Homem?
Ontem, pela segunda vez, discutiu-se na Oficina de Poesia a importância da linguagem enquanto forma de acção, temática, claro, apenas implícita por baixo de uma con(tro)vers(i)a à volta da dúvida sobre a implicação ética de se escrever Homem enquanto sinónimo de Humanidade. Atenção, nunca se tratou aqui de defender a supremacia de um sexo sobre o outro no que toca à igualdade de direitos - ninguém defendeu essa estupidez. O que se discutia, sim, era a importância da linguagem enquanto modo de acção, ou seja, de ser activista. Coisas incontroversas: o poeta, que utiliza a linguagem como matéria, deve ter consciência do poder desta enquanto instrumento de mudança; o uso de "Homem" enquanto sinónimo de Humanidade vem de séculos e séculos de negação de um estatuto digno à Mulher, que a apagava da vida social e política e, como tal, a menção a ela no substantivo colectivo tinha pouca importância. Não se pretende, claro, que se faça uma legislação da linguagem com efeito imediato, mas sim que se encete uma atitude crítica na sua utilização de modo a apagar as suas dimensões discriminatórias ao nível individual e a provocar o seu questionamento ao nível colectivo.
Tudo isto está certo, muito certo. Mas ontem (e devo confessar que, aquando da primeira discussão deste assunto na semana passada, estava menos disposto a dar o braço a torcer) ouvia, concordava e, ainda assim, não conseguia deixar de pensar que as coisas se devem resolcver primeiro num outro nível. As lutas pela igualdade (as sufragistas, o movimento dos direitos cívicos nos Estados Unidos) bateram-se no plano político-social, com reinvindicação de direitos concretos que faltavam aos discriminados. Ora, eu ouvia a discussão e custava-me reconhecer tanta urgência a este uso das palavras como à mudança dos costumes que, parece-me, acaba por ser a dimensão mais nefasta do problema. E apesar de tudo, eu sei que há quem se sinta eticamente em causa com estas palavras e consigo compreender a posição de quem diz que a linguagem está o mesmo nível de actuação que tudo o resto, que não há hierarquias de acção. E ainda assim, custa-me compreender. Alguém se quer pronunciar?
P.s. Não se trata de avaliar da qualidade poética de um autor, mas sim da definição de um modo de actuação para um autor eticamente envolvido
Tudo isto está certo, muito certo. Mas ontem (e devo confessar que, aquando da primeira discussão deste assunto na semana passada, estava menos disposto a dar o braço a torcer) ouvia, concordava e, ainda assim, não conseguia deixar de pensar que as coisas se devem resolcver primeiro num outro nível. As lutas pela igualdade (as sufragistas, o movimento dos direitos cívicos nos Estados Unidos) bateram-se no plano político-social, com reinvindicação de direitos concretos que faltavam aos discriminados. Ora, eu ouvia a discussão e custava-me reconhecer tanta urgência a este uso das palavras como à mudança dos costumes que, parece-me, acaba por ser a dimensão mais nefasta do problema. E apesar de tudo, eu sei que há quem se sinta eticamente em causa com estas palavras e consigo compreender a posição de quem diz que a linguagem está o mesmo nível de actuação que tudo o resto, que não há hierarquias de acção. E ainda assim, custa-me compreender. Alguém se quer pronunciar?
P.s. Não se trata de avaliar da qualidade poética de um autor, mas sim da definição de um modo de actuação para um autor eticamente envolvido
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