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o regresso

Depois de 10 longos dias, cheguei a Portugal hoje de madrugada. Em Moçambique, descobri vários bloggers e foi com a Chissana com quem estive a conversar durante mais tempo. De África, trago mixed feelings, a curiosidade espicaçada, um telemóvel a menos e histórias q.b. Depois conto.

a viagem

A razão para poucos ou nenhuns posts nos dias que se seguem: de 20 a 30 de Julho, estarei em Maputo, enquanto jovem escritor português, na III Bienal de Jovens Criadores da CPLP.

o que diz mcshade

Ontem, não tinha nada para fazer às 3 e meia. Por isso, entrei na Casa da Cultura e, tomado sabe-se lá por que demónio, vasculhei o arquivo dos livros entre 1963 e 1969, preenchi a ficha e fui ao balcão pedir
- Requiem Para D. Quixote, de Dennis McShade, por favor.

Sentei-me e, dali a alguns minutos, lá veio a funcionária. O livro era pequeno, de bolso, como muito outros deveriam ser. As páginas estavam amareladas, mas, para um exemplar com quarenta anos, tinha muito bom aspecto. Há anos que, sempre que passo num alfarrabista ou num vendedor ambulante, procuro esse livro, esse e a Mão Direita do Diabo, esses e Mulher e Arma com Guitarra Espanhola - enfim, no fundo, procuro tudo o que possa haver do Dinis Machado.

Às seis menos um quarto, estava devorado. Poucas vezes ler um livro numa tarde me soube tão bem.

os álbuns

A tabela de álbuns faz 50 anos e o Observer escolhe os 50 álbuns mais influentes de sempre. Peço desculpa: a não-inclusão de um álbum de Frank Zappa, qualquer que ele seja, é de lamentar. Não acham?

a sincronia

Já ouço falar disto há uns bons anos, mas primeiro não tinha o álbum, depois não tinha o filme e, quando já tinha ambos, era complicado de se fazer na mesma. Falo do maior mito Pink Floydiano a seguir a Syd Barrett (paz à sua alma) - a possibilidade de ver o filme O Feiticeiro de Oz em sincronia com The Dark Side Of The Moon. E quando digo "sincronia", quero mesmo dizer que é arrepiante ouvir a voz de Clare Torry a fazer o seu solo espantoso em The Great Gig In The Sky enquanto Dorothy e a sua casa estão (sim, já adivinharam) a ser levadas pelo vento. Ou de ver pela primeira vez a Estrada de Tijolos de Ouro enquanto se ouve o chocalho das moedas no início de Money.
Ora, o que a Net tem de bom é que permite-nos ver estas coisas todas sem ter de estar a ligar um dvd a uma aparelhagem ou coisa parecida. Está tudo aqui.

a erecção

Há alguns anos, um competente neurocirurgião explicou-me que as hérnias discais – ou, mais dignamente, as lesões na coluna* – têm origem na inadaptação da espinha humana à posição erecta; e assegurou-me que foi o antepassado do homem (um tal Alberto) que, erguendo-se nas patas traseiras para impressionar uma namorada, deu cabo das costas às muitas gerações que se lhe sucederam**.
Absolutamente a ler, este post do José Bandeira.

a actriz

Vejam "Um Eléctrico Chamado Desejo" e reparem como a Vivien Leigh, a Blanche etérea que prefere o que deve ser àquilo que é, muda o registo de voz ao revelar o seu passado ao Mitch de Karl Malden. Reparem e pensem como ela também pode ser a Scarlett O'Hara, Tara perdida de vez, Reth idem, a viver no sonho e na memória - ambos esfarrapados como cortinas transformadas em vestidos verdes. Pela primeira vez, não mente ou fantasia. É um ser humano confundido pelo pecado, o seu e o dos outros, e percebe finalmente que não pode voltar atrás e recuperar a inocência.

a guerra

Ainda não sei bem o que pensar, não tenho certezas. Tenho andado com as inseguranças próximas da crónica de hoje do Pulido Valente: há demasiadas coisas concertadas a acontecerem (os compassos de espera do Irão quanto ao urânio e do Hamas quanto ao reconhecimento de Israel, o corte no financiamento da Palestina pelo Ocidente, os raptos dos soldados israelitas, a intransigência histórica entre lados, a ruína no Iraque, os mísseis norte-coreanos, os ataques na Índia). Só sei que ontem vi isto e não achei grande piada. E sabem a melhor? Acho que não era para ter.

meanings of life

É preciso aceitar o facto de que os destinos a prazo podem mudar antes de se começar uma viagem de comboio, de que o Minho pode bem ser África e de que é provável que a vida não seja tão difícil como parece. Isso aprendi hoje.

sim, há sítios onde isto se faz - e eu gosto

I’ve been receiving increasingly frequent requests to review screenplays, so I am now offering my services as a screenplay analyst.(...)
A few notable highlights: the first five takers get screenplay notes for $99 instead of the regular $125. I offer unlimited follow-up emails on all services. You can get an analysis of your first ten pages, logline, and story concept for twenty bucks, and you can apply that fee toward the full screenplay-notes fee within a year.

o gato

o poema

Na terça-feira, fui à Faculdade de Letras para uma reunião e, quando saí, vi um papel no chão com algo escrito. Era isto.
já não consigo digo
já não consigo

ler poemas

há tanto de que desgosto
a melancolia o triste a saudade
o não haver ninguém
que bem
esteja na sua idade

pessoas que são pessoas
nem boas
nem más

já isso não há
nunca houve, pode ser
mulher que grite e morda
(o)
homem que queira foder

disso não há
leio muita vergonha
e querela irresolvida
com o tempo
e a infância

e palavras produzidas
em desenho
numa folha
de papel
versos pose
texto morto
antes de
nascer

é o fim
(e eu sim
eu quero
foder)
Obrigado, destino, por estas pequenas felicidades.

o iliad e o sony reader

Depois dos vídeos que um utilizador português do Mobile Read fez da utilização de um iLiad, podemos ver um Sony Reader em acção neste vídeo da PcMagazine. Mas atenção: como o TeleRead muito bem relembra, o leitor da Sony não passa ficheiros pdf encriptados. A encriptação dos ebooks consiste na necessidade de uma password para se poder ler o ficheiro pdf - ou seja, se comprarem um livro electrónico com este meio de prevenção de cópia, muito comum nos grandes vendedores on-line, como a Barnes and Noble, não conseguirão lê-lo num Sony Reader, pois este só conseguirá ler ficheiros encriptados se eles estiverem no formato BBeB (que, como seria de esperar, é da própria Sony). Este problema da falta de uma normalização dos formatos dos livro electrónicos tem sido discutido com a etiqueta "Tower of eBabel".

o filme

A sensação que fica depois de se ver "Hard Candy" é a de lição: como se pode fazer um filme tão intenso com meios tão simples (os décors são mínimos, o elenco também)? Com muito cuidado nalgumas coisas: um argumento polido até ao osso; actores solidíssimos; e a realização mais apurada que se tem visto nos últimos tempos. Aliás, é curioso encontrar traços estéticos e temáticos do realizador David Slade nos vídeos que fez, por exemplo, com os Stone Temple Pilots e Aphex Twin. A transfiguração e a ambivalência são levados nesta longa-metragem ao máximo, jogando às inversões morais com o espectador do início até ao fim - e, no fim, fica o quê? Ficamos nós, sozinhos, com as personagens e outros fantasmas.

o mau cheiro

Ao que parece, o mau cheiro de Coimbra tem mesmo a ver com a ETAR...

o público,4

Por outro lado, no mesmo jornal, conta-se a história da mulher de D. Afonso Henriques (caderno principal, página 38): " a infeliz Mafalda de Sabóia, com talvez não mais de 16 anos, chegou a Coimbra para casar em 1146. Deu à luz sete filhos em 12 anos e morreu no parto do último".

Mas ao menos casou virgem, não, Amparo?

o público,3

A gargalhada maior no comboio foi mesmo com uma caixa de título "Virgens até ao casamento" no artigo sobre a visita do papabento a Valência (caderno principal, página 31). Nela, dá-se voz a uma dezena de voluntários da organização do evento que defendem o imperativo da virgindade até ao matrimónio. Um deles, Amparo Pacheco, diz que "há duas coisas que hoje as pessoas não compreendem. Que um jovem possa guardar a sua virgindade até ao casamento e que, no caso de a sua noiva não ser virgem, ele também não tenha relações sexuais com ela".

Ora, caro Amparo, eu compreendo perfeitamente, e digo-te mesmo mais: se a minha noiva dormisse com outro, eu também não queria ter relações sexuais com ela. Mas o teu caso tem solução e chama-se vingança. Afinal, se ela pode ser desflorada por outro agora, porque é que tu não podes sê-lo por outra depois do casamento? Doce vingança, princípios mantidos, um toque de diversão: três perdidos, três ganhos.

No entanto, confesso que fiquei um pouco preocupado quando, mais à frente, o Roberto de 27 anos diz que "hoje, o normal é o contrário: perder a virgindade o mais cedo possível, aproveitar o sexo ao máximo, com um máximo de pessoas, no máximo de posições". Depois de uma frase como esta, percebo porque é que o Roberto espera virgem pelo casamento. Será, talvez, um cultor do minimalismo: sexo mínimo, uma pessoa, posição sentada. Seja como for, se para ele isto é o normal, acho que vou dar um pulo a Valência e já venho...

o público,2

De outro dia (quarta?, já não me recordo), ficou-me a inquietação da palavra "cromo" num artigo sobre a clonagem. "Cromo", no sentido em que a discussão científica e séria sobre a clonagem foi atrapalhada por verdadeiros cromos, como os raelitas. Não era uma citação, mas uma afirmação directa da jornalista no âmbito de uma reflexão sobre os 10 anos da ovelha Dolly. Alguém tem opinião sobre isto? Será que o uso já fez a palavra "cromo" passar a barreira do calão? Hum...

Seja como for, hoje também houve coisas curiosas. Por exemplo, na coluna de conselhos médicos de Helena Pinto Ferreira e Rui Represas (revista Xis, página 34), respondendo a uma dúvida sobre a doença de Crohn, diz-se que ela "pode atingir qualquer pessoa, embora seja mais comum nas mulheres, nos indivíduos de raça branca e na etnia judaica". Ora, isto é engraçado, porque a única pessoa que eu conheço com doença de Crohn é homem, mulato e de educação católica. Além do mais: etnia judaica? Na Wikipedia, "etnia" é "uma comunidade humana definida por afinidades linguísticas e culturais e semelhanças genéticas". Ora, se é que ainda faz sentido falar de semelhança genética depois da descodificação do genoma, qual é a que existe entre Francisco José Viegas e Lenny Kravitz para além daquela que existe entre todas as pessoas e que, afinal, é quase toda? E, mesmo assim, que judeus? Os sefarditas? Os asquenazi? Só na Wikipedia portuguesa há 9 grupos... Se o artigo dissesse que a doença é mais frequente em indivíduos de etnia cristã, continuaria firme na sua discrição?

o público

Pùblico gordo, hoje: O Y não foi impresso a tempo e saiu um dia depois, o que significa que os suplementos semanais que eu leio com mais frequência (o Y e o Mil Folhas) se juntaram, dando muito jeito para o comboio Lisboa-Coimbra.

A propósito, alguém me sabe explicar porque é Coimbra cheira a merda? Antes isto do que cinza, é verdade, mas ainda assim...

a raiva

Estou à janela no segundo dia de Julho e a cinza já me cai em cima.

o filme

Vi o "O Dia da Independência" na Sic. Lembro-me de tê-lo visto há anos, no cinema de Valença. É espantoso o modo como um simples filme de aventuras que aposta quase tudo nos efeitos especiais e que foi o exemplo mais representativo de uma série de filmes-catástrofe que se lhes seguiram ("Anaconda" e "O Cume de Dante" são alguns, mas também o mais recente "O Dia Depois De Amanhã") pode ser, apesar de tudo, um sinal dos tempos tão marcado. Anos 90, Ficheiros Secretos - "eles estão entre nós", dizia-se então (ah, que saudades daquelas sextas-feiras alienígenas, com um episódio de "O Terceiro Calhau a Contar do Sol" e, depois, dose dupla de Scully e Mulder), a inquietação milenarista (a importância de uma data - no filme, é a da assinatura da Declaração de Independência; na realidade, seria a passagem para o século XXI), a teoria de conspiração (no filme, nem o próprio presidente sabe da investigação sobre os ET's de Roswell). A isto, somava-se a ressaca pós-queda do Muro de Berlim: se já não havia União Soviética para ser inimigo, onde ir buscá-lo? Ao Iraque? Tentou-se, mas não deu: preso dentro do seu país- como estaria, anos mais tarde, preso dentro de uma toca -, Saddam nunca foi uma ameaça por aí além. Os Estados Unidos tinham de procurá-lo como inimigo, ao contrário da URSS, que podia procurar os EUA, e da Al-Qaeda de hoje em dia. Então, onde? Fora do planeta (extraterrestres) ou dentro do próprio (desastres naturais).

O filme também instaura uma linha "normal" de blockbusters: já não estamos no campo da Acção, que marcava a normalidade do grande filme ("O Exterminador Implacável 2", o primeiro filme a custar mais de 100 milhões de dólares, é o marco), e passamos para a Aventura, marcada por um certo tom cómico. Nota-se que se herdaram dois traços, curiosamente contraditórios, da linha anterior. Por um lado, há uma humanização das personagens, na continuidade do renovador "Die Hard" (os pés de Bruce Willis nesse filme merecem um estudo académico). Por outro lado, a desumanização é tal que se pode exterminar uma humanidade inteira sem que daí emerja um peso moral substancial. Mas, neste último ponto, talvez seja útil dizer que as mortes em "O Dia da Independência" são a causa, e não o efeito, da acção do herói - as vidas perdidas não são obstáculos à prossecução do objectivo maior (salvar quem fica). Já não se pode dizer o mesmo daqueles que se cruzam com um Exterminador com uma missão (única razão para a sua eliminação: "I'm a Terminator", dizia Schwarzenegger). É que, em "O Dia da Independência", os extraterrestres não são dignos de uma vida: a sua motivação para tomar o planeta e dizimar a humanidade nunca chega sequer a ser expressa pelos próprios. Eles são, em toda a acepção da palavra, máquinas de matar que, como tal, nunca chegam verdadeiramente a morrer, porque não são merecedores do dom "vida".

Claro, podemos sempre reflectir mais um pouco, como no porquê de serem um negro e um judeu a fazerem explodir a nave-mãe e no tom paternalista com que o resto do mundo é tratado em relação aos Estados Unidos. Mas este é um filme de banda desenhada. As respostas são óbvias.

o estarola iggy

Quem gosta de rock, tem, mais tarde ou mais cedo, de ver isto.
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