os livros 4
Pergunto-me sobre a volta que isto vai dar a partir deste ano. Sim, meus amigos, porque isto vai dar uma volta. Não são só as pequenas editoras que, abundantes e unidas, terão poder reinvidicativo suficiente para fazer exigências e conquistar nichões de mercado. Não é só o engordamento da palavra "produto" na expressão "produto cultural" aplicada ao livro, que levará naturalmente a manobras de product placement - nada reveladoras, aliás, do conteúdo do livro em si mesmo, tal como não o é a actual falta delas. A volta que isto vai dar tem muito a ver com o iLiad, que já está à venda, e com o Sony Reader, que parece que vai ser ainda mais barato. Já cheira à guerra que vai começar nos próximos meses. Enquanto o neto de James Joyce se desunha para fazer render o espólio do avô antes que entre em domínio público, Jeff Jarvis anuncia que o livro tem de morrer para poder sobreviver. Claro, não ficou sem respostas, mas eu, que chego a pensar nos livros como promessas de algo bom em caixas, compreendo o que ele quer dizer (até o título... ou não respondi eu, a quem me perguntava o ano passado se estava nervoso com o lançamento da colectânea Jovens Escritores de que fazia parte, que "a palavra impressa é palavra morta"?...). O livro é, afinal, um património comum, mas é também um formato - e se esse património comum e a contribuição para a evolução do pensamento que ele promete se cumprissem satisfatoriamente num outro formato? Um que nos permitisse ler imediatamente traduções boas de obras clássicas sem ter que desembolsar uma maquia avultada por um calhamaço? Que nos permitisse pagar directamente ao autor a contribuição pela sua obra, anulando intermediários desnecessários. Que transformasse as editoras naquilo que elas tendem a deixar de ser - garantes de um certo padrão de interesse. Que nunca mais houvessem livros mal cosidos e que um uso esclarecido dos novos meios de comunicação nos esclarecesse quanto às nossas compras antes de adquirirmos más traduções ou cemitérios de gralhas (fóruns na Internet, que eu consulto sempre antes de fazer uma compra de valor mais avultado, são um bom exemplo). De resto, a batalha vai ser dura. Vai haver gigantes metidos ao barulho, vai haver muito sangue e, obviamente, não vai ser só sobre os livros.
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