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a senhora na água

Só ontem consegui ir ver o último de Shyamalan e hão-de perdoar-me a inocência, mas em que medida é que o realizador ou o filme são ingénuos? O filme pareceu-me uma metáfora complexa sobre o "storytelling" - melhor do que "narração de história" -, em que o realizador afirma (em pessoa) o seu lugar perante a obra e perante o público e em que explana a sua visão do fenómeno artístico e narrativo.

Não é por acaso que o surgimento de "Story" ajuda o Shyamalan-personagem a desencravar a escrita do seu livro - uma história desencrava o ensaio socio-político (o livro) da mesma maneira que faz arrancar o ensaio estético (o filme). Percebe-se que o filme não tenha sido um sucesso comercial: as questões que invoca estão mais próximas dos storytellers do que da audiência média, como na aceitação pelo autor de que as suas ideias (e apenas as suas ideias) implicarão a sua morte. Parece-me algo que qualquer pessoa que publique a sua opinião compreenderá.

É nesta medida que este é o filme mais pessoal de Shyamalan - não pessoal no sentido "aqui está uma representação da minha vida", mas sim no sentido "aqui está uma representação daquilo que creio ser o sentido estético da minha actividade". A crítica corporativa e directa ao crítico de cinema (crítica ao crítico, portanto) retira logo qualquer átomo de ingenuidade que o filme pudesse ter. Na verdade, "The Lady In The Water" é um filme político. Política artística, sim senhor, mas político.

6 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Até concordo contigo. O filme enquanto exercício até é engraçado, pouco mais do que isso - há outros bem melhores que ele a abordarem o mesmo tema. O problema mesmo é a história do filme ser - e desculpa a expressão - uma valente merda. Não é por ser pouco credível, por ser um "conto de fadas", é mesmo por ser incrivelmente má.

12:10:00 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Eu acho que a história é frágil exactamente porque o filme não é dela, mas sobre ela. Porquê má?

12:08:00 da tarde  
Blogger Unknown disse...

Na minha opinião a história não tem ponta por onde se lhe pegue. Nessa perspectiva de filme "sobre a história" há um bem melhor do ano passado, Tristam Shandy - A Cock and A Bull Story, do Winterbottom, em que a impossibilidade de adaptar a obra-prima do Sterne é desmontada de uma forma igualmente inteligente e engraçada. Alguns exemplos mais "antigos" vêem-se em filmes como Flirt, do Hal Hartley, e, porque não, no Adaptation, do Spike Jonze.

Eu não gosto da história. Acho um péssimo "conto de fadas", seja lá o que isso for. Formalmente, e seguindo a estrutura do "princípio-meio-fim", não me parece que exista ali um "meio" mas um fim muito extenso desde os primeiros minutos. Talvez a coisa funcionasse numa curta, como longa a coisa arrasta-se tempo demais caindo depois em clichés de "filmes sobre a história" (e neste filme há muitos, mesmo).

Bem, mas isto sou eu, que não o aprecio muito como realizador. Mas ao contrário dos outros filmes, aos quais dou o benefício da dúvida, este parece-me claramente inferior, baseado numa ideia que até poderia ser interessante se a história adaptada fosse melhor contada. Porque se é uma história sobre o filme, convém ao menos que seja bem contada.

5:32:00 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Não vi o Winterbottom, o Flirt irritou-me. Do Adaptation, gostei moderadamente e tenho vindo a gostar mais com o tempo. Mas parece-me que o ponto central do desacordo poderá estar precisamente na opinião sobre o Shyamalan: não gostei do Sexto Sentido, gostei muito do Unbreakable, ainda mais do Sinais, menos da Vila. Seja como for, é um realizador que tenho acompanhado com interesse desde aquele plano-sequência inicial do Unbreakable, em que o Bruce Willis conversa com alguém ao seu lado. Foi preciso tomates para escapar ao campo/contracampo daquela maneira e foi preciso tomates para fazer o Sinais, talvez o primeiro blockbuster assumidamente pós 11 de Setembro (sem esquecer o 25th Hour, mas aí o registo é todo outro). Talvez por isso, vi o Lady In The Water mais como uma declaração de princípios (pessoal, portanto) do que como uma história. E, como declaração de princípios, interessou-me mais do que como história, é verdade, mas não deixo de achar que é à declaração de princípios que se deve dar prevalência - porque o próprio filme dá-mo a entender.

6:35:00 da tarde  
Blogger JC disse...

Ó JVN, desculpar-me-às, mas partilho da opinião do André Santos.
O argumento, mesmo se considerado da perspectiva sobre a qual procuraste entende-lo (e digo procuraste porque não me parece evidente, mas pode ser um problema de percepção), é muito fraquinho, diria mesmo... desgarrado.
Continuo a gostar muito do M. Night, mas neste seu último exercício, fico-me só pela forma como realiza.

10:32:00 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Ora essa, JC, não tenho nada que desculpar, isto é mesmo assim, gostos são gostos.

1:06:00 da tarde  

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