O milionário
Não tenho nada contra Bill Gates nem gosto de tomar a Microsoft, logo à partida, como o Demónio, mas a verdade é que a recente visita do milionário americano a Portugal teve algo de intrujice ou mesmo de humilhação. Por um lado, parece que se deu uma condecoração ao homem como se fosse um suborno; por outro, parece que se apalavrou a rendição total da informática estatal à Microsoft. Não é que eu não perceba as intenções de Sócrates – se a empresa norte-americana cumprir e disponibilizar as formações e os investimentos que prometeu, o potencial de aprendizagem tecnológica e, consequentemente, de inovação em Portugal poderá aumentar, mesmo que essa formação seja feito com óbvio intuito comercial (como um representante da Microsoft dizia ontem no Público, se Gates produzisse carros, fazia sentido que investisse para que mais pessoas tivessem carta de condução). A lógica será a de que o país beneficiará com o benefício da Microsoft. Mas não faria mais sentido que, numa altura de restrições orçamentais, o Estado transitasse para o software de código-livre, potenciando assim a investigação e o desenvolvimento de aplicações para o mesmo? A anunciada divulgação do código-fonte do Windows não se compara, pois não evitará o pagamento de licenças dispendiosas pelo seu uso, para além de ter sido motivado por razões judiciais. Será que o software de código-livre é visto pelo Governo como coisa de terceiro mundo? Talvez fosse bom olharem para Espanha e para o ambiente em que a Informática é ensinada nas escolas secundárias: Linux, que sempre fica mais barato e pode ser mais facilmente melhorado.
5 Comentários:
Claramente o meu camarada nunca se sentou em frente a um computador funcionando com o sistema Linux. Se já, faca os calculos assim por alto: ficaria mais caro comprar o caro (mas seguro) Windows e gastar algum dinheiro a ensinar alguns funcionários publicos a usar as aplicacoes, ou instalar o baratissimo Linux e gastar rios de dinheiro a reensinar toda a gente a usar um sistema operativo que claramente nao é para principiantes nem para funcionarios públicos perto da reforma?
Eu sou um entusiasta do open soure. Mas a verdade é que as coisas não são lineares e implementar um Linux a larga escala não é necessariamente barato.
1- É preciso pagar a alguém que faça o (quase de certeza penoso) processo de instalação e configuração.
2- Para além do que se paga, é preciso contabilizar o decréscimo de produtividade do período de transição.
3- Por outro lado(e é daqui que muitos dos fabricantes de distribuições retiram os seus rendimentos) é necessário pagar assistência técnica - está provado que os produtos informáticos são daquelas coisas que deixam de funcionar sem ninguém lhe mexer ;)
4- Por fim, há ainda o problema do software específico. Muitos serviços públicos usam programas desenvolvidos para um determinado efeito. Adoptar Linux implicaria pagar o desenvolvimento de novo software.
Quanto à utilização, não me parece que para tarefas básicas de office um Linux seja complicado. O interface é simples e o tipo de acções aprendidas no Windows servem perfeitamente para as tarefas básicas nas distribuições mais user-friendly.
Isso tudo, meus amigos, é muito certo. Mas a questão é: se mais governos começassem a utilizar o open source como solução prioritária, a evolução, simplificação, melhoramento e orientação para o consumidor deste não seriam também maiores?
Reproduzo aqui o comentário que pus a este post do JP:
1, 3 e 4 - As instituições públicas têm, a nível hierarquicamente mais próximo ou não, departamentos de informática, com técnicos especializados. Instalar, configurar, assistir e desenvolver novo software é o que eles fazem. Antecipando a réplica “ah, pois, mas será que eles sabem trabalhar fora do ambiente a que se habituaram”, contraponho: se não sabem, aprendem. É para isso que os nossos impostos lhes pagam os salários.
2- O decréscimo poderia ser minorado substancialmente se a transição fosse bem planeada. Não digo mais nada, é simples de entender num quadro em que o software desenvolvido tiver em conta as necessidades específicas do organismo que o utilizará e em que a formação for bem dada. Ou seja, o decréscimo não dependerá da mudança por si própria, mas do modo como a transição for implementada.
Quanto ao comentário do Emanuel Graça, nada a opor - é precisamente por perceber a necessidade de pragmatismo que disse que entendo as intenções de Sócrates. O que continuo, no entanto, a afirmar é que, se o objectivo é estimular a competividade e a inovação, o open source seria um campo muito mais lógico a incentivar, já que mais pessoas poderiam ajudar a criar mais desenvolvimento. Ou seja, compreendo o pragmatismo, mas o open source seria uma opção muito mais adequadas às prioridades que levam o governo... a um conluio com a Microsoft. Entendido?
Meu caro Jorge, "se mais governos começassem a adoptar o open source", aí talvez. Mas vamos nós pagar para beneficiar os outros? Como disse o meu bom camarada, ainda por cima agora, "numa altura de restrições orçamentais"?
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