o riso
Uma vez, vi uma curta-metragem, belga ou suiça, de escola (muito melhor do que a generalidade de curtas-metragens feitas em Portugal). Não era exactamente uma comédia e, no entanto, foi um dos filmes mais engraçados que já vi. Num autocarro cheio de gente soturna a fazer a viagem matinal para o emprego, um riso inexplicável rompe. As pessoas procuram, espantadas, a origem do riso e encontram um homem de meia-idade, cabelo grisalho, casaco escuro. Está sozinho e é claro que se limitou a deixar que o riso rompesse, sem mais, porque se lembrou de alguma coisa engraçada. As pessoas voltam a pensar em si próprias, mas o homem não pára de rir: cada vez mais, cada vez mais, sem conseguir parar.
De repente, alguém cede e um segundo riso começa a ouvir-se. Duas pessoas riem-se incontrolavelmente no autocarro. Os outros passageiros ficam intrigados, começam a não ter escapatória. De um momento para o outro, o riso entra em bola de neve. Toda a gente se ri. As gargalhadas amainam de vez em quando, parece que vão parar - e recomeçam, porque ninguém consegue resistir. Ninguém.
O autocarro pára num apeadeiro. O homem de meia-idade sai. O autocarro vai-se embora, espalhando o riso pelo caminho. O homem de meia-idade sorri. Um novo autocarro pára. Ele entra, senta-se e, depois de alguns segundos, começa a rir-se novamente. O filme acaba.
A andar no Metro de manhã, com o rosto ainda contaminado pelo sono, a olhar para outros rostos contaminados pelo sono, lembro-me cada vez mais neste paladino do riso. Talvez não fosse difícil, penso, talvez não fosse difícil.
De repente, alguém cede e um segundo riso começa a ouvir-se. Duas pessoas riem-se incontrolavelmente no autocarro. Os outros passageiros ficam intrigados, começam a não ter escapatória. De um momento para o outro, o riso entra em bola de neve. Toda a gente se ri. As gargalhadas amainam de vez em quando, parece que vão parar - e recomeçam, porque ninguém consegue resistir. Ninguém.
O autocarro pára num apeadeiro. O homem de meia-idade sai. O autocarro vai-se embora, espalhando o riso pelo caminho. O homem de meia-idade sorri. Um novo autocarro pára. Ele entra, senta-se e, depois de alguns segundos, começa a rir-se novamente. O filme acaba.
A andar no Metro de manhã, com o rosto ainda contaminado pelo sono, a olhar para outros rostos contaminados pelo sono, lembro-me cada vez mais neste paladino do riso. Talvez não fosse difícil, penso, talvez não fosse difícil.
1 Comentários:
Engraçado, isso lembra-me um sketch do "Gato Fedorento" com a frase "parece q vais tirar o pai da forca" e uma viagem no metro de Paris que, ao ouvir um choro continuo de uma criança, me lembrei da frase, do sketch, e imitei o homem de meia idade ao rir com nada...
É optimo esse tipo de crises e de contágio ;)
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