o filme
Vi o "O Dia da Independência" na Sic. Lembro-me de tê-lo visto há anos, no cinema de Valença. É espantoso o modo como um simples filme de aventuras que aposta quase tudo nos efeitos especiais e que foi o exemplo mais representativo de uma série de filmes-catástrofe que se lhes seguiram ("Anaconda" e "O Cume de Dante" são alguns, mas também o mais recente "O Dia Depois De Amanhã") pode ser, apesar de tudo, um sinal dos tempos tão marcado. Anos 90, Ficheiros Secretos - "eles estão entre nós", dizia-se então (ah, que saudades daquelas sextas-feiras alienígenas, com um episódio de "O Terceiro Calhau a Contar do Sol" e, depois, dose dupla de Scully e Mulder), a inquietação milenarista (a importância de uma data - no filme, é a da assinatura da Declaração de Independência; na realidade, seria a passagem para o século XXI), a teoria de conspiração (no filme, nem o próprio presidente sabe da investigação sobre os ET's de Roswell). A isto, somava-se a ressaca pós-queda do Muro de Berlim: se já não havia União Soviética para ser inimigo, onde ir buscá-lo? Ao Iraque? Tentou-se, mas não deu: preso dentro do seu país- como estaria, anos mais tarde, preso dentro de uma toca -, Saddam nunca foi uma ameaça por aí além. Os Estados Unidos tinham de procurá-lo como inimigo, ao contrário da URSS, que podia procurar os EUA, e da Al-Qaeda de hoje em dia. Então, onde? Fora do planeta (extraterrestres) ou dentro do próprio (desastres naturais).
O filme também instaura uma linha "normal" de blockbusters: já não estamos no campo da Acção, que marcava a normalidade do grande filme ("O Exterminador Implacável 2", o primeiro filme a custar mais de 100 milhões de dólares, é o marco), e passamos para a Aventura, marcada por um certo tom cómico. Nota-se que se herdaram dois traços, curiosamente contraditórios, da linha anterior. Por um lado, há uma humanização das personagens, na continuidade do renovador "Die Hard" (os pés de Bruce Willis nesse filme merecem um estudo académico). Por outro lado, a desumanização é tal que se pode exterminar uma humanidade inteira sem que daí emerja um peso moral substancial. Mas, neste último ponto, talvez seja útil dizer que as mortes em "O Dia da Independência" são a causa, e não o efeito, da acção do herói - as vidas perdidas não são obstáculos à prossecução do objectivo maior (salvar quem fica). Já não se pode dizer o mesmo daqueles que se cruzam com um Exterminador com uma missão (única razão para a sua eliminação: "I'm a Terminator", dizia Schwarzenegger). É que, em "O Dia da Independência", os extraterrestres não são dignos de uma vida: a sua motivação para tomar o planeta e dizimar a humanidade nunca chega sequer a ser expressa pelos próprios. Eles são, em toda a acepção da palavra, máquinas de matar que, como tal, nunca chegam verdadeiramente a morrer, porque não são merecedores do dom "vida".
Claro, podemos sempre reflectir mais um pouco, como no porquê de serem um negro e um judeu a fazerem explodir a nave-mãe e no tom paternalista com que o resto do mundo é tratado em relação aos Estados Unidos. Mas este é um filme de banda desenhada. As respostas são óbvias.
O filme também instaura uma linha "normal" de blockbusters: já não estamos no campo da Acção, que marcava a normalidade do grande filme ("O Exterminador Implacável 2", o primeiro filme a custar mais de 100 milhões de dólares, é o marco), e passamos para a Aventura, marcada por um certo tom cómico. Nota-se que se herdaram dois traços, curiosamente contraditórios, da linha anterior. Por um lado, há uma humanização das personagens, na continuidade do renovador "Die Hard" (os pés de Bruce Willis nesse filme merecem um estudo académico). Por outro lado, a desumanização é tal que se pode exterminar uma humanidade inteira sem que daí emerja um peso moral substancial. Mas, neste último ponto, talvez seja útil dizer que as mortes em "O Dia da Independência" são a causa, e não o efeito, da acção do herói - as vidas perdidas não são obstáculos à prossecução do objectivo maior (salvar quem fica). Já não se pode dizer o mesmo daqueles que se cruzam com um Exterminador com uma missão (única razão para a sua eliminação: "I'm a Terminator", dizia Schwarzenegger). É que, em "O Dia da Independência", os extraterrestres não são dignos de uma vida: a sua motivação para tomar o planeta e dizimar a humanidade nunca chega sequer a ser expressa pelos próprios. Eles são, em toda a acepção da palavra, máquinas de matar que, como tal, nunca chegam verdadeiramente a morrer, porque não são merecedores do dom "vida".
Claro, podemos sempre reflectir mais um pouco, como no porquê de serem um negro e um judeu a fazerem explodir a nave-mãe e no tom paternalista com que o resto do mundo é tratado em relação aos Estados Unidos. Mas este é um filme de banda desenhada. As respostas são óbvias.
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