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Nestas férias vou ler. "A realização cinematográfica", de Terence Marner, é garantido. Talvez as "Teorias do Cinema" do Andrew Tudor e a "Introdução à Análise da Imagem" da Martine Joly (sim, eu gosto muito da colecção Arte e Comunicação das Edições 70). Estes talvez. Mas gostava de ler também Nuno Moura ("Os livros de Hélice Fronteira, Regina Neri, Vasquinho Dasse, Ivo Longomel, Adraar Bous, Robes Rosa, Estevão Corte e Alexandre Singleton", comprado muto baratinho na Festa do Livro) e de passar de um ano para o outro a ler Camus.

Eu tenho uma relação com Camus (aqui fotografado por Cartier-Bresson, mestre de outras andanças). Eu respeito-o, o que é estranho de se dizer. Normalmente, quando me perguntam sobre o livro da minha vida, eu começo a frase de resposta a dizer "O Estrangeiro". Nunca tão claramente (ou mesmo nunca mais) um livro me transformou tão radicalmente, no sentido de que o meu pensamento, a minha ética, tornaram-se outros depois de o ter lido aos 17 anos. Na verdade, eu fui para a universidade para ser um homem absurdo - ou seja, tentei reflectir na minha vida o que tinha lido (não só no romance em si mesmo, mas também na fantástica introdução do Sartre, o filósofo que escrevia e que acabaria por se zangar com Camus, escritor que filosofava) e por isso é que "O Estrangeiro" é o livro da minha vida. Apropriei-me dele quando tentei aplicar o seu "programa" a ela e isso nunca mais voltou a acontecer com outro livro, por falta de disposição e porque, se calhar, a própria vida só nos dá uma tentativa para que isso aconteça (não é a mesma coisa, repito, não é a mesma coisa reconhecer um livro na vida que se vive ou já se viveu).

Foi por isso mesmo, por essa relação tão forte, essa empatia tão absoluta, que só consegui ler outro livro de Camus ("A Peste") alguns anos depois. E, mais uma vez, algo semelhante a uma revelação aconteceu. Não só o livro me reconciliou com o romance numa altura em que estava francamente zangado com o género e só conseguia ler narrativas curtas, como também me apresentou à personagem Joseph Grand, de que já tinha ouvido von Trier falar no seu "Epidemic". Ora, J. Grand passou a ser uma espéie de alter-ego meu na Internet, mais uma personagem para além de mim do que um simples nickname. E não me posso esquecer - já estava para acontecer - que nenhum outro nome para este blog parecia mais apropriado quando o comecei.

É por tudo isto, por saber que Camus me diz sempre algo que vou considerar certo, por achar que eu não o devo merecer constantemente, por ter medo de que uma dose em demasia me deixe enfatuado do meu escritor preferido e por considerar que ele deve ser lido com tempo e calma (numa altura que por si mesma seja de lembrar: um verão, um natal...) - é por tudo isto que sinto como necessário ter que deixar algum tempo entre leituras de Camus.

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