o filme: masked and anonymous
Isto poderia ser um factor de repulsa. Ainda por cima, pululam referências à obra de Dylan, a reverência que lhe é feita é notória (um rol de estrelas aceitaram ser pagas pelo mínimo sindical só para poderem entrar no projecto ao lado do cantor) e no final fica o tom de recado dado, como se isto não fosse, afinal, mais do que uma mensagem do cantor ao mundo. Afinal de contas, o jornalista morre e Dylan - Jack Fate é o nome da personagem que interpreta - é acusado da sua morte...
Então, se isto é assim, se a auto-referência é assim tão premente, porque é que o raio do filme é tão fascinante? Em entrevista, o realizador diz que considerou mais importante o processo de fazer o filme do que o resultado. No fim de contas, este filme está para Dylan como o Ocean's Eleven de 1960 esteve para Sinatra: umas férias produtivas e divertidas. Sinatra entretinha-se a beber e a jogar, Dylan entretém-se a tocar para famosos, mas não abdica de criar um universo. Talvez seja isso: isto é um filme escrito por Dylan e, apesar de ser hermético, é-o da mesma forma que as suas canções o podem ser - de um hermetismo em que parece valer a pena entrar. O curioso é pensar Masked And Anonymous na obra de Larry Charles, confrontá-lo com o extraordinariamente aberto Borat e, ainda assim, tentar encontrar pontes. Elas existem e fazem pensar no que Charles faria se, por uma vez, fizesse um filme para si próprio.