Quando J. pára para pensar nas coisas, lembra-se sempre das caras dos amigos a sorrir. E pensa que fez bem em voltar à terra natal no outro fim-de-semana para ver o bem que fez o primeiro amigo a ser pai, e como gostou de o ajudar a carregar o carrinho das filhas enquanto elas dormiam como dois anjinhos, e rir-se com o resto da malta que, por umas e por outras, vai envelhecendo, ou talvez só queimando os cartuchos, ou talvez só mudando.
J. lembra-se de ter lido coisas em livros que não recomendaria a ninguém (do Luc Ferry, por exemplo, e fiquemo-nos por aqui) que, ainda assim, vai considerando cada vez mais correctas. Como a parábola budista que moralizava para se aceitar a permanente mudança da vida. E J. pensa: uma pessoa, sempre o mesmo nome, e, ainda assim, incapaz de se pôr à frente do acaso. Que merda, ou não?
Esta semana, a mãe de um amigo de J. morreu. J. não pôde ir à terra natal (a outra, a primeira) para lhe dar um abraço. Telefonou-lhe, mandou-lhe um abraço, desejou-lhe força. E, quando desligou, pensou que, por mais compaixão que tivesse pelo amigo, por mais pena que tivesse por já não se verem há vários anos e por ter sido necessário o Mal acontecer para que o contacto fosse feito - ainda assim, J. não deixou de pensar que metade do seu sentimento se deve ao facto de ter passado muito bons tempos com o seu amigo quando era adolescente e de isto os ter feito mais diferentes, ou seja, cada vez mais separados do que já foram.
Não basta descobrirmo-nos uma vez, pensou J., temos de nos estar a descobrir sempre ou talvez desistir dessa merda que não ajuda ninguém. Mas, pelo sim, pelo não, J. ainda foi recuperar a cópia do "A Grief Observed" do CS Lewis que tinha consumida num canto da estante. E reparou, com alguma dose de surpresa, que tinha marcado as páginas do livro com um postal promocional do "Wilbur Quer Matar-se".
J. lembra-se de ter lido coisas em livros que não recomendaria a ninguém (do Luc Ferry, por exemplo, e fiquemo-nos por aqui) que, ainda assim, vai considerando cada vez mais correctas. Como a parábola budista que moralizava para se aceitar a permanente mudança da vida. E J. pensa: uma pessoa, sempre o mesmo nome, e, ainda assim, incapaz de se pôr à frente do acaso. Que merda, ou não?
Esta semana, a mãe de um amigo de J. morreu. J. não pôde ir à terra natal (a outra, a primeira) para lhe dar um abraço. Telefonou-lhe, mandou-lhe um abraço, desejou-lhe força. E, quando desligou, pensou que, por mais compaixão que tivesse pelo amigo, por mais pena que tivesse por já não se verem há vários anos e por ter sido necessário o Mal acontecer para que o contacto fosse feito - ainda assim, J. não deixou de pensar que metade do seu sentimento se deve ao facto de ter passado muito bons tempos com o seu amigo quando era adolescente e de isto os ter feito mais diferentes, ou seja, cada vez mais separados do que já foram.
Não basta descobrirmo-nos uma vez, pensou J., temos de nos estar a descobrir sempre ou talvez desistir dessa merda que não ajuda ninguém. Mas, pelo sim, pelo não, J. ainda foi recuperar a cópia do "A Grief Observed" do CS Lewis que tinha consumida num canto da estante. E reparou, com alguma dose de surpresa, que tinha marcado as páginas do livro com um postal promocional do "Wilbur Quer Matar-se".
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