o dia
O facto de, há 33 anos, uma revolução sem sangue ter acabado com uma ditadura de quase 50 é admirável. O facto de, desde então, se ter deixado que os indivíduos se acomodassem na passividade e na indiferença perante a desigualdade é execrável. Há muitas coisas a correrem mal. Tivemos nas mãos a promessa de sermos todos irmãos, mas não conseguimos resistir a invejas antigas, a mesquinhezes partidárias - em suma, à nossa particular expressão da tendência humana para lixar tudo. Hoje, entre o trabalho, o estar numa casa de que só se vai ser pleno proprietário daqui a 40 anos e o fim de semana no centro comercial, é um Portugal inteiro que anda adormecido, indeciso entre aquilo que deseja e a culpa de não o merecer. O dia de hoje vale pela esperança de sonho. Talvez um dia toda a gente acorde e perceba que estamos nisto juntos, desde o Belmiro de Azevedo até ao tipo que dorme enrolado num cobertor à frente da Caixa Geral de Depósitos da Graça, e que é em todos que temos de pensar quando decidimos alguma coisa, e que é a todos e a nós mesmos que devemos o importarmo-nos com aquilo que é público. Eu mantenho-me céptico. Por enquanto, o 25 de Abril é um pretexto para as televisões fazerem programação estéril sem que percebam que o sonho que o motivou ainda não se cumpriu - que ainda o estamos a fazer. Lembro O'Neill e a "Avenida da Liberdade":
Subamos e desçamos a Avenida,Enquanto o "Só Visto" vai debitando "sound bytes" na televisão aqui ao lado, neste 25 de Abril eu pergunto-me quanto mais tempo andaremos a subir e descer a Avenida.
enquanto esperamos por uma outra
(ou pela outra) vida.
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