O que é que o blog tem?
No blog, eu falo sobre o que me apetece, mas não como me apetece. Ou seja, eu falo de algo que, eventualmente, poderá vir a ter interesse para alguém, quanto mais não seja para mais tarde eu me rir de mim próprio. Haverá autocrítica mais divertida e, ao mesmo tempo, mais destrutiva do que aquela que se faz quando se lê uma redacção que se escreveu na escola primária? O blog serve para me historiar a mim mesmo, mas cumprindo uma (pequena, quase invisível, mas que está lá) responsabilidade para com outros, que dá o empurrão.
E esse é um assunto que nunca consegui evitar, o eu mesmo. Descobrir-se é fascinante. Como o exercício em relação ao presente, ao que se é, me parece uma questão bastante dúbia, enganosa, uma diversão fanada - mas eu falo com a fenomenologia d’ “A Câmara Clara” toda bem engolida... vou reformular. Não posso confessar que não me fascina a possibilidade de um dia me poder ler como quem lê uma personagem de ficção. Aceito: é uma fraqueza da minha parte, poder-se-lhe-ia chamar uma evasão da realidade. Mas, ao fim de contas, porque leio eu livros e vejo filmes? Para mais nada que não seja aquele sentimento de conclusão, de palavra dita, acabada, toda, no fim do que acaba. O filme e o livro permitem a certeza na emoção, uma geometria do sentimento. Sou mais desconfiado em relação às artes plásticas, que, para mim, são pequenos jogos, pequenas brincadeiras; respeito, leio-as, mas não as consigo sentir como minhas ou sentir-me parte delas. Entretanto, ponho a fotografia no meio, e algo há nela que me fascina tanto. Lá irei um dia.
No blog, posso falar de tudo, responsável e irresponsável. Espero que cada vez menos o leiam, embora me custe que as estatísticas estejam a descer, o que só significa que eu próprio tenho ido lá menos vezes. Menos pessoas a lerem-no significa mais liberdade, mas eu quero que se interessem.
Ou seja: uma pessoa não é uma certeza? Nunca acreditei nisso; eu sou uma pessoa. A contradição existe e fala.
O blog dá-me para estar em todo o lado a toda a hora. As pessoas podem ouvir-me e eu quero que sintam a necessidade de me ouvirem – mas não quero que tenham de me ouvir. Ou seja, eu quero que elas sintam a necessidade de ler tal como eu tenho necessidade de escrever. O sentimento delas e o meu devem ser absolutamente equivalentes, originais e únicos, vindos de dentro e de nenhum lado do de fora.
E há coisas que não posso pôr em mais lado nenhum a não ser aqui, e isso agrada-me. O blog ajuda a fixarmo-nos – a assumirmos algo do que somos - imediatamente. É destino supletivo para o pensamento órfão. É catálogo de devaneios e diletantismos. É uma colecção de emanações secundárias da alma. E isso não é mau. Uma vez, em relação a algo que aqui não vem ao caso, eu disse que os pormenores não interessam; uma amiga corrigiu-me – eles devem interessar, porque as coisas distinguem-se por eles, não pelo resto.
Pensando bem, não somos todos pormenores de pessoa?
E esse é um assunto que nunca consegui evitar, o eu mesmo. Descobrir-se é fascinante. Como o exercício em relação ao presente, ao que se é, me parece uma questão bastante dúbia, enganosa, uma diversão fanada - mas eu falo com a fenomenologia d’ “A Câmara Clara” toda bem engolida... vou reformular. Não posso confessar que não me fascina a possibilidade de um dia me poder ler como quem lê uma personagem de ficção. Aceito: é uma fraqueza da minha parte, poder-se-lhe-ia chamar uma evasão da realidade. Mas, ao fim de contas, porque leio eu livros e vejo filmes? Para mais nada que não seja aquele sentimento de conclusão, de palavra dita, acabada, toda, no fim do que acaba. O filme e o livro permitem a certeza na emoção, uma geometria do sentimento. Sou mais desconfiado em relação às artes plásticas, que, para mim, são pequenos jogos, pequenas brincadeiras; respeito, leio-as, mas não as consigo sentir como minhas ou sentir-me parte delas. Entretanto, ponho a fotografia no meio, e algo há nela que me fascina tanto. Lá irei um dia.
No blog, posso falar de tudo, responsável e irresponsável. Espero que cada vez menos o leiam, embora me custe que as estatísticas estejam a descer, o que só significa que eu próprio tenho ido lá menos vezes. Menos pessoas a lerem-no significa mais liberdade, mas eu quero que se interessem.
Ou seja: uma pessoa não é uma certeza? Nunca acreditei nisso; eu sou uma pessoa. A contradição existe e fala.
O blog dá-me para estar em todo o lado a toda a hora. As pessoas podem ouvir-me e eu quero que sintam a necessidade de me ouvirem – mas não quero que tenham de me ouvir. Ou seja, eu quero que elas sintam a necessidade de ler tal como eu tenho necessidade de escrever. O sentimento delas e o meu devem ser absolutamente equivalentes, originais e únicos, vindos de dentro e de nenhum lado do de fora.
E há coisas que não posso pôr em mais lado nenhum a não ser aqui, e isso agrada-me. O blog ajuda a fixarmo-nos – a assumirmos algo do que somos - imediatamente. É destino supletivo para o pensamento órfão. É catálogo de devaneios e diletantismos. É uma colecção de emanações secundárias da alma. E isso não é mau. Uma vez, em relação a algo que aqui não vem ao caso, eu disse que os pormenores não interessam; uma amiga corrigiu-me – eles devem interessar, porque as coisas distinguem-se por eles, não pelo resto.
Pensando bem, não somos todos pormenores de pessoa?
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