a feira do livro (para o extratexto)
Em vinte e cinco anos, as minhas Feiras do Livro não passaram por Lisboa ou pelo Porto, mas por Viana do Castelo e por Coimbra. Pela de Viana do Castelo, porque foi a primeira que conheci e onde ia em noites de Verão, levado pelos pais para desviar a rotina das férias em Vila Praia de Âncora. Era pequena, calma, simpática e mágica – talvez porque a vejo através da névoa da infância, enfim... A de Coimbra, porque foi a primeira onde entreguei um (terrível) original a um editor, porque foi aquela de que eu já vi mais edições, aquela de que realmente posso falar. Talvez o faça noutra altura. O mais importante, no entanto, talvez seja o facto de que raramente (e já lá vão oito anos) encontrei preços que realmente me satisfizessem na Feira – parece que para isso está a Festa do Livro, em Novembro, que só vende fins de edição, mas que, ao longo dos anos, demonstrou ter um catálogo algo limitado. Na sua congénere maior de Maio, só este ano é que vi secções de livro manuseado nas bancas a preços convidativos. Esse é, afinal, um critério fundamental para quem ganha pouco (Coimbra é terra de estudantes: o dinheiro não abunda), mas não quer abdicar da posse e propriedade de um livro. O livro será sempre, afinal, um produto, cuja dimensão de promessa de conhecimento ou entretenimento coexistirá sempre com a de bem objectivo, fabricado, e, como tal, oneroso. Espero que a perspectiva do livro electrónico e dos novos leitores digitais ajude a superar isso.
Depois deste percurso e com a curiosidade espicaçada por anos e anos de comunicação social a elevar a Feira do Livro de Lisboa a algo próximo de uma maravilhosa iluminação do espírito, aproveitei as minhas viagens recentes à capital para finalmente prestar uma visita ao Parque Eduardo VII.
As minhas críticas a preços (demasiado) altos mantém-se. Não é a maior concentração de vendedores que faz actuar as leis da oferta e da procura no sentido de uma diminuição destes – não entendo porque é que não há edições baratas, mas sérias e com bom aspecto. Será que os editores não têm cheiro para um nicho de mercado representado nos milhares de licenciados (e mestrados...) desempregados ou que recebem salários pouco significativos? E porque não há livros de bolso satisfatórios, só as edições da Europa-América, que têm um número imenso de títulos, mas com qualidade (muito) variável? Por isso, não espanta que as minhas secções preferidas tenham sido a dos alfarrabistas, com os livros a preços bem razoáveis (e, às vezes, coisas que procurava há anos) e as bancas com promoções, onde também encontrei algumas pechinchas. É que, a sério, se não for assim não vale a pena. Um tipo que visite um sítio onde há livros tem de que se rir da possibilidade de encontrar um inédito de Camões a 3€, mas não se pode esquecer que, se é uma possibilidade, é porque é possível.
Pareceu-me também que o grande problema da Feira do Livro de Lisboa é o espaço. Podem dizer que é o Parque Eduardo VII a sua pousada natural, mas eu não acho natural uma Feira do Livro em que para se passear pelas bancas é necessário subir e descer uma ladeira (com o acrescento do peso dos livros que se vão comprando). Aliás, nunca tal vi em sítio algum. Se para mim foi difícil, imagino para uma pessoa de idade ou com mobilidade limitada. A verdade é que a Feira não é, digamos, ergonómica. Não está feita para se estar, é difícil de usufruir. Por outro lado, está demasiado exposta ao clima: no primeiro dia em que fui, o calor dentro da tenda dos pequenos editores era de tal modo que não sei se terei aguentado lá mais do que dez minutos.
Sugestão: e se a Feira do Livro pudesse ser algo mais próximo do que é a Festa da Música? Permanecendo como grande acontecimento comercial, teria um programa de conferências/conversas com escritores, leituras, apresentações teatrais, eventos maiores e menores consoante o peso da editora e do autor a decorrer num qualquer espaço paralelo e próximo. Considero que é necessário fazer com que a Feira seja um lugar onde apetece ir, que solicita a presença – que faça os livros viver durante algumas semanas do ano. É que, como já disse noutra altura, a palavra impressa é palavra morta – sempre à espera de uma voz que a ressuscite, pode ser, mas morta. Sem compreender isto, as Feiras do Livro não deixarão de ser mercados de cadáveres.
Depois deste percurso e com a curiosidade espicaçada por anos e anos de comunicação social a elevar a Feira do Livro de Lisboa a algo próximo de uma maravilhosa iluminação do espírito, aproveitei as minhas viagens recentes à capital para finalmente prestar uma visita ao Parque Eduardo VII.
As minhas críticas a preços (demasiado) altos mantém-se. Não é a maior concentração de vendedores que faz actuar as leis da oferta e da procura no sentido de uma diminuição destes – não entendo porque é que não há edições baratas, mas sérias e com bom aspecto. Será que os editores não têm cheiro para um nicho de mercado representado nos milhares de licenciados (e mestrados...) desempregados ou que recebem salários pouco significativos? E porque não há livros de bolso satisfatórios, só as edições da Europa-América, que têm um número imenso de títulos, mas com qualidade (muito) variável? Por isso, não espanta que as minhas secções preferidas tenham sido a dos alfarrabistas, com os livros a preços bem razoáveis (e, às vezes, coisas que procurava há anos) e as bancas com promoções, onde também encontrei algumas pechinchas. É que, a sério, se não for assim não vale a pena. Um tipo que visite um sítio onde há livros tem de que se rir da possibilidade de encontrar um inédito de Camões a 3€, mas não se pode esquecer que, se é uma possibilidade, é porque é possível.
Pareceu-me também que o grande problema da Feira do Livro de Lisboa é o espaço. Podem dizer que é o Parque Eduardo VII a sua pousada natural, mas eu não acho natural uma Feira do Livro em que para se passear pelas bancas é necessário subir e descer uma ladeira (com o acrescento do peso dos livros que se vão comprando). Aliás, nunca tal vi em sítio algum. Se para mim foi difícil, imagino para uma pessoa de idade ou com mobilidade limitada. A verdade é que a Feira não é, digamos, ergonómica. Não está feita para se estar, é difícil de usufruir. Por outro lado, está demasiado exposta ao clima: no primeiro dia em que fui, o calor dentro da tenda dos pequenos editores era de tal modo que não sei se terei aguentado lá mais do que dez minutos.
Sugestão: e se a Feira do Livro pudesse ser algo mais próximo do que é a Festa da Música? Permanecendo como grande acontecimento comercial, teria um programa de conferências/conversas com escritores, leituras, apresentações teatrais, eventos maiores e menores consoante o peso da editora e do autor a decorrer num qualquer espaço paralelo e próximo. Considero que é necessário fazer com que a Feira seja um lugar onde apetece ir, que solicita a presença – que faça os livros viver durante algumas semanas do ano. É que, como já disse noutra altura, a palavra impressa é palavra morta – sempre à espera de uma voz que a ressuscite, pode ser, mas morta. Sem compreender isto, as Feiras do Livro não deixarão de ser mercados de cadáveres.
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