O crédito
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O bom deste sistema de publicidade é que não obriga a louvar algo de que não gostamos - basta que escrevamos sobre isso. Ou seja, de certo modo, é algo mais próximo da escrita criativa (sugestão de um tema, construção dum texto) do que de publicidade propriamente dita.
Desta vez, pediram-me comentários sobre o site National Payday, que faz empréstimos. O recurso ao crédito para consumo é muito concorrido por estes tempos - ainda há pouco ouvi na rádio que saiu mais um estudo a dizer que as famílias portuguesas estão endividadas das pontas dos cabelos à unha do dedo mindinho. Boa. Pedem-me que diga o que acho? Acho que isso é mais um reflexo de uma ideologia "soft" - de uma ética, se preferirem - que, hoje em dia, está espalhada de uma maneira ou outra por todo o mundo. Consiste no seguinte: se não consigo ser aquilo que desejo, adquiro o que me faz parecer que o sou.
Isto vem da dominação do raciocínio quotidiano por duas esferas: a económica (se chegámos ao ponto de as próprias maneiras de ser - o sedutor, o estudioso, o empregado... - serem bens escassos, é preciso que o acesso a elas passe por uma concorrência material) e a militar (se a concorrência é, por definição, concorrencial - ou conflituosa -, preciso de me armar com aquilo de que preciso para vencer).
Ter tornou-se uma necessidade para ser. O "sou porque tenho" é maior do que o "tenho porque sou". É uma conquista de 1789, de 1917, de 1974 que se entortou e os problemas surgem quando me faltam coisas para ser o que quero e/ou dinheiro para as adquirir. O que fazer quando a propriedade mal distribuída transforma a suposta "sociedade da abundância" (absoluta - os bens que há sobejam para o número total da população) numa "sociedade de escassez" relativa (a abundância de uns implica a pobreza de outros)? Pedir emprestado. Aqui surge a National Payday. Como essas linhas telefónicas parasitas que todos os dias nos aparecem de algum lado e que aprenderam - muito importante - que, mais tarde ou mais cedo, alguém num aperto vai precisar delas e que, portanto, só é preciso estar lá a sorrir para haver clientes.
O que sistemas como a National Payday propõem é mais do que o mero empréstimo de dinheiro. É uma opção moral. O "sim, quero pedir emprestado" define imediatamente uma relação de autoridade e submissão entre duas pessoas. Há situações em que isso é compreensível (investimentos, aquisição de uma casa, de um automóvel, etc.), mas, quando quem pede o faz para além do que realmente pode e necessita e quem dá esconde a avidez por baixo dum automatismo amoral ("sem perguntas", "juros baixos", "imediatamente e à distância"), algo está errado e em desequilíbrio. E este é o meu anúncio à National Payday.
O bom deste sistema de publicidade é que não obriga a louvar algo de que não gostamos - basta que escrevamos sobre isso. Ou seja, de certo modo, é algo mais próximo da escrita criativa (sugestão de um tema, construção dum texto) do que de publicidade propriamente dita.
Desta vez, pediram-me comentários sobre o site National Payday, que faz empréstimos. O recurso ao crédito para consumo é muito concorrido por estes tempos - ainda há pouco ouvi na rádio que saiu mais um estudo a dizer que as famílias portuguesas estão endividadas das pontas dos cabelos à unha do dedo mindinho. Boa. Pedem-me que diga o que acho? Acho que isso é mais um reflexo de uma ideologia "soft" - de uma ética, se preferirem - que, hoje em dia, está espalhada de uma maneira ou outra por todo o mundo. Consiste no seguinte: se não consigo ser aquilo que desejo, adquiro o que me faz parecer que o sou.
Isto vem da dominação do raciocínio quotidiano por duas esferas: a económica (se chegámos ao ponto de as próprias maneiras de ser - o sedutor, o estudioso, o empregado... - serem bens escassos, é preciso que o acesso a elas passe por uma concorrência material) e a militar (se a concorrência é, por definição, concorrencial - ou conflituosa -, preciso de me armar com aquilo de que preciso para vencer).
Ter tornou-se uma necessidade para ser. O "sou porque tenho" é maior do que o "tenho porque sou". É uma conquista de 1789, de 1917, de 1974 que se entortou e os problemas surgem quando me faltam coisas para ser o que quero e/ou dinheiro para as adquirir. O que fazer quando a propriedade mal distribuída transforma a suposta "sociedade da abundância" (absoluta - os bens que há sobejam para o número total da população) numa "sociedade de escassez" relativa (a abundância de uns implica a pobreza de outros)? Pedir emprestado. Aqui surge a National Payday. Como essas linhas telefónicas parasitas que todos os dias nos aparecem de algum lado e que aprenderam - muito importante - que, mais tarde ou mais cedo, alguém num aperto vai precisar delas e que, portanto, só é preciso estar lá a sorrir para haver clientes.
O que sistemas como a National Payday propõem é mais do que o mero empréstimo de dinheiro. É uma opção moral. O "sim, quero pedir emprestado" define imediatamente uma relação de autoridade e submissão entre duas pessoas. Há situações em que isso é compreensível (investimentos, aquisição de uma casa, de um automóvel, etc.), mas, quando quem pede o faz para além do que realmente pode e necessita e quem dá esconde a avidez por baixo dum automatismo amoral ("sem perguntas", "juros baixos", "imediatamente e à distância"), algo está errado e em desequilíbrio. E este é o meu anúncio à National Payday.
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