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21 Grams




Antes de mais nada, há actores. Apesar de Naomi Watts começar a parecer um bocado repetitiva nos seus registos, Sean Penn é dos melhores na sua profissão e Del Toro impressiona sempre pelo seu sentido ético, pelo modo como aceita o abandono de si mesmo em relação à personagem. Melissa Leo, que já dava ares da sua graça na Rtp2, em "Brigada de Homicídios", traz-nos uma personagem pungentemente composta. A fotografia de Rodrigo Prieto também impressiona. A imagem é crua e saturada, deixando-se invadir pelas várias temperaturas de luz como se nada pudesse ser feito. Pouco importa, afinal; o filme é pelos (e, se calhar por isso, também dos) actores. Por isso, mostra-se acertada – e nem por isso monótona - a opção pelo predomínio de enquadramentos do peito para cima. Isso, claro, obriga a uma representação muito mais centrada na expressão, e por isso mesmo o casting foi feliz.

Iñárritu realizou "Amores Perros", já ele filme que parte de um acidente de automóvel. Talvez possamos pensar neste "21 Grams" como variação sobre o mesmo tema, já que aquela primeira obra tratava principalmente das implicações da deformação física, ou melhor, da irredutível dimensão corporal da existência humana e a vulnerabilidade a que, por essa via, ela está votada. Isso ainda está em "21 Grams", mas por baixo de uma temática principal: a morte e as suas consequências nos vivos.

[Iñárritu tem uma visão curiosa do espaço. Repare-se no videoclip de "Avientáme", extra no DVD de "Amores Perros", e tirem-se daí as conclusões que forem precisas sobre a sua concepção do desenvolvimento das relações em espaços fechados, de recolhimento longe da rua, lugar venenoso em que as perversões e os perigos andam à solta. Não há ar livre sereno em Iñárritu]

O problema de "21 Grams" está na montagem irritante com que o realizador parece querer fixar uma imagem de marca estilística. Não é que o tema não se prestasse a isso. As histórias das três personagens principais, é óbvio, tendem a entrelaçar-se. Mas não há nada para além disso que justifique a sobreposição temporal, até porque a meio do filme parece que se desiste dela para optar por uma narração linear. Com as devidas diferenças, Iñárritu parece ter caído num erro parecido ao de Schumacher em "Phone Booth": acabou por perder o filme que tinha nas mãos porque quis fazer dele mais do que realmente era. "21 Grams" podia ser um "road movie" mágico, um filme brutíssimo concentrado na intensidade moral das personagens e no choque entre elas. O mais triste é que o filme parece poder ter sido tudo isso a dado momento da sua concepção. E depois veio a tesoura da sala de montagem a igualar os núcleos narrativos e a tensão dramática que eles continham e isso perdeu-se.

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