o professor de marcelo
No Público de quinta-feira, Eduardo Prado Coelho diz no primeiro parágrafo da sua crónica, referindo-se ao regresso de Marcelo Rebelo de Sousa à televisão, que ainda lhe hão-de explicar quais os motivos que levam a que uns sejam professores e outros, que também o são, não o sejam.
Importa mesmo reflectir sobre o que leva a que toda a gente se tenha habituado a chamar professor a Marcelo. É nessa reflexão que Prado Coelho falha, porque há mais no fenómeno do que a simples imposição do hábito pela televisão a que ele alude. Graças ao óbvio à-vontade de conversa, à boa aparência e à falta de relutância em fazer de pormenores da sua vida pequenas anedotas públicas (o número de livros que lê, o gosto pelas actividades desportivas, os sonos abreviados), Marcelo conseguiu criar uma personagem pública, que corresponde sem tirar nem pôr à figura do Professor, a presença tutelar e afável que a comunidade aceita para que lhe guie o pensamento. Ou seja, Marcelo é o professor, não simplesmente porque assim era chamado, mas porque foi naturalmente aceite enquanto tal pelos espectadores. Não deixa por isso de ser curioso que, nos seus tempos na Tvi, ele falasse na noite de Domingo, mesmo antes da semana nova começar, e um pouco em jeito de Homilia. Marcelo falava do país ao país, como o padre ao seu rebanho, dizendo o que estava mal e o que estava bem, ensinando o que dizer, o que pensar, o que ler, o que ver, como opinar.
É também por isso que Prado Coelho se engana quando, mais à frente na mesma crónica, indica como necessidade para o novo modelo de entrevista a Marcelo, na Rtp, que este se limite e que Ana Sousa Dias, a interlocutora, se afirme. Engana-se porque uma das condições do “teatro Marcelo” da Tvi era a mediocridade do interlocutor, que, como encarnava o espectador, apenas se podia permitir ligeiros comentários que mais não eram do que confissões de ignorância e de humildade perante a sapiência e argúcia do mestre. A necessidade que Prado Coelho revela não é partilhada pelo espectador que Marcelo teve até agora, pois esse quer apenas uma sumidade que desça ao seu nível para lhe explicar as coisas; ou seja, é uma necessidade de um espectador com os padrões de exigência de Prado Coelho. Mas não foi ao nível intelectual deste que o fenómeno Marcelo foi criado. Portanto, Marcelo, enquanto aquilo que foi, já está morto, porque a Rtp quer mudar, sem deixar de emular, o modelo anterior, mas não percebe que Marcelo não funciona quando posto a um nível de igualdade com outra pessoa, pois isso não é ser “o Professor”. Por outro lado, Ana Sousa Dias tem a entrevista no sangue e é uma especialista em deixar o entrevistado revelar-se, o que não resulta com Marcelo, pois ele não precisa que lhe digam para se revelar. Ou seja, este modelo é como ter uma pessoa que não deixa a outra falar porque lhe está sempre a pedir para falar, o que, convenhamos, não é bom.
Importa mesmo reflectir sobre o que leva a que toda a gente se tenha habituado a chamar professor a Marcelo. É nessa reflexão que Prado Coelho falha, porque há mais no fenómeno do que a simples imposição do hábito pela televisão a que ele alude. Graças ao óbvio à-vontade de conversa, à boa aparência e à falta de relutância em fazer de pormenores da sua vida pequenas anedotas públicas (o número de livros que lê, o gosto pelas actividades desportivas, os sonos abreviados), Marcelo conseguiu criar uma personagem pública, que corresponde sem tirar nem pôr à figura do Professor, a presença tutelar e afável que a comunidade aceita para que lhe guie o pensamento. Ou seja, Marcelo é o professor, não simplesmente porque assim era chamado, mas porque foi naturalmente aceite enquanto tal pelos espectadores. Não deixa por isso de ser curioso que, nos seus tempos na Tvi, ele falasse na noite de Domingo, mesmo antes da semana nova começar, e um pouco em jeito de Homilia. Marcelo falava do país ao país, como o padre ao seu rebanho, dizendo o que estava mal e o que estava bem, ensinando o que dizer, o que pensar, o que ler, o que ver, como opinar.
É também por isso que Prado Coelho se engana quando, mais à frente na mesma crónica, indica como necessidade para o novo modelo de entrevista a Marcelo, na Rtp, que este se limite e que Ana Sousa Dias, a interlocutora, se afirme. Engana-se porque uma das condições do “teatro Marcelo” da Tvi era a mediocridade do interlocutor, que, como encarnava o espectador, apenas se podia permitir ligeiros comentários que mais não eram do que confissões de ignorância e de humildade perante a sapiência e argúcia do mestre. A necessidade que Prado Coelho revela não é partilhada pelo espectador que Marcelo teve até agora, pois esse quer apenas uma sumidade que desça ao seu nível para lhe explicar as coisas; ou seja, é uma necessidade de um espectador com os padrões de exigência de Prado Coelho. Mas não foi ao nível intelectual deste que o fenómeno Marcelo foi criado. Portanto, Marcelo, enquanto aquilo que foi, já está morto, porque a Rtp quer mudar, sem deixar de emular, o modelo anterior, mas não percebe que Marcelo não funciona quando posto a um nível de igualdade com outra pessoa, pois isso não é ser “o Professor”. Por outro lado, Ana Sousa Dias tem a entrevista no sangue e é uma especialista em deixar o entrevistado revelar-se, o que não resulta com Marcelo, pois ele não precisa que lhe digam para se revelar. Ou seja, este modelo é como ter uma pessoa que não deixa a outra falar porque lhe está sempre a pedir para falar, o que, convenhamos, não é bom.
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