santidade
A propósito desta observação do Abrupto, cabe citar os parágrafos finais do "Che" de Pierre Kalfon:
Trinta anos foi o tempo que demorou a instalar-se na Bolívia, sobretudo na região de Santa Cruz e Vallegrande, uma espécie de culto, de um novo santo que não figura no calendário da Igreja - Santo Ernesto de La Higuera. O movimento surgiu logo após a morte do «guerrilheiro heróico». Reza a tradição que aqueles que morreram de morte trágica têm o poder de realizar os desejos e fazer milagres.
(...) Na montanha árida das cercanias do Chaco boliviano, as camponesas invocam Santo Ernesto para as ajudar a encontrar uma cabra perdida ou para fazerem uma viagem sem incidentes até à aldeia vizinha. Pouco importa o local exacto onde estão as ossadas. No hospital de Vallegrande, onde o morto esteve exposto ao olhar fascinado dos habitantes e dos fotógrafos, com o corpo crivado de tantas balas quantas as flechas no corpo de S. Sebastião, a lavandaria tornou-se uma espécie de gruta de Lurdes, onde, todos os anos, a 8 de Outubro, chegam, numa procissão pagã, jovens de todos os pontos do país, para uma romería de um género inédito. As inscrições revolucionárias nas paredes provêm de uma veneração análoga à dos ex-votos. «Che, morreste por nós», «Che, serás a nossa estrela», «Che, tu fazes parte daqueles que não morrem nunca»...
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