$e nisto o aue d$q escrever nu, teclqdo de co,putqdor frqnc%es co,o se fosse portugues;
Sex Pistols e a interrupção voluntária da gravidez
She was a girl from Birmingham
she just had an abortion
she was a case of insanity
her name was Pauline she lived in a tree
She was a no-one who killed her baby
she sent her letters from the country
she was an animal
she was a bloody disgrace
Body I'm not an animal
Mummy I'm not an abortion
Dragged on a table in a factory
illegitimate place to be
in a packet in a lavatory
die little baby screaming
Body screaming fucking bloody mess
it's not an animal it's an abortion
Body I'm not an animal
Body I'm not an abortion
Throbbing squirm, gurgling bloody mess
I'm not a discharge I'm not a loss in
protein I'm not a throbbing squirm Ah!
Fuck this and fuck that
fuck it all and fuck the fucking brat
She don't wanna baby that looks like that
I don't wanna baby that looks like that.
Body I'm not an animal
Body i'm not an abortion
Mummy! Ugh!
she just had an abortion
she was a case of insanity
her name was Pauline she lived in a tree
She was a no-one who killed her baby
she sent her letters from the country
she was an animal
she was a bloody disgrace
Body I'm not an animal
Mummy I'm not an abortion
Dragged on a table in a factory
illegitimate place to be
in a packet in a lavatory
die little baby screaming
Body screaming fucking bloody mess
it's not an animal it's an abortion
Body I'm not an animal
Body I'm not an abortion
Throbbing squirm, gurgling bloody mess
I'm not a discharge I'm not a loss in
protein I'm not a throbbing squirm Ah!
Fuck this and fuck that
fuck it all and fuck the fucking brat
She don't wanna baby that looks like that
I don't wanna baby that looks like that.
Body I'm not an animal
Body i'm not an abortion
Mummy! Ugh!
O porquê de poucos ou nenhuns posts até dia 2 de Maio
Amanhã vou para França, participar, como vencedor do Nisimasa, no 8ème Festival du film court em Caen. Vai ser a primeira grande viagem que vou fazer completamente sozinho. Tirando a da vida, é claro.
Mas o euro é que vai ser
- Na avenida Sá da Bandeira, em Coimbra, mesmo em frente ao centro comercial, há semáforos que dão verde para os peões, mas não há outros que dêem vermelho para os carros.
- Estão avariados?
- Não, não, nunca houve.
- Estão avariados?
- Não, não, nunca houve.
Estou neste preciso momento a ouvir a entrevista de Howard Zinn ao programa "The Majority Report", que é da novíssima Air America Radio. Uma rádio americana com influência de esquerda, parecida com um "The Daily Show", mas sem falsificar notícias e sem as limitações de tempo da televisão? Sim, ou, nas palavras da própria,
Air America Radio is a collaborative effort that brings together a group of experienced radio entrepreneurs with a talented team of creative artists. We are a new voice in talk radio: a smart voice with a sense of humor. It brings to the marketplace an unserved need. We give voice to what millions of Americans are thinking, but can't hear on radio. Until now!
É verdade, talk-radio séria, mas feita por um grupo heterogéneo que inclui desde comediantes a jornalistas (e que, infelizmente, ainda está a estabilizar de um começo conturbado...) . Claro que, para isso acontecer em Portugal (ou na Europa?...), seria necessário uma grande evolução, tanto nos comediantes como nos jornalistas. Nós ainda vamos no Fernando Rocha e no José António Saraiva. Não me parece...
Air America Radio is a collaborative effort that brings together a group of experienced radio entrepreneurs with a talented team of creative artists. We are a new voice in talk radio: a smart voice with a sense of humor. It brings to the marketplace an unserved need. We give voice to what millions of Americans are thinking, but can't hear on radio. Until now!
É verdade, talk-radio séria, mas feita por um grupo heterogéneo que inclui desde comediantes a jornalistas (e que, infelizmente, ainda está a estabilizar de um começo conturbado...) . Claro que, para isso acontecer em Portugal (ou na Europa?...), seria necessário uma grande evolução, tanto nos comediantes como nos jornalistas. Nós ainda vamos no Fernando Rocha e no José António Saraiva. Não me parece...
Começo a pensar que a solução para a Associação Académica de Coimbra, a (cada vez menos) longo prazo, passa pelo fim de dois dogmas: o da inscrição automática dos estudantes como sócios aquando do momento da sua matrícula; o da consideração da qualidade de estudante como diferenciador no estatuto de associado.
I'm going through changes
Não percebo para quê tanta conversa sobre o voto em branco. E a abstenção, não?
meanings of life
Estive as férias todas a criar ideias sobre Pandora. Há dias, exausto e vendo alguns minutos de televisão antes de adormecer, o meu cérebro apitou quando vi uma publicidade a uma "associação Pandora". E anteontem, último dia, tirei o chapéu que usei sempre ao escrever e vi que tem escrito de lado "uma ideia para férias".
- So what happens is... they fornicate.
- What's that, Pete? I thought it was a little station outside Chipping Ongar!
- No no no!
- That's the trouble always sitting here in the back.
kinja
Obviamente, eu partilho do entusiasmo à volta dos blogs enquanto instrumentos de superação da sobre-informação. Partilho dele ainda mais quando surgem instrumentos como o kinja, que permite que cada um faça o seu blog de blogs (gostaria ainda mais se a znet se decidisse abrir o seu zblog, mas não se pode ter tudo...).
encontrados por sorte, mesmo, mesmo antes de sair da internet...
... o blog pessoal de Nick Denton (suponho que já será um gigante da Internet - pelo menos, sê-lo-á da blogosfera), que acabou de lançar o "blog dos blogs"; este interessante blog pessoal sobre leituras; e isto, que não sei se é bom ou mau, mas que parece pelo menos ter potencialidades para vir a ser algo de qualquer coisa.
there's no place like home
É claro que o Japão não pode retirar agora. Enquanto o mesmo não acontecer com portugueses ninguém se importa; é fodido, é normal, é a vida, é a morte, etc.
Talvez se fecharmos os olhos e esperarmos que tudo o que tem de acontecer aconteça - talvez depois os possamos abrir outra vez e dizer "Vai-te, porque tu és culpado". Quantas vezes?
Talvez se fecharmos os olhos e esperarmos que tudo o que tem de acontecer aconteça - talvez depois os possamos abrir outra vez e dizer "Vai-te, porque tu és culpado". Quantas vezes?
resposta às respostas às respostas estacionadas
Felizmente, esta é uma das potencialidades dos blogs (bravo, João André - como qualquer bom engenheiro, disseste tudo falando pouco). Antes 20 ligações no Technorati por discussões e trocas de ideias do que 500 por indexes de coluna...
Bom, caro Sérgio, acho que começamos a chegar ao ponto da questão em que os argumentos, as concordâncias e as discordâncias ficam com os limites bem definidos. O que Wittgenstein não diria de nós! Tu dizes "Tenho a certeza que não temos uma justiça "terceiro-mundista" ou "terrorista" (este último termo não é teu), no sentido pejorativo dos rótulos. Acredito que temos uma justiça imperfeita. Infelizmente, imperfeita ainda em muitas coisas". Bem, lá está, é claro que a justiça é imperfeita e ainda dentro de um certo limite de desespero; eu não procurava ser pejorativo. Eis como o entendimento sobre uma expressão em particular - "terceiro-mundista" - dá azo a uma discussão que acaba por tornar-se mais sobre usos de linguagem do que sobre outra coisa qualquer. Bem, eu falava de terceiro-mundista neste sentido. Claro, Sérgio, também eu já vou vendo o que vai acontecendo na prática e também eu, como tu, acredito na vontade de muitas pessoas de mudar as coisas (tal como não acredito na de muitos outros, enfim, acho que cá nos entendemos...). Mas a minha posição é a de que só podemos partir das nossas falhas conhecendo-as e, se relatórios insuspeitos como o que cito acima ainda fazem um retrato tão precário da nossa Justiça - com descrição de situações verdadeiramente "terceiro-mundistas" -, é por aí que é preciso lucidamente começar.
Segundo, acho que ficou logo expresso que não duvido da seriedade profissional do juiz de instrução do processo de Entre-os-Rios. Apenas me pronunciei abertamente contra a tendência jurisdicional que a decisão dele me pareceu reflectir. Os males necessários nas decisões são como a pobreza, sempre existirão. O que não significa que nos tenhamos de conformar com eles, principalmente quando o que se começa a ressentir é o próprio sentido do justo.
Quanto ao filme, claro, faz como te apetecer - só não te esqueças dele (principalmente, não te esqueças de dizer qualquer coisa quando o vires). ;-)
a propósito, alguém sabia que este meco também por aqui andava?
Bom, caro Sérgio, acho que começamos a chegar ao ponto da questão em que os argumentos, as concordâncias e as discordâncias ficam com os limites bem definidos. O que Wittgenstein não diria de nós! Tu dizes "Tenho a certeza que não temos uma justiça "terceiro-mundista" ou "terrorista" (este último termo não é teu), no sentido pejorativo dos rótulos. Acredito que temos uma justiça imperfeita. Infelizmente, imperfeita ainda em muitas coisas". Bem, lá está, é claro que a justiça é imperfeita e ainda dentro de um certo limite de desespero; eu não procurava ser pejorativo. Eis como o entendimento sobre uma expressão em particular - "terceiro-mundista" - dá azo a uma discussão que acaba por tornar-se mais sobre usos de linguagem do que sobre outra coisa qualquer. Bem, eu falava de terceiro-mundista neste sentido. Claro, Sérgio, também eu já vou vendo o que vai acontecendo na prática e também eu, como tu, acredito na vontade de muitas pessoas de mudar as coisas (tal como não acredito na de muitos outros, enfim, acho que cá nos entendemos...). Mas a minha posição é a de que só podemos partir das nossas falhas conhecendo-as e, se relatórios insuspeitos como o que cito acima ainda fazem um retrato tão precário da nossa Justiça - com descrição de situações verdadeiramente "terceiro-mundistas" -, é por aí que é preciso lucidamente começar.
Segundo, acho que ficou logo expresso que não duvido da seriedade profissional do juiz de instrução do processo de Entre-os-Rios. Apenas me pronunciei abertamente contra a tendência jurisdicional que a decisão dele me pareceu reflectir. Os males necessários nas decisões são como a pobreza, sempre existirão. O que não significa que nos tenhamos de conformar com eles, principalmente quando o que se começa a ressentir é o próprio sentido do justo.
Quanto ao filme, claro, faz como te apetecer - só não te esqueças dele (principalmente, não te esqueças de dizer qualquer coisa quando o vires). ;-)
a propósito, alguém sabia que este meco também por aqui andava?
Brummel
Ontem, muito tarde, folheava a enciclopédia sem compromisso e, logo a seguir a "Brumário", vinha um inglês que morreu louco na cidade francesa que vou visitar daqui a algumas semanas.
respostas estacionadas - para Adeodato
E para finalizar esta noite de posts, saudoso Adeodato, não te posso dizer que ler a frase "Quando estes me disserem que a decisão foi injusta então concordarei" (comentário a este post do Sérgio) não me deixou inquieto.
respostas estacionadas – para Sérgio, III
Por último, caro amigo, quanto à contra-crítica ao “A Paixão de Cristo” e continuando com a estrutura anterior:
1. “«a coragem» de ensanguentar e dilacerar o corpo de Cristo”. A “coragem” de que falo na minha crítica não é adequada ou não deve ser tomada no sentido de “falta de medo” (se bem que a expressão de uma visão pessoal seja sempre algo de corajoso – este filme não é um filme de Hollywood e foi feito unicamente por causa da vonatde de Gibson): deve antes ser entendida como um arrojo de dar a mostrar uma novidade em que, a bem dizer, não há novo. É que não foi Gibson, repare-se, a ensanguentar e a dilacerar Cristo – foram os romanos (e, depois, os evangelistas, nas suas narrativas). O estimulante do filme é precisamente o facto de narrar a Paixão – história pendurada ou azulejada ou representada por qualquer outra forma em quantas paredes de igrejas por esse mundo fora? – com o realismo que já existia verbalmente e que nunca tinha sido transposto para imagem. Há por isso algo de radicalmente novo, não no filme enquanto filme, mas enquanto narração da morte de Cristo. A história existe há 2000 anos e faz parte elementar da nossa cultura, da cultura ocidental. É história que já é género em si mesma, é um mito primordial que ultrapassa os limites do religioso. Digamos que este filme pouco estimulante conta de modo impressionantemente novo uma história de milénios tornada já quase disciplina artística e que sempre trouxe incorporada a dimensão que ele explicita.
2. “também capaz de ser esfolado vivo no grande ecrã, da mesma forma que um sem número de outras personagens «vazias» de dimensão moral”. Esfolado, sim; mas não sem personalidade. O que se passa em “A Paixão de Cristo” é que o filme dá uma noção sem rival do corpo de Cristo. Ele inventa-o de modo incontornável, porque se deixa encher por ele. Por isso, não é do “sacrifício de um homem” de que se fala – é do sacrifício de um corpo que nunca antes tinha existido e que foi desta feita inventado com tanta intensidade.
3. Dizer “ser o primeiro a traduzir por imagens a violência inerente à história de Cristo, enquanto outros preferiram explorar as suas relações com as pessoas, a sua bonomia, a sua santidade, etc.”, desvalorizando assim o que Gibson teria conseguido, implica logicamente uma desconsideração da violência enquanto instrumento de narração. E, citando Tarantino, “dizer que não se gosta de cenas de violência nos filmes é tão ridículo como dizer que não se gosta de cenas de dança nos filmes”.
4. Não há nada de mal com “A Vida de Brian” (embora eu pessoalmente prefira “O Santo Graal”). Mas deixa-me pôr-te a questão nestes termos: se vivêssemos na Nápoles de inícios do século XVII e Caravaggio tivesse acabado de pintar o seu “Sete Actos de Misericórdia”, eu dizia-te para ires ver, mesmo que ninguém tivesse gostado do quadro. Porque, tal como com este filme, bom ou mau, nunca ninguém tinha visto aquilo daquele modo. Ou, ainda melhor, nunca ninguém tinha visto aquilo que já toda a gente sabia.
respostas estacionadas – para Sérgio, II
O nosso diálogo, Sérgio, continuou neste longo post. Respondo-te agora assim às ideias que apresentas nos diferentes parágrafos e a que respondo seguindo a numeração que lhes deste. Perdoa-me se por vezes parecer telegráfico, mas esclarecimentos poderão ser pedidos ou enganos desfeitos na caixa de comentários.
1.
- “dolo ou negligência”; “cheias anormais dos anos 2000-2001”. Pergunto eu: não é negligência que, numa ocasião de cheias anormais, se permita a continuação da circulação sobre uma ponte em condições de conservação duvidosas?
- “foi sob o ponto de vista estritamente jurídico que o Dato interveio, na avaliação da decisão e na sua crítica”. Frequentemente – e a dificuldade de avaliação por que o juiz Nuno Melo deverá ter passado prender-se-á exactamente com este ponto – não há “estritamente jurídico”. Este tipo de casos é extremamente difícil de julgar, exactamente porque exige referentes que o juiz não terá e que, por isso, o levam à consulta de peritos, pareceres técnicos, etc. Ninguém me convence que (e tendo em conta o teor dos outros relatos periciais que Nuno Melo preteriu na decisão), sendo a orientação dominante nos tribunais a de uma maior responsabilização em relação à “res publica”, a decisão teria sido igual.
2. “mais do que criticar uma sentença que não encontra culpa sob o ponto de vista penal, devemos criticar de forma responsável todo um aparelho de Estado e todo um conjunto de forças políticas que renunciaram ao apuramento das responsabilidades, directas ou indirectas, pela tragédia, sentando-se à sombra de um processo judicial que, como sempre, tinha poucas pernas para andar”. Quanto a isto, nada a dizer, completamente de acordo. Mas não devemos também opor-nos ao perpetuar de uma tendência jurisdicional que é apenas mais uma manifestação da mesma problemática raiz?
3. “Preocupa-me (...) que não se saiba criticar em Portugal, que não se saiba discutir em Portugal”. Pá, não sei o que te dizer. Às vezes, as pessoas dizem aquilo que podem, não aquilo que querem. Basta-lhes o alívio de dizerem. Quando se torna demasiado mau, acho que o melhor é mesmo mudar de canal. Mas, sim, Portugal precisa urgentemente - parece-me fundamental, mesmo para o tratamento de outros problemas (falta de intervenção política, abstenção eleitoral, etc.) – de um programa de educação e preparação para a cidadania para todos os cidadãos e com uma maior incidência, é claro, sobre aqueles em idade escolar.
1.
- “dolo ou negligência”; “cheias anormais dos anos 2000-2001”. Pergunto eu: não é negligência que, numa ocasião de cheias anormais, se permita a continuação da circulação sobre uma ponte em condições de conservação duvidosas?
- “foi sob o ponto de vista estritamente jurídico que o Dato interveio, na avaliação da decisão e na sua crítica”. Frequentemente – e a dificuldade de avaliação por que o juiz Nuno Melo deverá ter passado prender-se-á exactamente com este ponto – não há “estritamente jurídico”. Este tipo de casos é extremamente difícil de julgar, exactamente porque exige referentes que o juiz não terá e que, por isso, o levam à consulta de peritos, pareceres técnicos, etc. Ninguém me convence que (e tendo em conta o teor dos outros relatos periciais que Nuno Melo preteriu na decisão), sendo a orientação dominante nos tribunais a de uma maior responsabilização em relação à “res publica”, a decisão teria sido igual.
2. “mais do que criticar uma sentença que não encontra culpa sob o ponto de vista penal, devemos criticar de forma responsável todo um aparelho de Estado e todo um conjunto de forças políticas que renunciaram ao apuramento das responsabilidades, directas ou indirectas, pela tragédia, sentando-se à sombra de um processo judicial que, como sempre, tinha poucas pernas para andar”. Quanto a isto, nada a dizer, completamente de acordo. Mas não devemos também opor-nos ao perpetuar de uma tendência jurisdicional que é apenas mais uma manifestação da mesma problemática raiz?
3. “Preocupa-me (...) que não se saiba criticar em Portugal, que não se saiba discutir em Portugal”. Pá, não sei o que te dizer. Às vezes, as pessoas dizem aquilo que podem, não aquilo que querem. Basta-lhes o alívio de dizerem. Quando se torna demasiado mau, acho que o melhor é mesmo mudar de canal. Mas, sim, Portugal precisa urgentemente - parece-me fundamental, mesmo para o tratamento de outros problemas (falta de intervenção política, abstenção eleitoral, etc.) – de um programa de educação e preparação para a cidadania para todos os cidadãos e com uma maior incidência, é claro, sobre aqueles em idade escolar.
respostas estacionadas - para Sérgio, I
Chegou a altura de continuar (finalmente, e agora que tenho algum tempo) as trocas de ideias que uma série de posts dos últimos tempos têm propiciado. Comecemos então pelo início.
Começou aqui o Sérgio a comentar a decisão do juiz de instrução Nuno Melo de não pronunciar nenhum dos acusados no caso da ponte de Entre-os-Rios. Irritam-te as pessoas que, tomadas de raiva ou de vã vontade de falar, dizem que a Justiça portuguesa é terceiro-mundista, caro Sérgio. Percorramos então os principais tópicos da justiça nacional. Condições sub-humanas nas prisões (por vezes, verdadeiros atentados à dignidade da vida humana, em que a República Portuguesa se baseia), atrasos injustificáveis nas decisões judiciais, tribunais a funcionarem em lugares pouquíssimo próprios (prédios de escritórios, edifícios degradados, falta de condições de arquivamento, falta de capacidade de atendimento físico, etc.), prisões preventivas a prolongarem-se para além do impensável, atrapalhações e demoras burocráticas, corporativismo e prepotência dos magistrados judiciais, falta de seriedade no relacionamento de advogados com os clientes e com os colegas, falta de confiança generalizada nos resultados da Justiça (com todas as consequências perniciosas de quem, desesperado, decide fazer justiça pelas próprias mãos)... não há algo (bastante) de terceiro-mundista a revelar-se numa decisão do Supremo Tribunal Administrativo que ordena o pagamento pelo Estado de uma renda mensal a um homem que espera há vinte anos por uma decisão para o caso em que perdeu tudo aquilo que tinha? Claro, ainda bem que temos instituições a funcionar que velam pelas que não funcionam e, mais importante, por nós. Mas há algo de malsão em tudo isto. Terceiro-mundista? Talvez, muito provavelmente, Sérgio.
Depois, no mesmo post, segue-se a tua inconformidade com o exagero e absurdo das intervenções no Fórum Tsf. Acredito que grande parte dessa tua indignação tenha vindo de uma amostra concentrada de opiniões exaltadas e a quererem fazer-se desesperadamente ouvir, independentemente da maior ou menor razão que poderiam ter.
Penso na Justiça enquanto ambição seminal, talvez utópica, de paz social (sem querer com isto pretender uma revisão de teses penalistas: mantenhamo-nos informais...), até porque a noção de “justo” implica, necessariamente, a invocação de referentes sociais (“o que é justo”, pergunte-se). Ora, tendo isto em conta, considero mais insultuosas do que as declarações precipitadas de pessoas menos informadas – apesar de tudo, a precipitação é um direito delas! – as decisões judiciais baseadas em noções estéreis e carcomidas, tantas vezes desactualizadas e infectadas pelo vírus do medo à autoridade, que tanto criticámos, eu e tu, na nossa passagem pela Faculdade de Direito. Certo, em Portugal gostamos de falar mal uns dos outros. Não elogiamos quando as coisas são bem feitas e preferimos perguntar porque não foram feitas de modo melhor. Mas não é esse um dos males necessários da sociedade democrática, da qual também fazem parte, para além das administrações, mesmo as instâncias judiciais que, sendo autónomas, também trazem consigo lastro de Estado no carácter, devendo estar assim sujeitas às críticas de cidadãos?
Começou aqui o Sérgio a comentar a decisão do juiz de instrução Nuno Melo de não pronunciar nenhum dos acusados no caso da ponte de Entre-os-Rios. Irritam-te as pessoas que, tomadas de raiva ou de vã vontade de falar, dizem que a Justiça portuguesa é terceiro-mundista, caro Sérgio. Percorramos então os principais tópicos da justiça nacional. Condições sub-humanas nas prisões (por vezes, verdadeiros atentados à dignidade da vida humana, em que a República Portuguesa se baseia), atrasos injustificáveis nas decisões judiciais, tribunais a funcionarem em lugares pouquíssimo próprios (prédios de escritórios, edifícios degradados, falta de condições de arquivamento, falta de capacidade de atendimento físico, etc.), prisões preventivas a prolongarem-se para além do impensável, atrapalhações e demoras burocráticas, corporativismo e prepotência dos magistrados judiciais, falta de seriedade no relacionamento de advogados com os clientes e com os colegas, falta de confiança generalizada nos resultados da Justiça (com todas as consequências perniciosas de quem, desesperado, decide fazer justiça pelas próprias mãos)... não há algo (bastante) de terceiro-mundista a revelar-se numa decisão do Supremo Tribunal Administrativo que ordena o pagamento pelo Estado de uma renda mensal a um homem que espera há vinte anos por uma decisão para o caso em que perdeu tudo aquilo que tinha? Claro, ainda bem que temos instituições a funcionar que velam pelas que não funcionam e, mais importante, por nós. Mas há algo de malsão em tudo isto. Terceiro-mundista? Talvez, muito provavelmente, Sérgio.
Depois, no mesmo post, segue-se a tua inconformidade com o exagero e absurdo das intervenções no Fórum Tsf. Acredito que grande parte dessa tua indignação tenha vindo de uma amostra concentrada de opiniões exaltadas e a quererem fazer-se desesperadamente ouvir, independentemente da maior ou menor razão que poderiam ter.
Penso na Justiça enquanto ambição seminal, talvez utópica, de paz social (sem querer com isto pretender uma revisão de teses penalistas: mantenhamo-nos informais...), até porque a noção de “justo” implica, necessariamente, a invocação de referentes sociais (“o que é justo”, pergunte-se). Ora, tendo isto em conta, considero mais insultuosas do que as declarações precipitadas de pessoas menos informadas – apesar de tudo, a precipitação é um direito delas! – as decisões judiciais baseadas em noções estéreis e carcomidas, tantas vezes desactualizadas e infectadas pelo vírus do medo à autoridade, que tanto criticámos, eu e tu, na nossa passagem pela Faculdade de Direito. Certo, em Portugal gostamos de falar mal uns dos outros. Não elogiamos quando as coisas são bem feitas e preferimos perguntar porque não foram feitas de modo melhor. Mas não é esse um dos males necessários da sociedade democrática, da qual também fazem parte, para além das administrações, mesmo as instâncias judiciais que, sendo autónomas, também trazem consigo lastro de Estado no carácter, devendo estar assim sujeitas às críticas de cidadãos?
- We'd like to carry on now and play a song originally recorded by Mose Allison , who's really a jazz musician and I did read something on one of his record covers which said he was a "jazz sage". And what that means I don't know.
- It's a flavour of chicken.
19:10h de ontem
Na sala de espera da Estação Rodoviária de Coimbra, um velho, duas velhas e uma rapariga nova cantam coisas de Jesus: "Quero-te hoje mais em mim" e etc. A rapariga de pé, tem um mini-rádio na mão e dança, ou melhor, mexe os pés para a esquerda e para a direita sem sair do lugar. Há bocado, uma das velhas dançou mesmo, a erguer as mãos como num rancho folclórico. Parecem felizes.
a decapitada
Perto da minha casa, há um salão de estética. Nesse salão de estética, há uma cabeça de mulher com uma peruca. Essa cabeça de mulher fica mesmo ao nível dos olhos de quem passa na rua. Há quem lhe chame Maria Antonieta.
"A Paixão de Cristo"
finalmente, e a pedido de muitas famílias...
Ontem vi o filme. E, como objecto cinematográfico, tem coisas de muito mau gosto. A gota de chuva digitalizada, as cenas em "ralenti", a utilização do filme como instrumento de doutrina e de moralização com os flashbacks. Tudo isto diminui o valor do objecto cinematográfico e o da realização (que é, antes de mais e principalmente, concepção).
No entanto, parece-me um filme essencialíssimo. Gibson (que consegue aqui passar definitivamente à categoria de "realizador" na consciência colectiva) falha e cai no mau gosto precisamente quando pretende fazer com que não se perca a dimensão moral, porque o filme existe - esse é o plano em que sobrevive, o que o justifica na sua essência, o que revela a sua urgência enquanto narrativa - enquanto documento não de Cristo enquanto Deus, não de Cristo enquanto homem, mas sim de Cristo enquanto corpo. "A Paixão de Cristo" mostra-nos o corpo de Cristo e, por isso, é talvez o passo definitivo na tendência que a história de 2000 anos tomou desde o século passado, a de humanização da figura. Ora, o humano tem, em si mesmo, várias dimensões. A dúvida de Scorsese, a juventude de Jewison, tudo isso foi renovador, tudo isso foi um passo em frente. Gibson leva o Cristo-homem até ao ponto onde o Verbo não pode ser mais Verbo: até à pele, ao sangue, à carne e ao osso. É nisto que se concentra, é nisto que renova. Nunca a história de Cristo chegou a este ponto, nunca mais será Cristo tão pouco emanação.
Com todas as escapadelas místicas, com todas as câmaras lentas de mau gosto, "A Paixão de Cristo" explora o sentido das palavras na história universalmente conhecida da Paixão, história que, quando encenada nas aldeias por alturas da Páscoa, tem as paragens pontuadas com narrações breves do clérigo que descrevem o episódio. "Aqui Jesus foi chicoteado, pontapeado pelos soldados romanos" ou "coroado com uma coroa de espinhos", por exemplo. Nunca ninguém tinha tido a coragem de mostrar isto, a crueldade que sempre existiu nesta história e que as palavras, pela sua capacidade simbólica, escondiam. Para o bem e para o mal, e com todos os seus defeitos, Gibson foi o primeiro. Essencial ver, essencial.
Ontem vi o filme. E, como objecto cinematográfico, tem coisas de muito mau gosto. A gota de chuva digitalizada, as cenas em "ralenti", a utilização do filme como instrumento de doutrina e de moralização com os flashbacks. Tudo isto diminui o valor do objecto cinematográfico e o da realização (que é, antes de mais e principalmente, concepção).
No entanto, parece-me um filme essencialíssimo. Gibson (que consegue aqui passar definitivamente à categoria de "realizador" na consciência colectiva) falha e cai no mau gosto precisamente quando pretende fazer com que não se perca a dimensão moral, porque o filme existe - esse é o plano em que sobrevive, o que o justifica na sua essência, o que revela a sua urgência enquanto narrativa - enquanto documento não de Cristo enquanto Deus, não de Cristo enquanto homem, mas sim de Cristo enquanto corpo. "A Paixão de Cristo" mostra-nos o corpo de Cristo e, por isso, é talvez o passo definitivo na tendência que a história de 2000 anos tomou desde o século passado, a de humanização da figura. Ora, o humano tem, em si mesmo, várias dimensões. A dúvida de Scorsese, a juventude de Jewison, tudo isso foi renovador, tudo isso foi um passo em frente. Gibson leva o Cristo-homem até ao ponto onde o Verbo não pode ser mais Verbo: até à pele, ao sangue, à carne e ao osso. É nisto que se concentra, é nisto que renova. Nunca a história de Cristo chegou a este ponto, nunca mais será Cristo tão pouco emanação.
Com todas as escapadelas místicas, com todas as câmaras lentas de mau gosto, "A Paixão de Cristo" explora o sentido das palavras na história universalmente conhecida da Paixão, história que, quando encenada nas aldeias por alturas da Páscoa, tem as paragens pontuadas com narrações breves do clérigo que descrevem o episódio. "Aqui Jesus foi chicoteado, pontapeado pelos soldados romanos" ou "coroado com uma coroa de espinhos", por exemplo. Nunca ninguém tinha tido a coragem de mostrar isto, a crueldade que sempre existiu nesta história e que as palavras, pela sua capacidade simbólica, escondiam. Para o bem e para o mal, e com todos os seus defeitos, Gibson foi o primeiro. Essencial ver, essencial.
Bully
Segundo tomo da trilogia começada com "Kids" e acabada com "Ken Park". É o filme que mostra até que ponto Clark não é um mero "voyeur". O sexo é compreendido de uma maneira, parece-me, muito instrumental. Podemos questionar até que ponto é que há gratuitidade ou não na exposição sexual, mas eu opto a favor de Clark. O sexo cumpre um papel muito definido na definição das relações entre as personagens e só surge até ao momento em já não é preciso para nada. E o sexo, que em "Kids" era infecção e aqui é simples transacção, é redenção em "Ken Park". Isso, e o papel cada vez mais secundário (infantil?) dos adultos nos filmes do realizador, em que os adolescentes tomam o lugar de donos ou herdeiros do mundo.
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