a liberdade de expressão
A liberdade de expressão não serve, não pode servir, para dar lições de moral. O diário dinamarquês Jyllands-Posten convidou cartoonistas a caricaturarem Maomé para "testar as fronteiras da liberdade de expressão no islão". Podia fazê-lo? Claro que sim. Foi sensato fazê-lo (e esta pergunta tem por trás todas as diferenças óbvias na tradição de representação do profeta islâmico)? Não, não foi. O facto de o debate ter sido centrado desde o início na liberdade de expressão não me impede de dizer que a liberdade de expressão é o que menos aqui importa. O jornal dinamarquês utilizou uma técnica sensacionalista para captar atenção: repare-se que a intenção era retratar Maomé. Mas quem o investiu na qualidade de paladino da liberdade de expressão? Foi arrogante, ponto. Volto a dizer: podia fazê-lo. Ainda assim, o que conseguiu fazendo-o? Talvez novos leitores. Mas poderia razoavelmente esperar algum efeito útil quanto a esse objectivo de "testar as fronteiras de liberdade de expressão do islão"? Não censuro o uso da imagem de Maomé; censuro o que a motivou. Há o direito ao sensacionalismo, mas é preciso ver com o que é que estamos a lidar e comparar o que há a ganhar com o que há a perder.
Adenda: faço minhas as palavras do Guardian: "Context matters very much in the case of the cartoons of Muhammad too. It is one thing to assert the right to publish an image of the prophet. As long as that is not illegal [...] then that right undoubtedly exists. But it is another thing to put that right to the test, especially when to do so inevitably causes offence to many Muslims and, even more so, when there is currently such a powerful need to craft a more inclusive public culture which can embrace them and their faith. [...] Yesterday's acquittal of two British National party officials on race hatred charges for attacking Islam - and the triumphalist scenes as the two freed men emerged from court - are part of the context that must be weighed in asserting any right to publish cartoons that offend Muslims. So too is the political situation in Denmark itself, where the cartoons were first published, and where a large and strongly anti-immigrant party provides part of the parliamentary coalition supporting Denmark's centre-right government. What is the message that is being sent, both in the BNP acquittal context and in the Danish context, by insisting on publishing such images? Those questions cannot be ducked - and nor can the answers."
Adenda: faço minhas as palavras do Guardian: "Context matters very much in the case of the cartoons of Muhammad too. It is one thing to assert the right to publish an image of the prophet. As long as that is not illegal [...] then that right undoubtedly exists. But it is another thing to put that right to the test, especially when to do so inevitably causes offence to many Muslims and, even more so, when there is currently such a powerful need to craft a more inclusive public culture which can embrace them and their faith. [...] Yesterday's acquittal of two British National party officials on race hatred charges for attacking Islam - and the triumphalist scenes as the two freed men emerged from court - are part of the context that must be weighed in asserting any right to publish cartoons that offend Muslims. So too is the political situation in Denmark itself, where the cartoons were first published, and where a large and strongly anti-immigrant party provides part of the parliamentary coalition supporting Denmark's centre-right government. What is the message that is being sent, both in the BNP acquittal context and in the Danish context, by insisting on publishing such images? Those questions cannot be ducked - and nor can the answers."
2 Comentários:
Vejamos: se a intenção do jornal foi captar leitores, podemos então discutir se essa intenção era censurável ou não (apesar de Daily Mirror e companhias fazerem coisas bem piores e nunca ninguém os ter censurado). Agora, o que não podemos fazer, é andar a pisar ovos em países supostamente livres (em termos de "expressão") para não ofender as meninas de Meca. É a mesma coisa que comprar tudo o que uma criança quer, com medo que ela começe a berrar no meio da loja. A questão aqui é que a criança tem que aprender que na Europa (EUA, América Latina, China, países não muçulmanos...) a carteira é nossa, o brinquedo é nosso, e a loja também é nossa. Por isso têm que seguir as nossas regras. E ninguém os obrigou a comprar aquele jornal. Assim como ninguém obrigou o Papa a ver "A Última Tentação de Cristo", que foi censurada por Roma, mas mesmo assim foi para os cinemas e depois para os clubes de videos e agora anda aí em DVD, de certeza...
Passamos (nós, europeus) séculos a ser presos, queimados, torturados e aviltados para poder, finalmente, ter liberdade de expressão _ liberdade que inclui, evidentemente, o ser inconveniente, estúpido e agressivo. E a liberdade total em completa de expressão, no total dos países europeus, não tem mais do que 60 anos. Estes pézinhos de lã para com os mussulmanos são uma fraqueza e um recuo, que de nada servem. Podemos, sim senhor, ridicularizar os deuses e os seus profetas, é um direito que partilhamos com o direito de os venerar e de acreditar que eles são deuses e profetas. Esta convivência difícil tem de ser respeitada a todo o custo. Quem não gosta, pode ir-se embora, que não lhe sentiremos a falta.
Enviar um comentário
<< Home