os flamingos
O que “Pink Flamingos”, o “magnum opus” de 1972 de John Waters, tem de interessante é o modo como é perpassado pela ideia de encenação, posta a nu pelos diálogos exagerados, pela marcação pouco rigorosa, pelos erros de continuidade. Ao gritar “isto é falso” a cada segundo, a cada plano, o filme está a desmontar-se, a desmentir-se, enquanto objecto de “mise en scène” (precisamente, de “colocação em cena”) e a sobreviver no plano de um discurso sobre si próprio. Este traço parece-me presente em outros filmes dos anos 70, o que coloca desde logo a questão de até onde foi o trash de John Waters no que toca a influência. É que o suporte na História do cinema existe também em “The Rocky Horror Picture Show” (1975); a evidência do dispositivo persiste em “Jesus Christ Superstar” (1973). E um tipo pensa: o que houve nos anos 70 que levasse a que o objecto fizesse sua matéria o questionamento da sua própria essência enquanto objecto? Qual o elemento que me permitirá ligar a tendência estética a uma tendência histórica, por assim dizer – essa é a pergunta que me importa aqui.
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