o encerramento dos Cinemas Avenida
Posso estar a cometer alguma injustiça (para centenas de posts atrasados, não há atenção que resista), mas fiquei algo surpreendido por não ter ainda lido nada, nem em blogs, nem na imprensa, sobre o encerramento dos cinemas Avenida em Coimbra. Há já algumas semanas que, em vez de cartazes, se encontra afixada uma simples nota que afirma que os cinemas estão encerrados até novas ordens da direcção de Lisboa. Ora, uma vez que, há uma semana, quando ainda estava em Maputo, essa mesma direcção me ligou a perguntar se queria cancelar o meu cartão King Kard devido ao encerramento definitivo das salas, presumo que não haja muitos desenvolvimentos a dar à história.
É triste. A tentativa de dar um impulso renovador aos Millenium, apostando numa programação alternativa à da "invasora" Lusomundo (que, com a abertura dos centros comerciais Dolce Vita e Fórum, conseguiu, em menos de um ano, abrir vinte salas em Coimbra), não deu resultado. Pelo que pude observar, os cinemas ainda tiveram, no ano passado, uma festa do cinema francês muito concorrida. Depois, entraram em obras e, parece-me, foi precisamente nesse período que perderam dinâmica relativamente aos novos centros comerciais. Problemas de programação (que não devem ser alheios ao descalabro do Freeport de Alcochete e à insolvência da Medeia Filmes) impediram que os filmes em exibição fossem publicitados como devia e que se fosse de encontro às expectativas do público de Coimbra.
Não podemos prendermo-nos ao passado, mas não posso deixar de pensar que, ao longo da vida, foi nos Cinemas Avenida onde vi mais filmes exibidos. Lembro-me das sessões especiais na sala 1, no piso 7, de onde se saía no Inverno para uma Antero de Quental imersa em nevoeiro de film-noir; lembro-me de chorar e de rir; lembro-me do primeiro e do último filmes que neles vi; lembro-me de ouvir dizer que quem decidia o sucesso ou não de uma sessão era a malta da sessão especial e de sentir algum orgulho nisso; lembro-me de ter havido dois genéricos da Europa Cinemas; lembro-me dos anúncios da Nescafé e do Red Bull; lembro-me das discussões a seguir aos filmes enquanto subia a Sá da Bandeira a pé, discussões que continuavam no Tropical entre tremoços, cervejas, moscatéis e ginger ales; lembro-me de ver o Bringing Out The Dead do Scorsese antes de ir para férias e de comer um gelado com uns amigos que tinham preferido ver o Boys Don't Cry; lembro-me das festas do cinema francês, da sala 1 cheia ao limite do insuportável para ver Wong Kar Wai; lembro-me dos filmes que bisei ("The Truman Show", "American Beauty", "Kill Bill"); lembro-me da retrospectiva Lars Von Trier que me levou a escrever sobre Dogma 95 em História e Estética do Cinema; lembro-me de ver a imagem a ser maior do que o ecrã no "Moonfleet" de Lang; lembro-me do Rasganço dar que falar a uma cidade durante um mês.
Os Cinemas Avenida de Coimbra são, para o bem e para o mal, os meus cinemas. E agora fecharam.
É triste. A tentativa de dar um impulso renovador aos Millenium, apostando numa programação alternativa à da "invasora" Lusomundo (que, com a abertura dos centros comerciais Dolce Vita e Fórum, conseguiu, em menos de um ano, abrir vinte salas em Coimbra), não deu resultado. Pelo que pude observar, os cinemas ainda tiveram, no ano passado, uma festa do cinema francês muito concorrida. Depois, entraram em obras e, parece-me, foi precisamente nesse período que perderam dinâmica relativamente aos novos centros comerciais. Problemas de programação (que não devem ser alheios ao descalabro do Freeport de Alcochete e à insolvência da Medeia Filmes) impediram que os filmes em exibição fossem publicitados como devia e que se fosse de encontro às expectativas do público de Coimbra.
Não podemos prendermo-nos ao passado, mas não posso deixar de pensar que, ao longo da vida, foi nos Cinemas Avenida onde vi mais filmes exibidos. Lembro-me das sessões especiais na sala 1, no piso 7, de onde se saía no Inverno para uma Antero de Quental imersa em nevoeiro de film-noir; lembro-me de chorar e de rir; lembro-me do primeiro e do último filmes que neles vi; lembro-me de ouvir dizer que quem decidia o sucesso ou não de uma sessão era a malta da sessão especial e de sentir algum orgulho nisso; lembro-me de ter havido dois genéricos da Europa Cinemas; lembro-me dos anúncios da Nescafé e do Red Bull; lembro-me das discussões a seguir aos filmes enquanto subia a Sá da Bandeira a pé, discussões que continuavam no Tropical entre tremoços, cervejas, moscatéis e ginger ales; lembro-me de ver o Bringing Out The Dead do Scorsese antes de ir para férias e de comer um gelado com uns amigos que tinham preferido ver o Boys Don't Cry; lembro-me das festas do cinema francês, da sala 1 cheia ao limite do insuportável para ver Wong Kar Wai; lembro-me dos filmes que bisei ("The Truman Show", "American Beauty", "Kill Bill"); lembro-me da retrospectiva Lars Von Trier que me levou a escrever sobre Dogma 95 em História e Estética do Cinema; lembro-me de ver a imagem a ser maior do que o ecrã no "Moonfleet" de Lang; lembro-me do Rasganço dar que falar a uma cidade durante um mês.
Os Cinemas Avenida de Coimbra são, para o bem e para o mal, os meus cinemas. E agora fecharam.
2 Comentários:
Também os meus Jorge. Lembro-me também de um Pillow Book do Greenaway que, depois de esgotar para lá do suportável duas sessões especiais (na altura em que eram apenas uma vez por semana), surgiu na programação regular por uma semana e a encher na mesma quase todas as sessões (repeti a dose nessa altura).
Lembro um Era uma Vez no Oeste com duas directas em cima, dobrado/falado em italiano e onde eu ia fechando os olhos para rever apenas e só as cenas de que mais gosto no filme. Lembro o silêncio e a ópera do 2001 restaurado uma semana após o Leone.
Lembro as sessões da meia noite, sozinho ou quase no cinema, sabendo que o porteitro ali estava apenas para meu benefício.
Lembro-me do primeiro filme que lá vi sem quaisquer intervalos, o The Hudsucker Proxy, dos Cohen, numa dúvida constante até ao genérico final acerca da duração do dilme.
Lembro-me de pedir o bilhete para o filme sem especificar que era de estudante mas a não ser necessário, porque as senhoras da bilheteira já o sabiam antecipadamente. Da mesma forma, os porteiros não me pediam o cartão, porque também estavam informados.
Curiosamente não me lembro de qual foi o último filme que vi por lá. É pena, gostaria de o rever.
Pois, meu amigo, confesso que também só me lembro porque o vi há pouco tempo. Foi "Os Aristocratas". Quanto ao primeiro, confesso que fico indeciso entre o "Doidos por Mary" (que vi sozinho), "O Grande Lebowski" (que vi com o Henrique, o Pedro e uma rapariga de cujo nome agora não me lembro) e o "Para Além do Horizonte", sendo que depois achei muita piada ao facto de o director de fotografia deste ser português (é o Eduardo Serra).
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