a oficina
De sexta-feira a hoje, orientei 16 crianças numa oficina de curtas-metragens com telemóveis. Organizadas em grupos, escreveram, filmaram e montaram quatro filmes, com estilos que vão do terror avant-garde à comédia romântica. Foi em Monção, a minha terra natal, mesmo aqui no norte, ao ladinho de Espanha. Meus amigos, foi das coisas que me deu mais gozo fazer. Eu cresci numa vila sem cinema, sem auditório e com uma biblioteca da Gulbenkian de poucas estantes. Detesto o paleio do estilo "no meu tempo divertíamo-nos e não tínhamos nada". O caraças. No meu tempo, chateávamo-nos e víamos televisão. Não tínhamos ninguém que nos viesse dizer "podes fazer isto", "isto faz-se assim" ou "está bom, continua" ou "vê lá se assim não fica melhor" e não tínhamos sítio onde isso pudesse ser dito. Agora há uma biblioteca com DVD's, CD's e computadores. Agora há uma escola profissional com um auditório bem porreiro, que descobri na sexta-feira com a exibição do excelente Waiting For Europe. Podia-se resmungar "estes miúdos agora não sabem a sorte que têm". Pois ainda bem que não sabem. Para se saberem sortes, já bastam as más. Ao passar-lhes um bocadinho do pouco que aprendi, do que gostaria de ter feito quando tinha a idade deles, eu ganho mais um pouco sobre o lado negro de mim. As vezes guardadas de ouvir "aqui não vale a pena", "aqui os miúdos não querem saber disso" - quando vejo 16 putos a escreverem guiões em meia hora e a sacarem da cartola cavaleiros, diabos, princesas, amantes, murros, ciúmes e risos, a terem ideias para filmagens que envolvem filtros e caracterizações e sonoplastias, quando isso acontece dou bofetadas bem fortes naquelas vezes. Houve quem dissesse "quem diria que eles conseguiam". Espero bem que o digam tantas vezes até deixarem de o dizer. A malta esteve de parabéns - porra, e eu também.
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