente, concepção).
No entanto, parece-me um filme essencialíssimo. Gibson (que consegue aqui passar definitivamente à categoria de "realizador" na consciência colectiva) falha e cai no mau gosto precisamente quando pretende fazer com que não se perca a dimensão moral, porque o filme existe - esse é o plano em que sobrevive, o que o justifica na sua essência, o que revela a sua urgência enquanto narrativa - enquanto documento não de Cristo enquanto Deus, não de Cristo enquanto homem, mas sim de Cristo enquanto corpo. "A Paixão de Cristo" mostra-nos o corpo de Cristo e, por isso, é talvez o passo definitivo na tendência que a história de 2000 anos tomou desde o século passado, a de humanização da figura. Ora, o humano tem, em si mesmo, várias dimensões. A dúvida de Scorsese, a juventude de Jewison, tudo isso foi renovador, tudo isso foi um passo em frente. Gibson leva o Cristo-homem até ao ponto onde o Verbo não pode ser mais Verbo: até à pele, ao sangue, à carne e ao osso. É nisto que se concentra, é nisto que renova. Nunca a história de Cristo chegou a este ponto, nunca mais será Cristo tão pouco emanação.
Com todas as escapadelas místicas, com todas as câmaras lentas de mau gosto, "A Paixão de Cristo" explora o sentido das palavras na história universalmente conhecida da Paixão, história que, quando encenada nas aldeias por alturas da Páscoa, tem as paragens pontuadas com narrações breves do clérigo que descrevem o episódio. "Aqui Jesus foi chicoteado, pontapeado pelos soldados romanos" ou "coroado com uma coroa de espinhos", por exemplo. Nunca ninguém tinha tido a coragem de mostrar isto, a crueldade que sempre existiu nesta história e que as palavras, pela sua capacidade simbólica, escondiam. Para o bem e para o mal, e com todos os seus defeitos, Gibson foi o primeiro. Essencial ver, essencial.
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