o balanço
Como sou anarca, lento de raciocínio e, acima de tudo, atrasado crónico em consumos, não me importo muito com a data de embalagem do que me passou pela cabeça. Aqui falo do que mais me deu para pensar no ano de 2007.
Foi este ano que, quanto a mim, os blogs de mp3 superaram definitivamente o p2p como fonte de música. Só assim para ter descoberto o muito bom Goodbye Brains, de Coley. Outras bandas deram-se ao luxo de oferecer as suas próprias músicas. Os Radiohead foram uma delas, mas bem melhor do que o In Rainbows foi o Do Schopenhauer até à Lapa ou vendo cama tripartida + colchão de látex, dos Isabelle Chase Otelo Saraiva de Carvalho, que só podem ser felicitados por este ano terem começado a colocar as obras em ficheiros únicos. Ainda assim, o disco mais espantoso que ouvi em 2007 é de 1975. Chama-se Estudando o Samba e é do Tom Zé.
2007 também foi o ano em que descobri podcasts que me convenceram definitivamente: o Sound Opinions, o SMtv, o Fresh Air, o All Songs Considered e, no vídeo, o Charlie Rose e a Boing Boing TV.
Na comédia, vi tudo o que consegui dos Flight of the Conchords e do Zach Galifianakis. Fiquei também com vontade de ver mais Dan Mintz do que os poucos vídeos online que encontrei.
As séries de eleição foram a Entourage, o Dexter (ainda só vi um episódio da segunda temporada e não me agradou, mas a ver vamos) e a Californication - e, fale-se bem ou mal do ER, não esqueci o episódio de que falei aqui.
Foi um prazer rever o Living In Oblivion, esse belíssimo exemplo de como nos anos 90 se sabia fazer cinema com pouco mais do que um décor. Bug mostrou que o veterano Friedkin já tinha a lição aprendida. Juntamente com Swimming To Cambodia (ver finalmente Spalding Gray foi iluminador) e Glengarry Glen Ross, serviram para eu compreender que, ao contrário do que duas velhas belgas uma vez me quiseram impingir, estou-me bem a cagar para guerrilhas entre o cinema e o teatro. Masked and Anonymous é um exercício perturbante de delírio à volta da personagem Bob Dylan - será bom para contrapor ao esperado I'm Not There - e Guy foi magistral em 1997 a tratar questões de 2007 (a vigilância, a privacidade, o voyeurismo do público). Por fim, Zach Galifianakis Live At The Purple Onion! é um grande filme de stand-up. Vejam, está disponível online.
Li pouquíssimas coisas que me tivessem deixado a pensar nelas, o que não deixa de ser estranho, pois foi de certeza na Amazon que gastei mais dinheiro a comprar mais livros por menos dinheiro (acho que me compreendem). Ficaram-me o Wilt (o Sharpe é querido por estas bandas) e o Como Falar dos Livros que Não Lemos?, para além da descoberta de Daniil Harms, que me aumentou muito o interesse nas micronarrativas.
A Matéria do Tempo terminou, o que é uma pena - era um fascinante blog que nada tinha de narcísico. Não é normal. Também defunta, a curiosa experiência do diário de um quiosque, que, da Praça 8 de Maio da Figueira da Foz, mostrava ao mundo que bastam 6 metros quadrados para haver assunto. Mas também houve muitos blogs vivos, como o de Julian Gough, autor de Divine Comedy (o melhor ensaio que li em 2007 e que tive a oportunidade de traduzir para o PFtv Blog); o Frescas e Boas, do João Tomé, olho atento ao que se vai fazendo de comédia, televisão e cinema, tal como o excelente André Santos, a quem ainda não percebi se gosta realmente do Dexter ou não; o No Centro do Arco, do poeta João Rasteiro, antigo companheiro da Oficina de Poesia e que ainda não tinha mencionado aqui; a ana de amsterdam e o Womenage a Trois, que me deram a sensação de os ter descoberto com atraso; o dias felizes, do Rui Manuel Amaral, mais um rastilho para o bichinho da micronarrativa, cujas histórias não raras vezes me serviam para respirar durante o dia. Por qualquer razão que não sei explicar, acho que o Tiago Galvão, o Miguel Marques (o mesmo que entrou em antologias dos Jovens Criadores comigo, presumirei bem?), o Lourenço Bray e o manuel a. domingos seriam gajos excelentes com quem formar um Fight Club - e digo isto no melhor dos sentidos. No cinema, dois sobreviventes da defunta Premiere, o Deuxieme e o Dias de Criswell, salvaram a honra da casa, e o Diário de Blindness, o blog da rodagem do que será o primeiro grande filme americano inspirado num romance português, foi referência. Errol Morris, um enorme documentarista, também começou a blogar para o New York Times, com textos espaçados, reflectidos, fascinantes. Na fotografia, pareceu-me que a Joana Linda está a aguentar bem o novo espaço dela, o que só é bom para todos nós (e ainda melhor para o Miguel Marques). Já o Bandeira ao Vento é porventura o blog de humor português de que menos se fala, o que não se compreende. Os Não Tens Piada (curioso título) e A Dupla Personalidade fizeram a melhor colaboração do ano e as notícias e o blog do site Dead Frog foram uma ferramenta essencial de trabalho. Na literatura, o Blogtailors e o Bibliotecário de Babel ressaltaram, e é curioso reparar como parece que vieram para o online algumas presenças que parecem estar a ficar sem lugar na imprensa escrita. O Augusto M. Seabra foi notório - será também o caso do Jornal de Letras?
Para acabar com isto tudo, fiquem com o vídeo/canção em que de certeza mais carreguei no "play" durante 2007 e aproveitem para recordar a Jane Fonda a envergonhar o Colbert e a Marine a ser surpreendida.
Foi este ano que, quanto a mim, os blogs de mp3 superaram definitivamente o p2p como fonte de música. Só assim para ter descoberto o muito bom Goodbye Brains, de Coley. Outras bandas deram-se ao luxo de oferecer as suas próprias músicas. Os Radiohead foram uma delas, mas bem melhor do que o In Rainbows foi o Do Schopenhauer até à Lapa ou vendo cama tripartida + colchão de látex, dos Isabelle Chase Otelo Saraiva de Carvalho, que só podem ser felicitados por este ano terem começado a colocar as obras em ficheiros únicos. Ainda assim, o disco mais espantoso que ouvi em 2007 é de 1975. Chama-se Estudando o Samba e é do Tom Zé.
2007 também foi o ano em que descobri podcasts que me convenceram definitivamente: o Sound Opinions, o SMtv, o Fresh Air, o All Songs Considered e, no vídeo, o Charlie Rose e a Boing Boing TV.
Na comédia, vi tudo o que consegui dos Flight of the Conchords e do Zach Galifianakis. Fiquei também com vontade de ver mais Dan Mintz do que os poucos vídeos online que encontrei.
As séries de eleição foram a Entourage, o Dexter (ainda só vi um episódio da segunda temporada e não me agradou, mas a ver vamos) e a Californication - e, fale-se bem ou mal do ER, não esqueci o episódio de que falei aqui.
Foi um prazer rever o Living In Oblivion, esse belíssimo exemplo de como nos anos 90 se sabia fazer cinema com pouco mais do que um décor. Bug mostrou que o veterano Friedkin já tinha a lição aprendida. Juntamente com Swimming To Cambodia (ver finalmente Spalding Gray foi iluminador) e Glengarry Glen Ross, serviram para eu compreender que, ao contrário do que duas velhas belgas uma vez me quiseram impingir, estou-me bem a cagar para guerrilhas entre o cinema e o teatro. Masked and Anonymous é um exercício perturbante de delírio à volta da personagem Bob Dylan - será bom para contrapor ao esperado I'm Not There - e Guy foi magistral em 1997 a tratar questões de 2007 (a vigilância, a privacidade, o voyeurismo do público). Por fim, Zach Galifianakis Live At The Purple Onion! é um grande filme de stand-up. Vejam, está disponível online.
Li pouquíssimas coisas que me tivessem deixado a pensar nelas, o que não deixa de ser estranho, pois foi de certeza na Amazon que gastei mais dinheiro a comprar mais livros por menos dinheiro (acho que me compreendem). Ficaram-me o Wilt (o Sharpe é querido por estas bandas) e o Como Falar dos Livros que Não Lemos?, para além da descoberta de Daniil Harms, que me aumentou muito o interesse nas micronarrativas.
A Matéria do Tempo terminou, o que é uma pena - era um fascinante blog que nada tinha de narcísico. Não é normal. Também defunta, a curiosa experiência do diário de um quiosque, que, da Praça 8 de Maio da Figueira da Foz, mostrava ao mundo que bastam 6 metros quadrados para haver assunto. Mas também houve muitos blogs vivos, como o de Julian Gough, autor de Divine Comedy (o melhor ensaio que li em 2007 e que tive a oportunidade de traduzir para o PFtv Blog); o Frescas e Boas, do João Tomé, olho atento ao que se vai fazendo de comédia, televisão e cinema, tal como o excelente André Santos, a quem ainda não percebi se gosta realmente do Dexter ou não; o No Centro do Arco, do poeta João Rasteiro, antigo companheiro da Oficina de Poesia e que ainda não tinha mencionado aqui; a ana de amsterdam e o Womenage a Trois, que me deram a sensação de os ter descoberto com atraso; o dias felizes, do Rui Manuel Amaral, mais um rastilho para o bichinho da micronarrativa, cujas histórias não raras vezes me serviam para respirar durante o dia. Por qualquer razão que não sei explicar, acho que o Tiago Galvão, o Miguel Marques (o mesmo que entrou em antologias dos Jovens Criadores comigo, presumirei bem?), o Lourenço Bray e o manuel a. domingos seriam gajos excelentes com quem formar um Fight Club - e digo isto no melhor dos sentidos. No cinema, dois sobreviventes da defunta Premiere, o Deuxieme e o Dias de Criswell, salvaram a honra da casa, e o Diário de Blindness, o blog da rodagem do que será o primeiro grande filme americano inspirado num romance português, foi referência. Errol Morris, um enorme documentarista, também começou a blogar para o New York Times, com textos espaçados, reflectidos, fascinantes. Na fotografia, pareceu-me que a Joana Linda está a aguentar bem o novo espaço dela, o que só é bom para todos nós (e ainda melhor para o Miguel Marques). Já o Bandeira ao Vento é porventura o blog de humor português de que menos se fala, o que não se compreende. Os Não Tens Piada (curioso título) e A Dupla Personalidade fizeram a melhor colaboração do ano e as notícias e o blog do site Dead Frog foram uma ferramenta essencial de trabalho. Na literatura, o Blogtailors e o Bibliotecário de Babel ressaltaram, e é curioso reparar como parece que vieram para o online algumas presenças que parecem estar a ficar sem lugar na imprensa escrita. O Augusto M. Seabra foi notório - será também o caso do Jornal de Letras?
Para acabar com isto tudo, fiquem com o vídeo/canção em que de certeza mais carreguei no "play" durante 2007 e aproveitem para recordar a Jane Fonda a envergonhar o Colbert e a Marine a ser surpreendida.
4 Comentários:
por mim estou... tudo bem.
abraço
Enfim...és mesmo uma peste!!!!!!!!!
João Rasteiro
Sempre às ordens do fã!
O Dexter é uma trampa.
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