os filmes do imago
Algumas curtas-metragens que se têm destacado na competição do IMAGO:
Cafard, de Paul Jacamon, Thomas Leonard e Guillaume Marques. Uma animação digital muito interessante, de laivos socio-psico-futuristas. Talvez a primeira vez em que a representação do ser humano em animação digital me surgiu perfeitamente enquadrada. A vontade de ser naturalista não superou a de ser expressivo.
Carnivore Reflux. Outra animação, em estilo mais clássico. Os poderosos do mundo juntam-se para um jantar carnívoro que termina em... vómito. O mais interessante é o modo como adopta o tom de uma história infantil, através de uma narração em verso. No entanto, a leitura política "adulta" impõe-se. Uma sátira muito divertida.
Morrer, de Diogo Camões. Uma curta-metragem portuguesa, manufacturada na Escola Superior de Teatro e Cinema. Um olhar próximo sobre o método da morte, ou melhor, sobre a preparação do luto a partir das macas de uma morgue. Apesar de não se livrar de alguns tiques (na minha opinião, teria feito sentido resistir à tentação de deixar a melancolia e o sentimento brotarem do meio do tom clínico), procura a documentação do que está para lá da aparência, e isso só lhe fica bem.
Ouch!, de Ken Wardrop. Relatos sobre circuncisões tardias. Para um homem, algo custoso de ver, o que só demonstra a sua eficácia. Muito simples, mas não deixa de ser um filme bem-disposto.
Pé na Terra, de João Vladimiro. Documentário feito no âmbito do Projecto Criatividade e Criação Artística, da Gulbenkian, no curso dado pelos Ateliers Varan. Retrata-se o cultivo de hortas ao pé de Olaias (estarei enganado na estação?, se assim for, perdoem-me), por baixo da linha do Metro. A revelação de um estilo de vida absolutamente rural no meio do subúrbio lisboeta é uma descoberta curiosa e, mais uma vez, a proximidade do olhar é espantosa. O cineasta conhece o seu lugar e não se coíbe de incluir um plano em que ele próprio dá lume ao sujeito que o acompanha. Com isto, ele afirma, honesto, mas nada inocente, que ele está ali, que a sua presença é influenciadora do que se vê e que, afinal, se tudo é verdade, também nada é verdade.
L'isle, de Chiara Malta. Começa por ser um documentário sobre o processo artístico de um animador. Depois, a animação toma conta do documentário, e é já o animador que documenta o processo de trabalho da documentarista. No final, nas cores saturadas de um Super 8 (formato despojado, como o documentário, mas de imagem estilizada, como a animação), faz -se uma espécie de retrato conjunto e percebe-se que, afinal, tudo é uma história de amor.
McLaren's Negatives, de Marie-Josée Saint-Pierre. Revisita a obra do animador escocês-canadiano Norman McLaren através do tratamento visual de imagens de arquivo do próprio. Pode ser que o interesse venha mais do retratado do que do retrato em si mesmo, mas, se assim for, tem sempre o mérito de perceber onde estava o interesse.
The Mechanicals, de Leon Ford. Numa abordagem próxima de "Delicatessen" ou da sequência final de "ABC do Amor", faz-se uma fábula cómica nada inofensiva, onde se proclama a necessidade absoluta de o conforto de uns ser o trabalho de outros. Muito bom.
Hibernation, John Williams. Uma visita à psique infantil, a puxar para a lágrima, mas sem ser gratuito. Depois da morte de um amigo, duas crianças vestem-se de ursos e tentam encontrar uma maneira de fazerem os mortos reviver através de choques eléctricos. Triste e encantador.
Le Fil des Coups, de Benoît Tételin. Drama psicológico sobre uma operadora de linhas de ajuda a menores, em que as esferas do físico e do espiritual se juntam: a relação filial surge marcada por uma inevitável violência, o sexo pela alienação, a ajuda pelo distanciamento.
Medianeras, de Gustavo Taretto. Numa Buenos Aires literalmente atafulhada de prédios, uma história de amor improvável entre uma decoradora de coração partido e um web-designer tímido acontece. Também infuenciado por Woody Allen, é um dos filmes mais divertidos que passou pelo festival.
Bawke, de Hisham Zaman. Alguns temas têm marcado as competições do IMAGO deste ano. No que toca às relações entre pais e filhos, este foi sem dúvida um dos mais tocantes e comovedores. De laivos neo-realistas e algo melodramático (só se lhe pode apontar isso), é, em suma, um filme sobre um dilema: salvar um filho pode querer dizer renunciar ao filho?
Terra Incognita, de Peter Volkart. Juntamente com Rabbit, é talvez o mais impressionante e mágico filme que passou pelo festival. Um manancial de referências literárias e cinematográficas passam por aqui, mas o filme é bem mais do que uma mera colagem e consegue criar um universo de espantosa coerência, apesar do seu tom de fantasia científica.
Rabbit, de Run Wrake.O mais fino espécime de humor negro no festival. Numa abordagem inconoclasta que, por coincidência ou não, lembra o blog Monkey Fluids, cromos dos anos 50 são transformados numa história de tentação próxima da da galinha dos ovos de ouro. Espantoso.
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