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o filme: wonder boys

Wonder Boys é um daqueles filmes a que reconheço defeitos, mas que não dá para recusar. Já o devo ter visto dezenas de vezes. Não sei se é pelo Michael Douglas a fazer um papel de falhado charmoso que recusa sexo - o Michael Douglas, meu Deus! -, ainda por cima com a ninfeta Katie Holmes, que agora não se consegue rever sem pensar no sofá da Oprah Winfrey; não sei se é pelo retrato sem-merdas dos charranços e da homossexualidade, talvez, quem sabe, abrindo o caminho a uns Sete Palmos de Terra; não sei se é pelo Robert Downey Jr., pelo burlesco (um travesti, uma tuba, um cão morto, a marca de um rabo no capot de um carro, uma estufa que pode ser o paraíso), pelo modo como o próprio filme simultaneamente é sobre a produção de ficção e a impossibilidade de superar o real, pelo prazer de ver uma adaptação do Steve Kloves pré-Harry Potters (e estes são boas adaptações, mas não lembram tanto os fabulosos Irmãos Baker), pela música do Dylan que ganhou o Óscar - e dou um beijo a quem me encontrar na Internet o vídeo do discurso de aceitação, foi em 2001. A única coisa que me custa no filme é a resolução. Acho que as personagens de Crabtree e James (Downey Jr. e Tobey Maguire) precisavam de mais uma cena, talvez duas, pelo menos um monólogo grandioso de Downey na esquadra - e ele sabe fazê-los.

E, já agora, o Rip Torn, que faz de Q e tem uma deixa com um dos product placements mais hilariantes de sempre (James, inconsciente depois de empurrar um comprimido de codeína com um gole de whisky, é carregado para fora de um bar; Q diz "Do que esse rapaz precisa é duma bela e fresca Coca-Cola!") - esse Rip Torn andou à pancada com o Norman Mailer em 1970 durante a rodagem de um filme. Tentou acertar-lhe na cabeça com um martelo e quem vê o vídeo não pode deixar de pensar duas coisas: primeiro, que ali há psicotrópicos à mistura; segundo, que, para um gajo que andou na Segunda Guerra Mundial, o Mailer bem que parece uma menina a lutar! Ele isso é maneira de se morder uma orelha, senhor Mailer?

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