a senhora da estação
Hoje na mercearia chamaram-me "jovem", ou seja, o homem na caixa olhou para as minhas compras e perguntou "jovem, é isso?". Sempre que oiço esse tratamento, lembro-me de uma mulher que tinha uma banca dentro da estação rodoviária de Coimbra (horroroso lugar - muitas tarde passei lá, tantas que agora só ando de comboio). Vendia queijadas, garrafas de água e rebuçados, vocês estão a ver o estilo, cabelo longo pintado de preto, pele morena, brincos dourados, baton nos lábios e óculos com aquelas lentes escurecidas. Tratava, ou tratou durante certa altura, todos os homens por "jovem", dos 7 aos 77. Tinha piada, a senhora. Ao chamar "jovem" a todos, não estava verdadeiramente a chamar nada a ninguém, pois, se ninguém é velho, também ninguém pode ser jovem - mas, ao fazê-lo, ela própria tornava-se alguém que chamava "jovem" aos outros e, como tal, jovem era ela também.
2 Comentários:
eu aprendi que se chamar menina a senhoras com mais de 40 anos, faço-as ganhar o dia!
Eu, que sou de Coimbra mas estudei fora, vi a dita senhora da estação deitar abaixo sem querer todo o estaminé de venda e tornar a pôr os bolos de Ançã e as bolas de Berlim de novo em cima da banquinha. Continuou a vendê-los aos incautos acabados de chegar que não tinham assistido à cena. Jovem ou não também comecei a andar mais de comboio daí em diante
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