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Plano Marshall para áfrica

O Público de ontem refere as três partes do "Plano Marshall" para África congeminado pelo Governo de Blair: perdoar a dívida; aumentar a ajuda ao desenvolvimento; abrir os mercados às exportações africanas ao mesmo tempo que os EUA, a UE e o Japão reduzem drasticamente os subsídios agrícolas.
Liguemos isto à insistência de Blair na última reunião do Conselho da UE para que se reduzissem os fundos da PAC (não ponho em causa agora a justeza ou a rectidão de tal medida) e ficamos com a utopia privada do primeiro-ministro inglês: um mundo em que a África agrícola produz e o Ocidente industrial transforma. Apetece perguntar quem vai consumir e a que preço. Uma globalização ainda mais desigual disfarçada de boa vontade? Pior: um neocolonialismo.

13 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Assim estamos muito melhor, não é?

Assim, enquanto uma vaca francesa recebe mais dinheiro por dia em subsídios comunitários do que um qualquer habitante do Sudão, Etiópia ou Senegal, onde há milhões de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia, na miséria total...

Em grande parte porque não conseguem colocar os seus produtos agrícolas nos mercados ocidentais, porque é impossível competir com os produtos hiper-subsidiados dos agricultores europeus...

Mas terminar com o absurdo da "PAC" e abrir os mercados ocidentais aos produtos agrícolas africanos seria uma forma de "neocolonialismo", por isso é melhor ficar tudo como está, para não ferir susceptibilidades supostamente "libertárias" e "esquerdistas" e hipócritas, digo eu.

12:26:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Eu não disse que devia ficar tudo como está, nem que a PAC não deve ser reformada. Critico, sim, as intenções de Blair, não tão límpidas como o anunciado. Não gosto de líderes políticos que tomam os constituintes como parvos e lhes espetam com argumentações populistas para poderem persistir no seu caminho como se nada fosse. Blair não quer um mercado em que os produtos africanos possam ser livremente vendidos na Europa em concorrência com os americanos; Blair quer é que a Europa deixe de subsidiar a agricultura e se concentre no desenvolvimento industrial e científico, de modo a que tenha o monopólio da transformação. A agricultura africana será subsidiada, sim, mas para os produtos serem transformados onde, se África não tem estuturas industriais e a indústria não é visada neste plano? A produção mundial vai ficar dividida numa África agrícola e num Ocidente industrializado. Onde é que achas que o poder de compra vai ser maior? Quem é que vai vender a matéria-prima e comprar o bem final por dez vezes o valor daquela? O plano Blair vai dividir o mundo e não é, em si mesmo, garantia de nada.

3:06:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Mais do que de um "plano Blair", trata-se sobretudo de um "plano Brown", pois a iniciativa partiu, precisamente, do actual ministro das finanças britânico, Gordon Brown, que deverá suceder a Tony Blair, muito brevemente, na liderança política do Labour e, provavelmente, da própria Grã-Bretanha...

De resto, o mundo já está dividido, há muito tempo, entre os países ricos e desenvolvidos e os países pobres e subdesenvolvidos, através de um fosso cada vez mais fundo e insuperável...

Se os países ricos e desenvolvidos, através desta iniciativa de Blair e Brown, pretendem pelo menos tornar os países pobres e subdesenvolvidos numa espécie de centro agrícola fulcral do mundo, origem da maioria das matérias-primas, já é um passo positivo...

A alternativa que se coloca é tornar os países ricos e desenvolvidos no centro de tudo, quer da produção, quer da transformação, quer da comercialização, marginalizando os países pobres e subdesenvolvidos a um ponto verdadeiramente explosivo, podendo fomentar e provocar graves conflitos sociais, migrações massivas e focos de terrorismo internacional...

Ora, incluir os países pobres e subdesenvolvidos na economia mundial, ainda que apenas no sector da produção, é uma iniciativa que não pode ser criticada, apenas enaltecida...

Não é suficiente? Não. Mas é um passo positivo. Há que ser pragmático. Prefiro um pequeno passo positivo do que nenhum passo, ou até um passo em sentido contrário. E eu até sou a pessoa mais insuspeita, porque não suporto o Blair, nem tão pouco deste pretenso benemérito Brown...

Se as ambições políticas pessoais destes dois escroques servirem para ajudar alguns milhões de pessoas, tanto melhor...

...

5:16:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

A organização económica preconizada por este plano é um retorno à que existia nos velhos tempos do colonialismo. Os países pobres continuarão a ser marginalizados, pois a sua contribuição para o processo económico implica que o valor do bem final seja produzido na "metrópole" industrializada, o que significa que África venderá por 5 o que, depois de transformado na Europa, EUA e Japão, valerá 15, ficando assim fora do poder de compra da própria África. Isto, para mim, não é positivo, nem suficiente, é a mesma merda de sempre.

12:14:00 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

A questão é que os "5" resultantes dessa venda, multiplicados por vários milhões, superam largamente as beneméritas e recorrentes ajudas financeiras anuais dos países desenvolvidos, incluindo as verbas decorrentes das acções de solidariedade internacional, como o recente Live 8 e congéneres...

Ao que se acresce o facto de o "Plano Brown" prever a anulação total da dívida externa dos países pobres que, como deves saber, sempre toldou qualquer possibilidade de esses países saírem da espiral de pobreza, pois não geravam riqueza suficiente sequer para cobrir os juros da respectiva dívida, vivendo subjugados perante instituições financeiras internacionais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial...

Reitero que é francamente preferível que aufiram esses "5" do que os "zero" habituais. Acho que isto é irrefutável. A não ser que estejas a reflectir com apurada má vontade, tão típico de uma certa esquerda para quem "quanto pior, melhor"...

3:45:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

O dinheiro que o plano garante não serve o desenvolvimento sustentado e independente de África. Há uma má vontade e um calculismo inacreditáveis no modo como o plano foi concebido e anunciado ao mundo, exactamente porque leva o mundo a raciocinar do mesmo modo que tu. Ao mesmo tempo que se promete dinheiro a África, garante-se a submissão económica do continente africano ainda durante mais gerações, mas isto esconde-se por baixo da capa do melhorzito possível. É má vontade exigir seriedade na política internacional? É má vontade pretender que se olhe para África como um continente cujo desenvolvimento sustentado seja encarado de um modo sério, em vez de reduzi-lo sempre a uma lógica de caridade? O problema do subdesenvolvimento é uma falha estrutural de todo o mundo, não é o mesmo que dar a um pedinte a esmola que se tem na altura e pedir desculpas por não poder dar mais. África continuará subdesenvolvida e excluída da economia mundial, porque o poder de compra que se pretende que daí lhe advenha não chegará para que consiga aceder aos bens finais produzidos com as suas matérias-primas - mas não se pode dizer isto porque a máscara de boa vontade cobre tudo o mais? O que acontecerá é que um continente será sugado para criar produtos que não chegarão a ele, mais nada. Não se pretende desenvolver uma indústria em África, não se pretende o crescimento do sector terciário. E, para além disso, quem garante que serão os produtores africanos a lucrar com o plano, e não uns quaisquer proprietários de terra que vivem na Europa e que persistirão em pagar em géneros aos trabalhadores, perpetuando o sistema de troca directa? E quem garante que o incremento das ajudas não servirá para engrossar as contas bancárias da corrupção governamental na Suiça? Porque nos devemos contentar com isto, com este engodo, quando isto não vai resolver o que é preciso que seja resolvido? Quanto a essa questão da esquerda, não sei de quem falas: nunca dependi de ninguém para pensar, nunca me filiei em partidos ou associações políticas, sempre falei livremente neste blog e noutros sítios. Quanto pior, melhor? Pelo contrário: eu quero é que as coisas melhorem; por isso, é que o plano Blair não me convence.

5:54:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Não te associei a nenhum movimento político, apenas constatei que a tua posição, de nítida má vontade, ou cegueira ideológica, se assemelhava à posição de uma certa esquerda para quem “quanto pior, melhor”, isto é, que deseja, embora não o confesse publicamente, que tudo fique ainda pior do que já está, até ao grande colapso final, de forma a fazer ressurgir o espectro da revolução, rumo a uma sociedade utópica baseada no socialismo científico, ou algo do género.

O dinheiro que o plano garante serve, de facto, um desenvolvimento mais sustentado e independente de África. Não há má vontade nem calculismo inacreditáveis no modo como o plano foi concebido e anunciado ao mundo, nem isso levou o mundo a raciocinar do mesmo modo que eu. O que me convenceu no plano, sobretudo, foi o facto de se perdoar, enfim, a dívida externa dos países mais pobres do mundo. Tratava-se de uma reivindicação muito antiga e exaustivamente repetida pelos movimentos de alter-globalização, nomeadamente a ATTAC, que agora se concretiza, na prática, finalmente. Nem sequer reconheceres este passo importantíssimo, esta medida essencial e de sincera solidariedade, resvala para a tal cegueira ideológica que referi no parágrafo anterior.

Portanto, ao mesmo tempo que se promete dinheiro a África, perdoa-se a sua dívida externa, e abrem-se os mercados ocidentais aos seus produtos agrícolas, garantindo o desenvolvimento da sua frágil economia. A “submissão económica” do continente africano já é uma realidade, e estas medidas não a vão estender “ainda durante mais gerações”, pelo contrário, vão contribuir para uma significativa melhoria económica do referido continente, tornando-o menos dependente da tal “caridade” ocidental a que tu te referes. Ou seja, o plano aponta precisamente para o contrário de tudo o que tu criticas, pelo que não posso deixar de lamentar as tuas constantes contradições, não querendo com isto dizer que estejas comprometido com a tal esquerda para quem “quanto pior, melhor”.

Seriedade na política internacional? Tenhamos decoro. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola, Pierre Falcone, é procurado pelas autoridades francesas, suspeito de tráfico de armas e outros crimes do género. O presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, decidiu destruir os subúrbios das grandes cidades do país, de forma a demolir as casas das famílias dos seus opositores políticos. O presidente da África do Sul, Theo Mbeki, aconselha os doentes com sida a tratarem-se com sumo de limão. Etc, etc, etc. Corruptos, ignorantes, sem escrúpulos, dois terços dos dirigentes africanos não têm um mínimo de “seriedade”, passe o eufemismo. Mais do que o tão propalado egoísmo ocidental, não será essa a verdadeira razão da espiral de pobreza eterna do continente africano?

África será mais desenvolvida, e menos excluída da economia mundial, ainda que, admito, isso não seja suficiente. Não se pretende que tenha maior poder de compra, mas que tenha melhores condições financeiras para adquirir bens básicos como água, alimentos e medicamentos para a totalidade da sua população. O “plano Brown” não se destina a desenvolver a indústria dos electrodomésticos, dos telemóveis ou dos automóveis no continente africano, gerando uma sociedade consumista semelhante à ocidental, mas suster a tal espiral de pobreza, sem falsa caridade, mas com medidas práticas e eficazes.

“O que acontecerá é que um continente será sugado para criar produtos que não chegarão a ele, mais nada”?!? Sejamos racionais. Esses produtos já existem nos nossos mercados, resultantes da PAC e de outros subsídios similares. A Europa e a América do Norte não necessitam de ir buscar produtos agrícolas a África. Subsidiam os seus agricultores e estes cultivam-nos, no seu próprio território. Ao abrir os mercados ocidentais aos produtos agrícolas africanos, como a Grã-Bretanha tem vindo a exigir no seio da União Europeia (e isto é completamente distinto do “plano Brown”, apresentado na reunião do G8), pretende tão só ajudar o continente africano a desenvolver-se, a participar activamente na economia mundial. Poderia continuar tudo na mesma, com a PAC, com os subsídios aos agricultores norte-americanos, e África na pobreza. Mas o objectivo é alterar tudo isto. Não há aqui qualquer conspiração capitalista-ocidental, tão só uma vontade sincera e real de ajudar o continente africano a desenvolver-se. Simplesmente.

Por fim, se queres verdadeiramente que “as coisas melhorem”, não tens de ficar convencido com o “plano Brown”, mas podes ao menos ter a imparcialidade e honestidade intelectual suficientes para elogiar as medidas, insuficientes mas úteis e pragmáticas, previstas no plano. É uma questão de bom senso, imune a toda e qualquer tralha ideológica que, por vezes, nos tolda o pensamento livre e independente. Tão só.

11:45:00 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Não considero má vontade recusar a contentar-me com menos do que aquilo que deve ser prestado. O perdão das dívidas era imprescindível (permanece ainda como questão em aberto para uma série de países), e eu nunca deixei de o reconhecer nesta troca de ideias. Mas, nestas circunstâncias, contentarmo-nos com esta "dádiva" e darmos em troca a nossa conivência com o que o plano arrasta é, no mínimo, insensato e ingénuo. Eu não elogio as medidas do plano, porque acho que estão ao serviço de algo mais do que África; estão ao serviço de um raciocínio que manterá África subserviente, e eu não gosto disso. Mais uma vez, caímos na lógica do "bonzito"; "não é o melhor de todos, mas é bonzito". E porque me devo contentar com o bonzito, se estou precisamente livre de compromissos ideológicos e posso pensar livremente? Esse é o grande problema: o plano não é nenhuma maravilha. Define uma estratégia, mas em que sentido? Perdoa-me, mas eu não acredito que algo na política internacional se faça por solidariedade. Tudo é uma questão de reequilíbrios, e este plano levará a um equilíbrio que não é o que desejo. Podes dizer: é um começo. É verdade, é um começo e eu não o recuso. Mas vai ser necessária atenção no futuro e uma supervisão internacional atenta da evolução da economia africana. Eu nunca recusei o plano, como podes confirmar nos textos anteriores. Não consigo é achar que ele seja, essencialmente, bom. É um pensamento livre e independente que me leva a concluir pela necessidade deste cuidado. Tão só.

3:17:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

«eu não acredito que algo na política internacional se faça por solidariedade. tudo é uma questão de reequilíbrios»

é a frase mais sábia de tudo o que tu escreveste. é tudo, de facto, uma questão de equilibrismo. é a realpolitik, ao velho estilo kissinger. é o mundo que temos.

4:16:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

mas o plano Brown não é assim tão cínico quanto pode parecer aos mais cépticos...

4:17:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Veremos.

4:41:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

verás.

eu não, porque me restam poucos anos de vida.

mas verás.

7:37:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

concordo com Sampaio, há um grupos de cegos ideológicos que vêem o mal em qualquer atitude. é hipocrisia/ingenuidade acreditar que solucionaria os problemas do mundo se todo mundo se tornasse de uma hora pra outra solidário, e doasse tudo o que tem a todos que não tem...

5:05:00 da manhã  

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