Não faço julgamentos por antecipação (nesse aspecto, sou muito mais Rui Teixeira do que Manuela Moura Guedes), por isso tento ir ver tudo, mesmo tudo, desde que tenha alguma razão para ver, seja ela qual for, e o dinheiro não andar especialmente a fraquejar. Por isso fui ver “Era Uma Vez no México”, de Robert Rodriguez. As minhas razões eram simples: primeiro, há muito que não via um filme de Rodriguez (mesmo de “From Dusk Till Dawn” só apanhei um bocadinho de fim, numa vez que passou na televisão – começo a notar que isso é mesmo típico em mim...); segundo, queria ver como se continuava um dos (poucos) filmes que vi no cinema durante a minha adolescência (a 16 km, com os pais, numa pequena sala de província). “Desperado” foi, na altura em que o vi, algo muito divertido e que me serviu para compreender uma certa instrumentalidade da violência como componente do filme. De resto, no cinema nada é importante per se, e já Tarantino disse (e Jacinto Lucas Pires citou, na sua curta-metragem inicial – não me lembro, já fez mais alguma?...) que dizer que não se gosta de violência no cinema é tão ridículo como dizer que não se gosta de cenas de dança no cinema.
Estava preparado para aquilo que a sessão foi. O filme é fraco, muito fraco. As personagens, as histórias, tudo anda por ali perdido, à solta, como se o que realmente importasse fosse a violência, o baque do choque (e não o é realmente?). E a citação ao filme de Sergio Leone (ainda hoje estive a falar dele :“Yesterday” e Big Apple) está ali porquê? Será por causa dos achaques familiares de Banderas/”El”?
É engraçado, mas, apesar de tudo, há marcas autorais que perpassam, apesar de tudo. Ou seja, o filme não é um objecto completamente incaracterizado e tornado produto. A fixação de Rodriguez pela mutilação e pela relação do eu com o corpo incompleto está lá e, por isso, situar a batalha final na Festa dos Mortos não será despropositado. Ainda mais curiosa é a afirmação despudorada de um sentimento pátrio: os comentários em off e a relativa dose de denúncia social encoberta d’ “El Mariachi” corporizaram-se desta vez num Banderas salvador e garante da ordem democrática.
O que realmente dá ao filme o seu tom de coisa de pechincha, de plástico – de sequela feita à força -, e para além das histórias todas engastadas umas nas outras à bruta, é a perda da melancolia do primeiro mariachi. Porque era isso que lhe dava personalidade, era isso que não fazia dele um boneco a despejar balas de revólver sobre manequins. Também se perdeu a acrobacia de “Desperado”, mais a inverosimilhança que levava a que nos ríssemos de nós mesmos e da nossa absoluta capacidade para crer.
Então o que restou? Não sei. Um jovem Wittgenstein ficaria confundido a ver “Era Uma Vez no México”, porque ele existe sem nada dizer. Pronto, diz que tem o Enrique Iglesias. Mas como eu não gosto do Enrique Iglesias...
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