manuel alegre e a candidatura
Lembra um recreio de escola: o miúdo mais idealista, mais fraco e com menos amigos desiste de lutar contra os rufias populares.
porque é que eu não votarei em cavaco silva
Não sou dado a partidarismos, nem vejo o mundo como um bolo partido em fatias de grupos. Que partidos apoiarão Soares, que partidos apoiarão Cavaco, que Esquerda contra que Direita, nada disso me importa. As pessoas têm a memória curta. E eu podia ter só quinze anos quando Guterres rendeu Cavaco, mas lembro-me de como a sucessão foi sentida: como uma mordaça que se soltou, como um peso tirado de cima dos ombros. Foi com Cavaco que eu vi cargas policiais sistemáticas a manifestações pacíficas, foi com Cavaco que eu vi um governo a definir para o futuro o que é feder a arrogância de maioria absoluta, foi com Cavaco que eu vi a cultura a ser presa num colete de forças chamado património.
Marcelo Rebelo de Sousa disse que agora o que importa é a Economia, não a Política, como antigamente, e que nós precisamos é de um presidente que perceba de Economia. Gostava de saber o que vai fazer Cavaco com a sua Economia quando se sentar numa cadeira do Palácio de Belém e tiver de decidir sobre vetar ou não o diploma legal sobre a interrupção voluntária da gravidez. Quem tem de saber de Economia é o Ministro da Economia, o das Finanças, o Governador do Banco de Portugal, o Primeiro-Ministro. Um Presidente só precisa de saber de Economia tanto como precisa de saber de tudo o mais, porque o que o Presidente faz é fazer cumprir a Constituição e, com a ajuda do seu Conselho, interpretar o funcionamento do Estado (a, tão falada há uns meses, "garantia do regular funcionamento das instituições democráticas" - para quem quiser, o art. 120º e seguintes da Constituição).
E como representará Cavaco este papel? Todos lhe reconhecem a competência técnica, mas, aqui, não é o que mais importa. Cavaco será um técnico competente a desempenhar um cargo em que o que mais importa é seguramente a sua sensibilidade política, e essa é autoritária. É possível que Cavaco tenha mudado, mas eu não acredito. E, mesmo que acreditasse, por tudo aquilo que Cavaco fez, por tudo o que deixou de fazer e pelo seu comportamento enquanto o fez, só poderia chegar a uma conclusão: Cavaco Silva não merece ser Presidente da República.
Marcelo Rebelo de Sousa disse que agora o que importa é a Economia, não a Política, como antigamente, e que nós precisamos é de um presidente que perceba de Economia. Gostava de saber o que vai fazer Cavaco com a sua Economia quando se sentar numa cadeira do Palácio de Belém e tiver de decidir sobre vetar ou não o diploma legal sobre a interrupção voluntária da gravidez. Quem tem de saber de Economia é o Ministro da Economia, o das Finanças, o Governador do Banco de Portugal, o Primeiro-Ministro. Um Presidente só precisa de saber de Economia tanto como precisa de saber de tudo o mais, porque o que o Presidente faz é fazer cumprir a Constituição e, com a ajuda do seu Conselho, interpretar o funcionamento do Estado (a, tão falada há uns meses, "garantia do regular funcionamento das instituições democráticas" - para quem quiser, o art. 120º e seguintes da Constituição).
E como representará Cavaco este papel? Todos lhe reconhecem a competência técnica, mas, aqui, não é o que mais importa. Cavaco será um técnico competente a desempenhar um cargo em que o que mais importa é seguramente a sua sensibilidade política, e essa é autoritária. É possível que Cavaco tenha mudado, mas eu não acredito. E, mesmo que acreditasse, por tudo aquilo que Cavaco fez, por tudo o que deixou de fazer e pelo seu comportamento enquanto o fez, só poderia chegar a uma conclusão: Cavaco Silva não merece ser Presidente da República.
meanings of life
O silêncio depois da fartura. Há relatórios de manhã, processos à tarde e currículos à noite. Hoje é limpar. Mas também há filmes.
o fogo à beira-mar plantado
(foto de Vítor José Santos Rasteiro - clique para alargar)
Este ano, os incêndios em Portugal (ou melhor, o incêndio de Portugal) tocaram tristemente num ponto sensível: não se ficaram pelos montes e campos, não se limitaram a destruir as casas isoladas do interior, não fizeram chorar só os criadores que vivem do gado ou os agricultores que vivem das colheitas. Quando o fogo chegou ao subúrbio (aqui, de Coimbra), a cidade descobriu que não há problemas que não sejam dela. A partir de agora, já não há desculpas para fechar os olhos à cinza.
blogs, expresso e paulo querido 3
Uma vez que parece que se feriram vaidades na blogosfera, vou esclarecer a minha posição em termos simples e rápidos:
1- A conversa de Paulo Querido com Pacheco Pereira é uma, a que ele teve comigo foi outra (começou aqui, continuou aqui e acabou aqui, sendo que eu e Paulo Querido trocámos ainda um par de e-mails breves sobre o assunto);
2- As minhas dúvidas relativamente ao artigo de Paulo Querido no Expresso eram duas: porque é que justificava a diminuição de representação da faixa intelectual com a diminuição de visibilidade dos blogs políticos (nunca pus em causa esta, apenas acho que "político" e "intelectual" são coisas diferentes); porque é que se elaborava um top 5 de blogs que não integrava aquele que Paulo Querido dizia ser "provavelmente o mais lido", o que era estranho;
3- Nunca formulei quaisquer juízos sobre o Hollywood e desafio qualquer um a ler o que escrevi e avaliar se faltei ao respeito a este ou a Miguel Lourenço Pereira;
4- Não me considero parte de uma "inteligentzia" ou de uma "divisão"; A Peste foi sempre um espaço pessoal, onde escrevo o que me apetece sobre o que me apetece; se, para Miguel Lourenço Pereira, isso é fazer parte de uma divisão, bom, isso é lá com ele;
5- O que concluí do esclarecimento que Paulo Querido me fez foi - e repito - que ele "elaborou um top 5 com base nos dados de um serviço [o Sitemeter] que não lhe permite arriscar mais do que conclusões gerais, mas adiantou o nome do blog possivelmente mais lido na blogosfera portuguesa com base num serviço [as estatísticas do Weblog.com.pt] que, sendo mais fiável, apenas dá dados quanto a um dos vários tipos de conta existentes na blogosfera portuguesa", o que ninguém ainda contradisse;
6- Não pus em causa Paulo Querido e a ponderação que faz dos dados disponíveis; simplesmente, a leitura do artigo deu-me a entender que esses mesmos dados teriam um maior nível de certeza do que aquele que realmente tinham;
7- Toda esta discussão acaba por ser, no fundo, os blogs a assumirem a função de "watchdogs" da imprensa. Não sei é se o Paulo Querido esperava a ironia de isso acontecer desta maneira em relação a um artigo em que ele escrevia isso mesmo.
1- A conversa de Paulo Querido com Pacheco Pereira é uma, a que ele teve comigo foi outra (começou aqui, continuou aqui e acabou aqui, sendo que eu e Paulo Querido trocámos ainda um par de e-mails breves sobre o assunto);
2- As minhas dúvidas relativamente ao artigo de Paulo Querido no Expresso eram duas: porque é que justificava a diminuição de representação da faixa intelectual com a diminuição de visibilidade dos blogs políticos (nunca pus em causa esta, apenas acho que "político" e "intelectual" são coisas diferentes); porque é que se elaborava um top 5 de blogs que não integrava aquele que Paulo Querido dizia ser "provavelmente o mais lido", o que era estranho;
3- Nunca formulei quaisquer juízos sobre o Hollywood e desafio qualquer um a ler o que escrevi e avaliar se faltei ao respeito a este ou a Miguel Lourenço Pereira;
4- Não me considero parte de uma "inteligentzia" ou de uma "divisão"; A Peste foi sempre um espaço pessoal, onde escrevo o que me apetece sobre o que me apetece; se, para Miguel Lourenço Pereira, isso é fazer parte de uma divisão, bom, isso é lá com ele;
5- O que concluí do esclarecimento que Paulo Querido me fez foi - e repito - que ele "elaborou um top 5 com base nos dados de um serviço [o Sitemeter] que não lhe permite arriscar mais do que conclusões gerais, mas adiantou o nome do blog possivelmente mais lido na blogosfera portuguesa com base num serviço [as estatísticas do Weblog.com.pt] que, sendo mais fiável, apenas dá dados quanto a um dos vários tipos de conta existentes na blogosfera portuguesa", o que ninguém ainda contradisse;
6- Não pus em causa Paulo Querido e a ponderação que faz dos dados disponíveis; simplesmente, a leitura do artigo deu-me a entender que esses mesmos dados teriam um maior nível de certeza do que aquele que realmente tinham;
7- Toda esta discussão acaba por ser, no fundo, os blogs a assumirem a função de "watchdogs" da imprensa. Não sei é se o Paulo Querido esperava a ironia de isso acontecer desta maneira em relação a um artigo em que ele escrevia isso mesmo.
blogs, expresso e paulo querido 2
Face à resposta pronta do Paulo Querido, contraponho o seguinte:
1- Nunca disse que o superlead do artigo sugeria o completo apagamento dos intelectuais da blogosfera portuguesa. O que me causou estranheza foi o facto de Paulo Querido justificar a diminuição da representação daqueles com o recuo dos blogs políticos face ao avanço dos "blogues de autor, com a edição de poesia ou ensaio", dos "espaços relacionados com a cultura, sobretudo cinema, e o futebol" e dos "blogues eróticos ou mesmo pornográficos". Não percebo - e continuo a não perceber, porque Paulo Querido não explicou - porque é que o recuo do "político" é o recuo do "intelectual". Afinal, poesia,ensaios e cultura soa-me a intelectual quanto baste. Além disso, os temas "futebol" e "sexo" não são incompatíveis com as ideias: o Futeblog Total e o xupacabras (ou o Fleshbot, para dar um exemplo não-nacional) provam-no. E se A Peste é um blog intelectual, como Paulo Querido afirma, tem de explicar, pela sua própria definição, porque o é, pois parece-me que já escrevi muito mais sobre os Morangos com Açúcar do que sobre o Governo Sócrates.
1.1- A citação que fiz da definição de "intelectual" servia para distinguir este termo de "político": não teci considerações sobre os leitores e o autor do Gatas QB, pois não me cabe fazê-las.
1.2- Paulo Querido não me teria desiludido mesmo que tivesse escrito algo que realmente me desiludisse: sendo blogger, faço uma pequena ideia do que se passa na blogosfera.
1.3- Nunca disse que gostava "que a blogosfera continuasse a dar ao público uma garbosa imagem da faixa intelectual do país", (eu acho que a continua a dar, pois não identifico "intelectual" com "político", e foram os blogs políticos que perderam visibilidade), nem que não considero "este fenómeno como benigno para a blogosfera (agora mais perto da vida no mundo dos átomos) e até libertador para os intelectuais dos blogues". Estas são afirmações de Paulo Querido, não minhas.
2- Quanto ao Blogómetro, obviamente não vou comentar. Eu disse que ele era "de" Paulo Querido por saber da sua ligação próxima ao projecto, mas não lhe vou atribuir autorias se ele assim não o deseja. Quanto à afirmação de que ele se tinha guiado pelo Blogómetro, pareceu-me razoável, uma vez que os resultados eram próximos daqueles apresentados por este e o artigo mencionava o Sitemeter, mas, se assim não foi, as minhas sinceras desculpas.
2.1- O Murcon foi apontado como exemplo de um blog popular que não entra na lista do Blogómetro porque o autor não o inscreveu, nada mais. Nunca disse que ele deveria ter sido mencionado no artigo. Por outro lado, Paulo Querido tem razão quando diz que ele não entraria no top 20 do Blogómetro: ficaria em 21º (pelo menos no momento em que escrevo - 549 visitas diárias, logo a seguir às 539 de O Vizinho). Ou seja, não só ficaria num lugar que não se pode deixar de considerar representativo, como se posicionaria quinze lugares à frente do blog luso supostamente mais lido, o Hollywood.
3- Paulo Querido diz que não emitiu opinião no artigo. Tudo bem. Mas o artigo tem um problema: gráficos, percentagens de audiências e uma aparência geral de avaliação quantitativa. Paulo Querido diz, no entanto, que o Sitemeter não lhe permite arriscar mais do que "conclusões gerais sobre tendências e posições relativas". Diz também que "as estatísticas no sítio (...) são mais fiáveis (...) que as estatísticas elaboradas remotamente". Não contesto. Mas o Hollywood, sendo Weblog.com.pt, tem essas estatísticas no sítio, ao contrário do Abrupto, da Grande Loja do Queijo Limiano, do GatasQB (que são Blogger) e do Poemas de amor e dor (que é Sapo). Ou seja: Paulo Querido elaborou um top 5 com base nos dados de um serviço que não lhe permite arriscar mais do que conclusões gerais, mas adiantou o nome do blog possivelmente mais lido na blogosfera portuguesa com base num serviço que, sendo mais fiável, apenas dá dados quanto a um dos vários tipos de conta existentes na blogosfera portuguesa.
Eu não ponho em causa o profissionalismo de Paulo Querido, seria incapaz de o fazer e, para ser sincero, o mero facto de ele afirmar que o Hollywood é o blog português mais lido leva-me a acreditar que assim seja. Mas acredito porque é ele que o diz e eu confio na sua observação e ponderação. Porém, o artigo que ele escreveu dá a entender algo mais: dá a entender que as certezas, não sendo absolutas, são sólidas o suficiente para serem contabilizadas, o que, na verdade, não é permitido com rigor pelos instrumentos disponíveis. Mesmo que não coubesse nas páginas do Expresso, a explicação foi valiosa: a partir de hoje, não confiarei em tops.
1- Nunca disse que o superlead do artigo sugeria o completo apagamento dos intelectuais da blogosfera portuguesa. O que me causou estranheza foi o facto de Paulo Querido justificar a diminuição da representação daqueles com o recuo dos blogs políticos face ao avanço dos "blogues de autor, com a edição de poesia ou ensaio", dos "espaços relacionados com a cultura, sobretudo cinema, e o futebol" e dos "blogues eróticos ou mesmo pornográficos". Não percebo - e continuo a não perceber, porque Paulo Querido não explicou - porque é que o recuo do "político" é o recuo do "intelectual". Afinal, poesia,ensaios e cultura soa-me a intelectual quanto baste. Além disso, os temas "futebol" e "sexo" não são incompatíveis com as ideias: o Futeblog Total e o xupacabras (ou o Fleshbot, para dar um exemplo não-nacional) provam-no. E se A Peste é um blog intelectual, como Paulo Querido afirma, tem de explicar, pela sua própria definição, porque o é, pois parece-me que já escrevi muito mais sobre os Morangos com Açúcar do que sobre o Governo Sócrates.
1.1- A citação que fiz da definição de "intelectual" servia para distinguir este termo de "político": não teci considerações sobre os leitores e o autor do Gatas QB, pois não me cabe fazê-las.
1.2- Paulo Querido não me teria desiludido mesmo que tivesse escrito algo que realmente me desiludisse: sendo blogger, faço uma pequena ideia do que se passa na blogosfera.
1.3- Nunca disse que gostava "que a blogosfera continuasse a dar ao público uma garbosa imagem da faixa intelectual do país", (eu acho que a continua a dar, pois não identifico "intelectual" com "político", e foram os blogs políticos que perderam visibilidade), nem que não considero "este fenómeno como benigno para a blogosfera (agora mais perto da vida no mundo dos átomos) e até libertador para os intelectuais dos blogues". Estas são afirmações de Paulo Querido, não minhas.
2- Quanto ao Blogómetro, obviamente não vou comentar. Eu disse que ele era "de" Paulo Querido por saber da sua ligação próxima ao projecto, mas não lhe vou atribuir autorias se ele assim não o deseja. Quanto à afirmação de que ele se tinha guiado pelo Blogómetro, pareceu-me razoável, uma vez que os resultados eram próximos daqueles apresentados por este e o artigo mencionava o Sitemeter, mas, se assim não foi, as minhas sinceras desculpas.
2.1- O Murcon foi apontado como exemplo de um blog popular que não entra na lista do Blogómetro porque o autor não o inscreveu, nada mais. Nunca disse que ele deveria ter sido mencionado no artigo. Por outro lado, Paulo Querido tem razão quando diz que ele não entraria no top 20 do Blogómetro: ficaria em 21º (pelo menos no momento em que escrevo - 549 visitas diárias, logo a seguir às 539 de O Vizinho). Ou seja, não só ficaria num lugar que não se pode deixar de considerar representativo, como se posicionaria quinze lugares à frente do blog luso supostamente mais lido, o Hollywood.
3- Paulo Querido diz que não emitiu opinião no artigo. Tudo bem. Mas o artigo tem um problema: gráficos, percentagens de audiências e uma aparência geral de avaliação quantitativa. Paulo Querido diz, no entanto, que o Sitemeter não lhe permite arriscar mais do que "conclusões gerais sobre tendências e posições relativas". Diz também que "as estatísticas no sítio (...) são mais fiáveis (...) que as estatísticas elaboradas remotamente". Não contesto. Mas o Hollywood, sendo Weblog.com.pt, tem essas estatísticas no sítio, ao contrário do Abrupto, da Grande Loja do Queijo Limiano, do GatasQB (que são Blogger) e do Poemas de amor e dor (que é Sapo). Ou seja: Paulo Querido elaborou um top 5 com base nos dados de um serviço que não lhe permite arriscar mais do que conclusões gerais, mas adiantou o nome do blog possivelmente mais lido na blogosfera portuguesa com base num serviço que, sendo mais fiável, apenas dá dados quanto a um dos vários tipos de conta existentes na blogosfera portuguesa.
Eu não ponho em causa o profissionalismo de Paulo Querido, seria incapaz de o fazer e, para ser sincero, o mero facto de ele afirmar que o Hollywood é o blog português mais lido leva-me a acreditar que assim seja. Mas acredito porque é ele que o diz e eu confio na sua observação e ponderação. Porém, o artigo que ele escreveu dá a entender algo mais: dá a entender que as certezas, não sendo absolutas, são sólidas o suficiente para serem contabilizadas, o que, na verdade, não é permitido com rigor pelos instrumentos disponíveis. Mesmo que não coubesse nas páginas do Expresso, a explicação foi valiosa: a partir de hoje, não confiarei em tops.
blogs, expresso e paulo querido
Do artigo de Paulo Querido publicado na revista Única da edição de hoje do Expresso, duas discordâncias.
Primeiro, o superlead realça, como depois se fará no próprio texto, que os blogs deixaram de representar a faixa intelectual do país para passar a reflectir com mais fidelidade a diversidade social. No entanto, o que Paulo Querido salienta durante todo o artigo é, mais precisamente, a perda de visibilidade dos blogs políticos face ao aumento da dos ”de cinema, poesia, futebol e erotismo”. Ora, a menos que “intelectual” esteja necessariamente relacionado com “político” – e eu acho que não está -, nada implica que a blogosfera tenha deixado de representar a faixa intelectual do país. Está a acontecer uma movimentação de autores e de temas dominantes, de acordo, mas um novo blog como o Casmurro mostra como se pode ser intelectual sem se versar uma temática exclusivamente política. Enquanto a blogosfera dominar a vanguarda do debate de ideias – o que não lhe será difícil, já que a ela própria é uma das principais ideias em debate -, ela representará a faixa intelectual do país ou, pelo menos, uma sua falange significativa. Para mais nada do que chatear, duas noções do Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Sociedade de Língua Portuguesa: “intelectual” é a “pessoa que tem gosto quase exclusivo pelas coisas da inteligência” e “inteligência” é a “faculdade de conceber, de pensar, compreender”.
Segundo, Paulo Querido diz que o Abrupto “se mantém estoicamente na liderança”, ainda que em queda, e que no top 5 pontuam ainda o erótico Aqui É só Gatas e o Poemas de amor e dor. Paulo Querido, embora não o mencione, guia-se pelo seu Blogómetro. Ora, o Blogómetro é uma ferramenta valiosa, mas é arriscado reconhecer-lhe mais do que um valor indicativo para dizer o que vale na blogosfera portuguesa, porque depende de inscrição voluntária (e, assim, há blogs representativos não inscritos, como o Murcon) e porque se baseia na contagem do Sitemeter, cuja fiabilidade é posta em causa no próprio artigo. Ainda assim, o que leva Paulo Querido, depois de elaborar o gráfico com o top 5 do Blogómetro (Abrupto, Aqui é só Gatas, Grande Loja do Queijo Limiano, Afixe e Poemas de amor e dor), a dizer que o Hollywood (#45 do Blogómetro, no momento em que escrevo) é o “blogue mais lido do espaço português (…), extrapolados os dados disponíveis sobre o acesso de leitores a esse e aos outros blogues de que são conhecidos registos públicos”? Seria bom que Paulo Querido explicasse como fez essa extrapolação, já que, em suma, o que ele afirma é que o Hollywood é o blog mais lido, ainda que não seja o mais visitado, e qualquer blogger gostaria de confrontar o número de visitas ao seu blog com a intensidade real com que ele é lido.
Primeiro, o superlead realça, como depois se fará no próprio texto, que os blogs deixaram de representar a faixa intelectual do país para passar a reflectir com mais fidelidade a diversidade social. No entanto, o que Paulo Querido salienta durante todo o artigo é, mais precisamente, a perda de visibilidade dos blogs políticos face ao aumento da dos ”de cinema, poesia, futebol e erotismo”. Ora, a menos que “intelectual” esteja necessariamente relacionado com “político” – e eu acho que não está -, nada implica que a blogosfera tenha deixado de representar a faixa intelectual do país. Está a acontecer uma movimentação de autores e de temas dominantes, de acordo, mas um novo blog como o Casmurro mostra como se pode ser intelectual sem se versar uma temática exclusivamente política. Enquanto a blogosfera dominar a vanguarda do debate de ideias – o que não lhe será difícil, já que a ela própria é uma das principais ideias em debate -, ela representará a faixa intelectual do país ou, pelo menos, uma sua falange significativa. Para mais nada do que chatear, duas noções do Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Sociedade de Língua Portuguesa: “intelectual” é a “pessoa que tem gosto quase exclusivo pelas coisas da inteligência” e “inteligência” é a “faculdade de conceber, de pensar, compreender”.
Segundo, Paulo Querido diz que o Abrupto “se mantém estoicamente na liderança”, ainda que em queda, e que no top 5 pontuam ainda o erótico Aqui É só Gatas e o Poemas de amor e dor. Paulo Querido, embora não o mencione, guia-se pelo seu Blogómetro. Ora, o Blogómetro é uma ferramenta valiosa, mas é arriscado reconhecer-lhe mais do que um valor indicativo para dizer o que vale na blogosfera portuguesa, porque depende de inscrição voluntária (e, assim, há blogs representativos não inscritos, como o Murcon) e porque se baseia na contagem do Sitemeter, cuja fiabilidade é posta em causa no próprio artigo. Ainda assim, o que leva Paulo Querido, depois de elaborar o gráfico com o top 5 do Blogómetro (Abrupto, Aqui é só Gatas, Grande Loja do Queijo Limiano, Afixe e Poemas de amor e dor), a dizer que o Hollywood (#45 do Blogómetro, no momento em que escrevo) é o “blogue mais lido do espaço português (…), extrapolados os dados disponíveis sobre o acesso de leitores a esse e aos outros blogues de que são conhecidos registos públicos”? Seria bom que Paulo Querido explicasse como fez essa extrapolação, já que, em suma, o que ele afirma é que o Hollywood é o blog mais lido, ainda que não seja o mais visitado, e qualquer blogger gostaria de confrontar o número de visitas ao seu blog com a intensidade real com que ele é lido.
a liga de valentim
O verdadeiro problema por trás da polémica quanto ao patrocinador da Liga é jurídico e financeiro. É jurídico, porque vem de encontro à já velha discussão sobre a aplicação da lei no espaço quando ocorre um delito que tem a Internet como meio. Ocorre o mesmo se eu insultar alguém por e-mail: o princípio em direito penal é aplicar-se o direito do local da ofensa, muito bem - mas qual é o lugar da ofensa? É aqui, onde insulto, ou em qualquer outro país onde o insultado lê a injúria? E se, por hipótese, o insultado for francês mas estiver a passar férias em Itália e ler aqui o e-mail? Se o Bet and Win é de Gibraltar e eu jogo aqui, quem comete a infracção, eu ou o Bet and Win? E se se quiser atacar por via legal, o que acontece se a Bet and Win disser que em Gibraltar a lei permite os jogos on-line, inclusive de empresas sediadas no estrangeiro? Aqui o caso complica-se ainda mais, porque trata-se de uma empresa austríaca a funcionar com uma licença emitida por Gibraltar.
O que é curioso é como a Santa Casa da Misericórdia e os casinos não vieram a público fazer esta queixa antes do anúncio do patrocínio, quando qualquer português já podia jogar, e como não alargam a queixa aos outros sites de jogo on-line. Por muito que me custe afirmá-lo, Valentim Loureiro tinha razão: o que há aqui é um mero jogo de interesses. Felizmente para a minha moral, Valentim Loureiro também tem os dele, e não são louváveis. Daqui vem a dimensão financeira do problema: é a velha história dos paraísos fiscais, que servem para tudo e mais alguma coisa. Perdoem-me a rudeza de raciocínio, mas já não há pachorra: acabe-se com eles e este tipo de problemas acabará também.
O que é curioso é como a Santa Casa da Misericórdia e os casinos não vieram a público fazer esta queixa antes do anúncio do patrocínio, quando qualquer português já podia jogar, e como não alargam a queixa aos outros sites de jogo on-line. Por muito que me custe afirmá-lo, Valentim Loureiro tinha razão: o que há aqui é um mero jogo de interesses. Felizmente para a minha moral, Valentim Loureiro também tem os dele, e não são louváveis. Daqui vem a dimensão financeira do problema: é a velha história dos paraísos fiscais, que servem para tudo e mais alguma coisa. Perdoem-me a rudeza de raciocínio, mas já não há pachorra: acabe-se com eles e este tipo de problemas acabará também.
o que é um blog 5
Concordo com a queda do "definido" como é justificada pelo João Pedro Pereira, mas o que eu lhe tento explicar ainda é que os blogs não têm intenções, têm-nas os seus autores, e, por isso, a definição do que é ser blog não deve depender delas. O que ele me tem de explicar a mim é o que ele quer realmente dizer. Afinal, pôr um blog na www é publicá-lo, porque é disponibilizá-lo ao público. Mesmo que não divulgue o URL e mesmo que limite esse público a utilizadores registados, estou a permitir o acesso a esse conteúdo. Assim, eu ainda seria capaz de admitir a substituição de "inclusões" por "publicações". Julgo que isso satisfaria o interesse do João Pedro Pereira em manter a ideia de destinatários para além do próprio blogger, para além de que isso permite continuar a excluir o meu site de recolha de "recortes" mencionado anteriormente, já que nele a função de "depósito" suplanta a de "publicação" A definição de blog ficaria assim em site estruturado em torno de publicações de conteúdo sucessivas, não hierarquizadas e não automatizadas (POSTS) que decorrem num período temporal aberto ou fechado.
o que é um blog 4
O João Pedro Pereira e eu chegámos a entendimento quanto à definição nuclear de blog. Falta limar algumas arestas:
1- O problema do elemento "desejo de um autor querer que o conteúdo do seu blog seja conhecido" é que não é um elemento puro do blog;
1.2- Não me parece que, se eu impusesse um mecanismo de restrição de acesso à Peste, ela deixaria de ser um blog. Passaria apenas a ser um blog de acesso restrito (imaginemos um outro exemplo: as estrelas de Holywood querem fazer um blog privado e comunitário para desabafarem sobre aspectos da sua vida íntima, mas não querem que mais ninguém saiba - porque não um blog de acesso restrito?);
1.3- O que demonstra que este elemento não é puro, pois, ainda assim, o desejo de dar o conteúdo a conhecer a terceiros existiria, se bem que limitado a um círculo de pessoas limitado;
1.4- A disponibilidade do acesso do conteúdo a um público é uma característica que advêm aos blogs do facto de serem sites, não do facto de serem blogs;
1.5- Já que qualquer site, por estar na Rede, está disponível a visitas do exterior (é um "lugar");
1.6- Mesmo que seja um site pouco conhecido (aldeia-fantasma) ou de acesso restrito (cidade amuralhada), essa susceptibilidade a visitas permanece, só que no primeiro caso falamos principalmente de visitas acidentais ou de um círculo próximo e no segundo falamos das visitas limitadas ao sujeitos desse acesso restrito;
1.7- Assim, ao dizermos que um blog é um site, dizemos já que é susceptível de visitas, sendo este um elemento acessório;
1.8- Não estou assim disposto a integrá-lo na definição no modo como foi expresso.
2- Quando falo de "acesso temporal definido", quer seja aberto ou fechado, quero dizer que o blog decorre num intervalo de tempo que tem um início e um fim. Tanto num blog morto como num activo, o fim será o último post, só que num blog activo o fim vai sendo, e num blog morto o fim já foi. Digo "definido" para realçar este tempo entre um início e um fim, mas estou aberto a discutir o termo.
1- O problema do elemento "desejo de um autor querer que o conteúdo do seu blog seja conhecido" é que não é um elemento puro do blog;
1.2- Não me parece que, se eu impusesse um mecanismo de restrição de acesso à Peste, ela deixaria de ser um blog. Passaria apenas a ser um blog de acesso restrito (imaginemos um outro exemplo: as estrelas de Holywood querem fazer um blog privado e comunitário para desabafarem sobre aspectos da sua vida íntima, mas não querem que mais ninguém saiba - porque não um blog de acesso restrito?);
1.3- O que demonstra que este elemento não é puro, pois, ainda assim, o desejo de dar o conteúdo a conhecer a terceiros existiria, se bem que limitado a um círculo de pessoas limitado;
1.4- A disponibilidade do acesso do conteúdo a um público é uma característica que advêm aos blogs do facto de serem sites, não do facto de serem blogs;
1.5- Já que qualquer site, por estar na Rede, está disponível a visitas do exterior (é um "lugar");
1.6- Mesmo que seja um site pouco conhecido (aldeia-fantasma) ou de acesso restrito (cidade amuralhada), essa susceptibilidade a visitas permanece, só que no primeiro caso falamos principalmente de visitas acidentais ou de um círculo próximo e no segundo falamos das visitas limitadas ao sujeitos desse acesso restrito;
1.7- Assim, ao dizermos que um blog é um site, dizemos já que é susceptível de visitas, sendo este um elemento acessório;
1.8- Não estou assim disposto a integrá-lo na definição no modo como foi expresso.
2- Quando falo de "acesso temporal definido", quer seja aberto ou fechado, quero dizer que o blog decorre num intervalo de tempo que tem um início e um fim. Tanto num blog morto como num activo, o fim será o último post, só que num blog activo o fim vai sendo, e num blog morto o fim já foi. Digo "definido" para realçar este tempo entre um início e um fim, mas estou aberto a discutir o termo.
é estranho...
que o Aviz tenha acabado no dia a seguir ao Fora do Mundo. Francisco José Viegas fica a escrever no Gávea, mas bem que podia retomar o Livro Aberto.
é uma pena...
... que o Fora do Mundo tenha acabado. Há muito tempo que não me ria alto a ler um post.
o que é um blog 3
Aforismos que continuam a discussão com o João Pedro Pereira:
1- Eu procuro encontrar elementos para uma definição de blog que englobe as formas variáveis de blogs e exclua todos os outros tipos de sites;
1.2- Porque não me parece que os elementos de "ordem cronológica inversa" e de "ausência de hierarquização gráfica do conteúdo" sejam elementos essenciais a uma definição de blog - porque a possibilidade de não se verificarem não implica automaticamente que estejamos perante um não-blog -, mas são elementos usuais dos mesmos, admito a sua inclusão na definição sem esquecer essa condição de elementos usuais;
1.3- O João Pedro Pereira justifica a "ausência de hierarquização gráfica" como elemento de uma definição de blog dizendo que "o layout de qualquer blog dá realce aos posts". Não entendo: se dá realce, presume-se que estes são superiores. Mas que não exista hierarquização entre o conteúdo dos posts, ou seja, entre o conteúdo das actualizações, isso será outra história - e o "linear" na minha definição tem esse mesmo sentido, embora admita que uma clarificação seja devida -, mas não podemos excluir o título, as descrições, etc, do conteúdo de um blog. Proponho então a solução de consenso de ausência de hierarquização - deixe-se cair o "gráfica", já que as modalidades de hierarquização podem ser várias - das actualizações;
2- A "frequência" da actualização é uma característica temporal;
2.1- Como tal, não podemos definir "frequência" a partir de considerações externas ao tempo;
2.2- Assim, uma coisa é a frequência de actualização do The Lonely Fork In The Road, outra é a minha capacidade para manter o interesse;
2.3- Até porque um blog que publique um post por dia sobre um assunto desinteressante terá uma actualização frequente, mas menos visitas recorrentes do que um que trate de assuntos interessantes publicando um post por semana;
2.4- Assim, "frequência" não pode ser definida segundo a recorrência de visitas que possa suscitar, já que se tratam de duas dimensões independentes;
2.5- "Frequência" é uma repetição amiudada no tempo e, como tal, ao incluí-la na definição de blog, temos de definir a intensidade de repetição no tempo;
2.6- O que é demasiado custoso, dada a multiplicidade de situações de "frequência de actualização" possíveis;
2.7- Por isso mesmo, é que a questão a que procuramos responder não é "se o The Lonely Fork In The Road publicasse um post por ano, deixaria de ter visitas?", mas sim "se o The Lonely Fork In The Road publicasse um post por ano, deixaria de ser um blog?";
2.8- Como um blog não depende de visitas para o ser, a resposta é "não";
2.9- "Frequência" não é, assim, um elemento que deva integrar uma definição pura de blog;
2.10- Até porque, se se pretende dar realce à sucessão de posts como principal suporte do conteúdo de um blog, a noção de "estruturação em torno de actualizações não hierarquizadas de conteúdo" serve perfeitamente;
3- Não me parece lícito dizer que um blog é um site "cujo(s) autor(es) tem uma intencionalidade de tornar o conteúdo passível de ser conhecido por terceiros";
3.1- Porque, mais uma vez, faço a pergunta "se o autor de um blog não tiver essa intencionalidade, deixa de existir um blog?" e surge-me a resposta não;
3.2- Não excluo um blog cujo conteúdo corresponda ao de um diário íntimo, tal como não excluo um blog que trate de notícias relacionadas com cultura;
3.3- E não excluo porque isso são as características do conteúdo do blog, não do blog em si mesmo e, por isso mesmo, não as integro numa definição deste;
4- Concordo, no entanto, com a inclusão na definição do elemento da autoria;
5- A definição que avancei previamente exclui os RSS readers e até o "blog de blogs", o Kinja, já que a actualização temporal nestes não é linear/não hierarquizada (o "depois" vale mais do que o "antes");
6- Aceito que o site que mencionei no post anterior não seja considerado blog pela minha própria definição, já que, nele, o "antes" e o "depois" não têm grande importância (é um baú com recortes, sendo o tempo um elemento dispensável, já que importa mais o facto de eles estarem lá do que o momento em que para lá foram; desminto assim a afirmação de que "a ligação entre o conteúdo e o tempo regula-se nele da mesma maneira do que em qualquer blog"). Será uma ferramenta web-based, como o João Pedro Pereira indica.
Assim, como resultado da reflexão, revejo a definição avançada no início: um blog será um site estruturado em torno de inclusões de conteúdo sucessivas, não hierarquizadas e não automatizadas (POSTS) que decorrem num período temporal definido, seja este aberto ou fechado.
1- Eu procuro encontrar elementos para uma definição de blog que englobe as formas variáveis de blogs e exclua todos os outros tipos de sites;
1.2- Porque não me parece que os elementos de "ordem cronológica inversa" e de "ausência de hierarquização gráfica do conteúdo" sejam elementos essenciais a uma definição de blog - porque a possibilidade de não se verificarem não implica automaticamente que estejamos perante um não-blog -, mas são elementos usuais dos mesmos, admito a sua inclusão na definição sem esquecer essa condição de elementos usuais;
1.3- O João Pedro Pereira justifica a "ausência de hierarquização gráfica" como elemento de uma definição de blog dizendo que "o layout de qualquer blog dá realce aos posts". Não entendo: se dá realce, presume-se que estes são superiores. Mas que não exista hierarquização entre o conteúdo dos posts, ou seja, entre o conteúdo das actualizações, isso será outra história - e o "linear" na minha definição tem esse mesmo sentido, embora admita que uma clarificação seja devida -, mas não podemos excluir o título, as descrições, etc, do conteúdo de um blog. Proponho então a solução de consenso de ausência de hierarquização - deixe-se cair o "gráfica", já que as modalidades de hierarquização podem ser várias - das actualizações;
2- A "frequência" da actualização é uma característica temporal;
2.1- Como tal, não podemos definir "frequência" a partir de considerações externas ao tempo;
2.2- Assim, uma coisa é a frequência de actualização do The Lonely Fork In The Road, outra é a minha capacidade para manter o interesse;
2.3- Até porque um blog que publique um post por dia sobre um assunto desinteressante terá uma actualização frequente, mas menos visitas recorrentes do que um que trate de assuntos interessantes publicando um post por semana;
2.4- Assim, "frequência" não pode ser definida segundo a recorrência de visitas que possa suscitar, já que se tratam de duas dimensões independentes;
2.5- "Frequência" é uma repetição amiudada no tempo e, como tal, ao incluí-la na definição de blog, temos de definir a intensidade de repetição no tempo;
2.6- O que é demasiado custoso, dada a multiplicidade de situações de "frequência de actualização" possíveis;
2.7- Por isso mesmo, é que a questão a que procuramos responder não é "se o The Lonely Fork In The Road publicasse um post por ano, deixaria de ter visitas?", mas sim "se o The Lonely Fork In The Road publicasse um post por ano, deixaria de ser um blog?";
2.8- Como um blog não depende de visitas para o ser, a resposta é "não";
2.9- "Frequência" não é, assim, um elemento que deva integrar uma definição pura de blog;
2.10- Até porque, se se pretende dar realce à sucessão de posts como principal suporte do conteúdo de um blog, a noção de "estruturação em torno de actualizações não hierarquizadas de conteúdo" serve perfeitamente;
3- Não me parece lícito dizer que um blog é um site "cujo(s) autor(es) tem uma intencionalidade de tornar o conteúdo passível de ser conhecido por terceiros";
3.1- Porque, mais uma vez, faço a pergunta "se o autor de um blog não tiver essa intencionalidade, deixa de existir um blog?" e surge-me a resposta não;
3.2- Não excluo um blog cujo conteúdo corresponda ao de um diário íntimo, tal como não excluo um blog que trate de notícias relacionadas com cultura;
3.3- E não excluo porque isso são as características do conteúdo do blog, não do blog em si mesmo e, por isso mesmo, não as integro numa definição deste;
4- Concordo, no entanto, com a inclusão na definição do elemento da autoria;
5- A definição que avancei previamente exclui os RSS readers e até o "blog de blogs", o Kinja, já que a actualização temporal nestes não é linear/não hierarquizada (o "depois" vale mais do que o "antes");
6- Aceito que o site que mencionei no post anterior não seja considerado blog pela minha própria definição, já que, nele, o "antes" e o "depois" não têm grande importância (é um baú com recortes, sendo o tempo um elemento dispensável, já que importa mais o facto de eles estarem lá do que o momento em que para lá foram; desminto assim a afirmação de que "a ligação entre o conteúdo e o tempo regula-se nele da mesma maneira do que em qualquer blog"). Será uma ferramenta web-based, como o João Pedro Pereira indica.
Assim, como resultado da reflexão, revejo a definição avançada no início: um blog será um site estruturado em torno de inclusões de conteúdo sucessivas, não hierarquizadas e não automatizadas (POSTS) que decorrem num período temporal definido, seja este aberto ou fechado.
crossfire
Houve pelo menos dois momentos antológicos neste programa da CNN e qualquer um deles é um hino ao discurso livre: o programa de 1986 em que Frank Zappa se pronunciou contra a censura nos discos (que deu origem às famosas etiquetas "Parental Advisory"); o programa de 2004 em que Jon Stewart criticou o próprio Crossfire, a tal ponto que levou ao seu cancelamento (ver páginas 1, 2, 3 e 4).
o que é um blog 2
O João Pedro Pereira e eu começamos a pisar território comum. Porém, parece-me que ainda cabe fazer algumas ressalvas:
- o elemento de "frequência" continua a incomodar-me. Acho-o supérfluo, principalmente tendo em conta que nada tenho contra a vocação para a actualização do conteúdo ser elemento definidor do blog. Mas tomemos como exemplo o The Lonely Fork In the Road. Este blog foi actualizado em 27 e 28 de Junho e em 6 e 8 de Agosto. Não podemos, de todo, dizer que há frequência na actualização do seu conteúdo. Poderíamos sempre perguntar: mas será que, ainda que não a havendo, essa frequência seria no entanto pressuposta no tipo de site em causa? Eu acho que não. Olho para o The Lonely Fork In The Road e não consigo deixar de incluí-lo numa possível noção de blog, até porque, mesmo com a rarificação de posts, a actualização mantém-se como uma possiblidade em aberto, tal como se mantém em qualquer blog que, mesmo tendo fechado as portas, não desapareça do ciberespaço (o Barnabé é um bom exemplo).
- além do mais, acho que a noção de "frequência" dada pelo João Pedro Pereira é profundamente infeliz e creio que ele próprio não teve uma noção clara daquilo que escreveu. A actualização é frequente quando o blog é "actualizado o suficiente para motivar visitas recorrentes, para além daquelas que surgem por pesquisas avulsas em motores de busca"? É isto "frequência"? Um site em forma de blog criado sem qualquer intuito de visitas para além das do autor não é, portanto, um blog. Vou dar um exemplo. Eu tenho um espaço criado no Blogger onde coloco textos encontrados na Internet e que pretendo guardar numa morada única. Ninguém pode aceder a ele, a não ser que lá chegue direccionado por um motor de busca, e isto pela simples razão que só eu conheço o url. Por outro lado, a regularidade com que eu próprio o visito varia, não com a suficiência com que o actualizo, mas com a necessidade de consultar os textos que factores externos (de trabalho, de estudo...) me impõem. No entanto, a ligação entre o conteúdo e o tempo regula-se nele da mesma maneira do que em qualquer blog e ele não deve ficar de fora de uma possível definição. Assim, não concordo nem com o elemento de "frequência" usado na definição nem com o significado com que o João Pedro Pereira o usa.
- é curioso que o João Pedro Pereira diga "não recuso a importância da ordem cronológica inversa" quando no dia anterior dizia "se o Engrenagem estivesse ordenado por ordem cronológica de criação dos posts (como o script que aqui uso permite) duvido que alguém o deixasse de considerar um blog". Porém, aceito a formulação da Wikipedia.
- decerto, o espírito jornalístico e prático do João Pedro Pereira levou-o a confundir com "efeméride" a "actualidade efémera do pensamento" de que falo no meu post anterior. Explico: não me refiro ao relato de factos menores ou da chamada "história menor", mas à circunstância de os blogs servirem a fixação de um pensamento que é, em si mesmo (e independentemente daquilo a que se refere), efémero. Por outro lado, a interpretação do seu significado, a partir do momento em que é fixado, identificado no tempo, ultrapassa o pensamento considerado isoladamente e abarca também a oportunidade dessa mesma fixação. Não se trata então de intimidade, mas, sim, da imediaticidade da relação blogger/blog, que é notória mesmo em metablogs como o Metafilter.
- parece-me que a questão não deve ser a da possibilidade de alguém pensar "vou colocar este texto a negrito para que este seja o primeiro post a ser lido quando as pessoas visitarem o meu blog", mas a de "se colocar este texto a negrito para que seja o primeiro post a ser lido quando as pessoas visitarem o meu blog, este deixa de ser um blog?". Porque o que estamos a fazer aqui é procurar elementos definidores do que é ser blog, acho que a solução para este elemento deveria ser um "normally" semelhante à da ordem cronológica inversa...
Admito que a minha noção de efemeridade do conteúdo do blog seja pessoal demais e coloque problemas práticos na classificação de alguns sites. Por isso mesmo é que não a incluí na noção final de blog que apresentei. Aliás, desafio o João Pedro Pereira a confrontar com essa noção os blogs que menciona no seu post ("E quanto aos casos dos blogs profissionais, em que os textos podem até passar por editores, à semelhança do que acontece noutro tipo de publicações? E naqueles blogs (e muitas ferramentes permitem-no) com posts automatizados, programados para serem publicados à hora X? E no caso das fotografias, em que a efemeridade é captada no momento do "click" e só depois (quanto tempo depois?) é posta no blog, onde essa efemeridade já cristalizada é então dada a conhecer?"). Todos cabem nela, e as variações possíveis (ordem cronológica normal, hierarquização gráfica) também. Por isso, alargo o desafio: gostaria que me fosse apontado um site não-blog a que a definição possa ser aplicada. Parece-me a condição mais adequada para rever a reflexão como correu até aqui.
- o elemento de "frequência" continua a incomodar-me. Acho-o supérfluo, principalmente tendo em conta que nada tenho contra a vocação para a actualização do conteúdo ser elemento definidor do blog. Mas tomemos como exemplo o The Lonely Fork In the Road. Este blog foi actualizado em 27 e 28 de Junho e em 6 e 8 de Agosto. Não podemos, de todo, dizer que há frequência na actualização do seu conteúdo. Poderíamos sempre perguntar: mas será que, ainda que não a havendo, essa frequência seria no entanto pressuposta no tipo de site em causa? Eu acho que não. Olho para o The Lonely Fork In The Road e não consigo deixar de incluí-lo numa possível noção de blog, até porque, mesmo com a rarificação de posts, a actualização mantém-se como uma possiblidade em aberto, tal como se mantém em qualquer blog que, mesmo tendo fechado as portas, não desapareça do ciberespaço (o Barnabé é um bom exemplo).
- além do mais, acho que a noção de "frequência" dada pelo João Pedro Pereira é profundamente infeliz e creio que ele próprio não teve uma noção clara daquilo que escreveu. A actualização é frequente quando o blog é "actualizado o suficiente para motivar visitas recorrentes, para além daquelas que surgem por pesquisas avulsas em motores de busca"? É isto "frequência"? Um site em forma de blog criado sem qualquer intuito de visitas para além das do autor não é, portanto, um blog. Vou dar um exemplo. Eu tenho um espaço criado no Blogger onde coloco textos encontrados na Internet e que pretendo guardar numa morada única. Ninguém pode aceder a ele, a não ser que lá chegue direccionado por um motor de busca, e isto pela simples razão que só eu conheço o url. Por outro lado, a regularidade com que eu próprio o visito varia, não com a suficiência com que o actualizo, mas com a necessidade de consultar os textos que factores externos (de trabalho, de estudo...) me impõem. No entanto, a ligação entre o conteúdo e o tempo regula-se nele da mesma maneira do que em qualquer blog e ele não deve ficar de fora de uma possível definição. Assim, não concordo nem com o elemento de "frequência" usado na definição nem com o significado com que o João Pedro Pereira o usa.
- é curioso que o João Pedro Pereira diga "não recuso a importância da ordem cronológica inversa" quando no dia anterior dizia "se o Engrenagem estivesse ordenado por ordem cronológica de criação dos posts (como o script que aqui uso permite) duvido que alguém o deixasse de considerar um blog". Porém, aceito a formulação da Wikipedia.
- decerto, o espírito jornalístico e prático do João Pedro Pereira levou-o a confundir com "efeméride" a "actualidade efémera do pensamento" de que falo no meu post anterior. Explico: não me refiro ao relato de factos menores ou da chamada "história menor", mas à circunstância de os blogs servirem a fixação de um pensamento que é, em si mesmo (e independentemente daquilo a que se refere), efémero. Por outro lado, a interpretação do seu significado, a partir do momento em que é fixado, identificado no tempo, ultrapassa o pensamento considerado isoladamente e abarca também a oportunidade dessa mesma fixação. Não se trata então de intimidade, mas, sim, da imediaticidade da relação blogger/blog, que é notória mesmo em metablogs como o Metafilter.
- parece-me que a questão não deve ser a da possibilidade de alguém pensar "vou colocar este texto a negrito para que este seja o primeiro post a ser lido quando as pessoas visitarem o meu blog", mas a de "se colocar este texto a negrito para que seja o primeiro post a ser lido quando as pessoas visitarem o meu blog, este deixa de ser um blog?". Porque o que estamos a fazer aqui é procurar elementos definidores do que é ser blog, acho que a solução para este elemento deveria ser um "normally" semelhante à da ordem cronológica inversa...
Admito que a minha noção de efemeridade do conteúdo do blog seja pessoal demais e coloque problemas práticos na classificação de alguns sites. Por isso mesmo é que não a incluí na noção final de blog que apresentei. Aliás, desafio o João Pedro Pereira a confrontar com essa noção os blogs que menciona no seu post ("E quanto aos casos dos blogs profissionais, em que os textos podem até passar por editores, à semelhança do que acontece noutro tipo de publicações? E naqueles blogs (e muitas ferramentes permitem-no) com posts automatizados, programados para serem publicados à hora X? E no caso das fotografias, em que a efemeridade é captada no momento do "click" e só depois (quanto tempo depois?) é posta no blog, onde essa efemeridade já cristalizada é então dada a conhecer?"). Todos cabem nela, e as variações possíveis (ordem cronológica normal, hierarquização gráfica) também. Por isso, alargo o desafio: gostaria que me fosse apontado um site não-blog a que a definição possa ser aplicada. Parece-me a condição mais adequada para rever a reflexão como correu até aqui.
o que é um blog
O João Pedro Pereira do Engrenagem retoma uma discussão que ainda não perdeu actualidade. Cabe fazer algumas observações.
Primeiro, a própria concepção de blog para Rebecca Blood, que ele cita, é demasiado discutível (inclui a necessidade de uma barra lateral, distingue weblog de diários pessoais e de filtros noticiosos e implica uma concepção curiosa do autor e da sua implicação no conteúdo – leia-se o livro da autora). Depois, não concordo inteiramente com a definição de weblog avançada:
- ”um tipo de site”: nada a apontar;
- “estruturado em torno do conteúdo de actualização frequente”: discordo. Um blog morto não deixa de ser um blog. Desafio alguém a viajar por um, como, por exemplo, o Barnabé. Não reconhecemos lá todos os elementos que nos fazem dizer “isto é um blog?”, mesmo que no presente não haja qualquer intuito de “actualização frequente”? Eu acho que sim. Além do mais, a noção de “frequente” não é clara: falamos de dias?, meses?, anos?...
- “ordenado por ordem cronológica inversa”: não entendo a inclusão deste elemento, até porque o próprio João Pedro Pereira o recusa quando afirma “se o Engrenagem estivesse ordenado por ordem cronológica de criação dos posts (como o script que aqui uso permite) duvido que alguém o deixasse de considerar um blog”;
- “sem elementos gráficos de hierarquização”: se falamos de soluções gráficas para relevar a importância de determinados elementos relativamente a outros, discordo – o que são afinal os títulos, os itálicos, os negritos?
- ”acessível em grande parte sem necessidade de clique”: claramente o João Pedro Pereira não visita blogs de fotografia como este. Se visita, ou se esqueceu dele quando construía a sua definição, ou não o considera um blog.
Conclusões? Devo confessar que este é dos temas que mais me fascina na blogosfera, mesmo que a ele pouco mais tenha dedicado do que estas linhas. Para mim, um blog identifica-se, antes de quaisquer elementos materiais, na sua relação com o tempo: o blog fixa a actualidade efémera do pensamento (artístico, crítico, íntimo…) na perenidade abstracta da Internet e, mais do que isso, fixa no tempo essa actualidade, defendendo-a de todo o outro tempo que há-de vir. Assim, concordo com a dimensão da actualização, mas não exactamente como é apresentada pelo João Pedro Pereira. A “estruturado em torno do conteúdo de actualização frequente” prefiro ”estruturado em torno de uma actualização temporal linear” - no blog, há um antes e um depois, estejam eles no início ou no fim. Digam-me onde estão o “antes” e o “depois” no IMDB, por exemplo. Não existem. Não quero dizer que o IMDB não tenha tido uma evolução perceptível ao longo do tempo, mas só que ele não foi construído com base nessa continuação temporal. Ou seja, quando vou ler o artigo sobre Alfred Hitchcock no IMDB, o momento em que o artigo foi escrito não me diz nada; mas quando leio este post de Pacheco Pereira, leio algo, não só sobre o autor, os seus gostos e o seu blog, mas também sobre todo o contexto em que foi escrito. Penso: porque é que isto foi escrito por esta pessoa neste momento? O blog regista uma continuidade, é depósito da mesma, quer sirva de diário íntimo, quer sirva de “jornal de parede”, como o Metafilter.
Assim, e porque, dada a multiplicidade de blogs que já vi, me recuso a deixar qualquer um deles de fora de uma definição devido a aspectos marginais, a minha noção de blog é, muito simplesmente: site com inclusões de conteúdo estruturadas com base numa actualização temporal linear definida por um “antes” e um “depois”.
Primeiro, a própria concepção de blog para Rebecca Blood, que ele cita, é demasiado discutível (inclui a necessidade de uma barra lateral, distingue weblog de diários pessoais e de filtros noticiosos e implica uma concepção curiosa do autor e da sua implicação no conteúdo – leia-se o livro da autora). Depois, não concordo inteiramente com a definição de weblog avançada:
- ”um tipo de site”: nada a apontar;
- “estruturado em torno do conteúdo de actualização frequente”: discordo. Um blog morto não deixa de ser um blog. Desafio alguém a viajar por um, como, por exemplo, o Barnabé. Não reconhecemos lá todos os elementos que nos fazem dizer “isto é um blog?”, mesmo que no presente não haja qualquer intuito de “actualização frequente”? Eu acho que sim. Além do mais, a noção de “frequente” não é clara: falamos de dias?, meses?, anos?...
- “ordenado por ordem cronológica inversa”: não entendo a inclusão deste elemento, até porque o próprio João Pedro Pereira o recusa quando afirma “se o Engrenagem estivesse ordenado por ordem cronológica de criação dos posts (como o script que aqui uso permite) duvido que alguém o deixasse de considerar um blog”;
- “sem elementos gráficos de hierarquização”: se falamos de soluções gráficas para relevar a importância de determinados elementos relativamente a outros, discordo – o que são afinal os títulos, os itálicos, os negritos?
- ”acessível em grande parte sem necessidade de clique”: claramente o João Pedro Pereira não visita blogs de fotografia como este. Se visita, ou se esqueceu dele quando construía a sua definição, ou não o considera um blog.
Conclusões? Devo confessar que este é dos temas que mais me fascina na blogosfera, mesmo que a ele pouco mais tenha dedicado do que estas linhas. Para mim, um blog identifica-se, antes de quaisquer elementos materiais, na sua relação com o tempo: o blog fixa a actualidade efémera do pensamento (artístico, crítico, íntimo…) na perenidade abstracta da Internet e, mais do que isso, fixa no tempo essa actualidade, defendendo-a de todo o outro tempo que há-de vir. Assim, concordo com a dimensão da actualização, mas não exactamente como é apresentada pelo João Pedro Pereira. A “estruturado em torno do conteúdo de actualização frequente” prefiro ”estruturado em torno de uma actualização temporal linear” - no blog, há um antes e um depois, estejam eles no início ou no fim. Digam-me onde estão o “antes” e o “depois” no IMDB, por exemplo. Não existem. Não quero dizer que o IMDB não tenha tido uma evolução perceptível ao longo do tempo, mas só que ele não foi construído com base nessa continuação temporal. Ou seja, quando vou ler o artigo sobre Alfred Hitchcock no IMDB, o momento em que o artigo foi escrito não me diz nada; mas quando leio este post de Pacheco Pereira, leio algo, não só sobre o autor, os seus gostos e o seu blog, mas também sobre todo o contexto em que foi escrito. Penso: porque é que isto foi escrito por esta pessoa neste momento? O blog regista uma continuidade, é depósito da mesma, quer sirva de diário íntimo, quer sirva de “jornal de parede”, como o Metafilter.
Assim, e porque, dada a multiplicidade de blogs que já vi, me recuso a deixar qualquer um deles de fora de uma definição devido a aspectos marginais, a minha noção de blog é, muito simplesmente: site com inclusões de conteúdo estruturadas com base numa actualização temporal linear definida por um “antes” e um “depois”.
hm?
Este site diz que este blog "é de um fotógrafo apaixonado e que tem um dom especial para tratar as palavras". Quanto ao dom especial, não sei, mas isso de ser fotógrafo vem de fonte errada...
papa em colónia?
Um absoluto desperdício: não só a colónia estraga a papa, como a papa estraga a colónia.
a bomba
A polémica de Miguel Portas com Vasco Pulido Valente (e João Miguel Tavares) lembra-me uma história de um dos pergaminhos do curso de Direito, o “Direito Criminal” de Eduardo Correia. O autor dizia que, em circunstâncias muito excepcionais, poderíamos assistir a casos em que o mais aconselhável seria o Direito (Penal, no caso específico) se afastar na resolução da situação. O exemplo apontado era algo como isto: um comboio de mercadorias aproxima-se de um cruzamento de linhas. Se continuar por aquela que está aberta, embaterá num comboio de passageiros que, por engano de horários, nela circula. Se for desviado para a linha que está fechada, muito provavelmente matará os operários que a reparam. O funcionário dos caminhos-de-ferro, em segundos e consciente de todas as consequências em causa, desvia o comboio para a linha que está fechada. Salva os passageiros, mas mata os operários. E mata-os consciente de que essa será a consequência da sua acção, ou seja, pratica uma acção ilícita com dolo. Estão verificados os pressupostos do cumprimento da pena, mas esta, verificando-se, será para servir o cumprimento de valores que foram… a própria motivação da acção ilícita! Por isso, estaríamos perante um "espaço livre de Direito", pois este não poderia resolver a contradição fundamental no seio do problema.
Curioso como, cinquenta anos depois, ainda se discute se a opção de Truman também foi entre operários ou um comboio de passageiros...
Adenda: a opção do funcionário não deve ser entendida através de um critério quantitativo do tipo "dez mortos são melhores do que três mil" - esse critério não serve perante o Direito Penal, já que a vida humana não é comparável em valor ou número. O desafio do caso é como valorar um acto de tirar vida motivado por uma intenção de preservá-la.
Curioso como, cinquenta anos depois, ainda se discute se a opção de Truman também foi entre operários ou um comboio de passageiros...
Adenda: a opção do funcionário não deve ser entendida através de um critério quantitativo do tipo "dez mortos são melhores do que três mil" - esse critério não serve perante o Direito Penal, já que a vida humana não é comparável em valor ou número. O desafio do caso é como valorar um acto de tirar vida motivado por uma intenção de preservá-la.
vassourar
O da literatura fixa na blogosfera um texto antológico de Paulo Varela Gomes.
O Blogouve-se direcciona para um texto de João Alferes Gonçalves sobre blogs e jornalismo - a ele irei, noutro dia.
O eCuaderno apresenta um projecto que até faz apetecer aprender o catalão (se bem que eu ache que o segredo está em ler alto...).
O Há Vida em Markl fez "a maior descoberta musical dos últimos tempos".
O Blogouve-se direcciona para um texto de João Alferes Gonçalves sobre blogs e jornalismo - a ele irei, noutro dia.
O eCuaderno apresenta um projecto que até faz apetecer aprender o catalão (se bem que eu ache que o segredo está em ler alto...).
O Há Vida em Markl fez "a maior descoberta musical dos últimos tempos".
curiosa coincidência 3
Na revista Única (Expresso n.º 1711, de 13 de Agosto de 2005), no texto “Livros para férias (2)”, João Carlos Espada cita o “Gulag”, de Anne Applebaum:
Não será o mesmo mecanismo de benefício da dúvida - não exactamente o mesmo que estado de graça - que tem beneficiado Sócrates e o seu governo até agora (e que poderá não durar muito mais) em comparação com os meses de Santana Lopes? Eu acho que sim e, achando-o, não deixo de concordar com Eduardo Cintra Torres quando, na página 46 do Público de hoje, diz
Havia a ideia, recorda a autora, de que “de uma maneira ou de outra a União Soviética simplesmente se desviou para o mal, mas não estava errada na sua essência, como estava a Alemanha de Hitler (…) Os ideais do comunismo – justiça social, igualdade para todos – são simplesmente muito mais atraentes para a maioria dos ocidentais do que a defesa nazi do racismo e da vitória dos fortes sobre os fracos”.
Não será o mesmo mecanismo de benefício da dúvida - não exactamente o mesmo que estado de graça - que tem beneficiado Sócrates e o seu governo até agora (e que poderá não durar muito mais) em comparação com os meses de Santana Lopes? Eu acho que sim e, achando-o, não deixo de concordar com Eduardo Cintra Torres quando, na página 46 do Público de hoje, diz
A maioria absoluta não é apenas obra de Sócrates. Foi um bónus que Santana lhe ofereceu: uma parte do eleitorado votou contra Lopes e não por Sócrates, pelo que não deveria ter grandes esperanças na governação do PS – o estado de graça, para muitos portugueses, nunca existiu.
CURIOSA COINCIDÊNCIA 2
O texto no verso do DVD do “Playtime” diz
Em entrevista publicada na revista Única (Expresso n.º 1711, de 13 de Agosto de 2005), Flávio Tavares, ex-guerrilheiro brasileiro, diz
Na era das “Economic Air Lines”, turistas americanos efectuam uma viagem organizada. O programa é composto pela visita de uma capital por dia. Quando chegam a Paris, apercebem-se que o aeroporto é exactamente igual àquele de onde partiram de Roma, que as ruas são como as de Hamburgo e que os candeeiros de rua se parecem estranhamente aos de Nova Iorque.
Em entrevista publicada na revista Única (Expresso n.º 1711, de 13 de Agosto de 2005), Flávio Tavares, ex-guerrilheiro brasileiro, diz
A linguagem é definida pelos publicitários. Uma prova é que, quando cheguei, fiz um passeio nostálgico por Lisboa e não encontrei nada português. Portugal era Portugal e agora Lisboa pode ser qualquer outra capital europeia. É um fenómeno que se verifica no mundo inteiro. Nada na cidade me dizia que estava em Lisboa, a não ser a topografia. Vamos ficar todos iguais, apenas falando idiomas um pouco diferentes, apesar de cada vez mais também os idiomas estarem parecidos, com a inclusão de palavras em inglês.
CURIOSA COINCIDÊNCIA 1
Tenho reparado que, no canal Viver/Vivir (face diurna de um outro, bem mais popular), há espaços de programação nacional cujo mau gosto, não só chega, como rebola nas margens do ridículo. Tecnicamente limitados - o som, então, é horrível – são normalmente programas de informação ligeira, sobre desportos motorizados ou vida nocturna. Os locutores não fazem o mínimo esforço por esconderem as raízes e os tiques radiofónicos, e o visual também não ajuda. O curioso, no entanto, não é a imitação da rádio em si mesma, mas o tipo de rádio que se imita. O Viver, Vivir glorifica os formatos das (más) rádios locais, com separadores misturados com slogans, músicas escolhidas sem critério deixadas a tocar para encher horário, nomes de patrocinadores soltos ao acaso, entrevistas feitas sem interesse, quer do entrevistado, quer do entrevistador – em suma, assiste-se ao triunfo do lugar-comum.
Por outro lado, a herança radiofónica também se nota num anúncio que agora passa nos canais generalistas, principalmente à tarde, acompanhando as emissões da Volta a Portugal. Falo do anúncio à Madeinox – Sistemas de Montagem Profissionais, em que um homem vestido de operário puxa uma fita métrica onde, em vez de números, aparecem escritos os materiais e serviços desenvolvidos pela empresa: tubagens, silicones, etc. Quando o enquadramento se acaba, o homem larga a fita, a câmara sobe para o seu rosto, ele acaba de ditar os materiais, sorri, entra o slogan e o anúncio acaba. Não há qualquer intuito de narrativa, de pequena anedota, nem de embelezar o que não é belo. À herança radiofónica juntam-se aqui outras referências, como os anúncios de televisão antigos, onde se mostrava o produto e pouco mais. Simples e estranho à primeira vista, acaba por resultar bem menos ridículo do que os programas do Viver/Vivir.
Por outro lado, a herança radiofónica também se nota num anúncio que agora passa nos canais generalistas, principalmente à tarde, acompanhando as emissões da Volta a Portugal. Falo do anúncio à Madeinox – Sistemas de Montagem Profissionais, em que um homem vestido de operário puxa uma fita métrica onde, em vez de números, aparecem escritos os materiais e serviços desenvolvidos pela empresa: tubagens, silicones, etc. Quando o enquadramento se acaba, o homem larga a fita, a câmara sobe para o seu rosto, ele acaba de ditar os materiais, sorri, entra o slogan e o anúncio acaba. Não há qualquer intuito de narrativa, de pequena anedota, nem de embelezar o que não é belo. À herança radiofónica juntam-se aqui outras referências, como os anúncios de televisão antigos, onde se mostrava o produto e pouco mais. Simples e estranho à primeira vista, acaba por resultar bem menos ridículo do que os programas do Viver/Vivir.
Evelyn Miller
No canto superior direito dos blogs que alberga, o Blogger coloca uma funcionalidade - um botão que permite viajar para um blog ao acaso - que, de vez em quando, traz visitantes de locais curiosos.
as parvoeiras de felgueiras
Hoje o Telejornal passou uma peça sobre o movimento pró-Fátima Felgueiras. Chama-se "Sempre Presente". Bonito. Se presente for adjectivo, diz que a mulher, estando lá, está cá. Se for substantivo, diz que o problema, ou a autarquia, ou o país, não têm passado nem futuro. E para quando uma entrevista a Fátima Felgueiras feita por Sandra Felgueiras?
Porque é que a Ani Difranco é porreira
Porque escreve letras como esta:
yes,
us people are just poems
we're 90% metaphor
with a leanness of meaning
approaching hyper-distillation
and once upon a time
we were moonshine
rushing down the throat of a giraffe
yes, rushing down the long hallway
despite what the p.a. announcement says
yes, rushing down the long stairs
with the whiskey of eternity
fermented and distilled
to eighteen minutes
burning down our throats
down the hall
down the stairs
in a building so tall
that it will always be there
yes, it's part of a pair
there on the bow of noah's ark
the most prestigious couple
just kickin back parked
against a perfectly blue sky
on a morning beatific
in its indian summer breeze
on the day that america
fell to its knees
after strutting around for a century
without saying thank you
or please
and the shock was subsonic
and the smoke was deafening
between the setup and the punch line
cuz we were all on time for work that day
we all boarded that plane for to fly
and then while the fires were raging
we all climbed up on the windowsill
and then we all held hands
and jumped into the sky
and every borough looked up when it heard the first blast
and then every dumb action movie was summarily surpassed
and the exodus uptown by foot and motorcar
looked more like war than anything i've seen so far
so far
so far
so fierce and ingenious
a poetic specter so far gone
that every jackass newscaster was struck dumb and stumbling
over 'oh my god' and 'this is unbelievable' and on and on
and i'll tell you what, while we're at it
you can keep the pentagon
keep the propaganda
keep each and every tv
that's been trying to convince me
to participate
in some prep school punk's plan to perpetuate retribution
perpetuate retribution
even as the blue toxic smoke of our lesson in retribution
is still hanging in the air
and there's ash on our shoes
and there's ash in our hair
and there's a fine silt on every mantle
from hell's kitchen to brooklyn
and the streets are full of stories
sudden twists and near misses
and soon every open bar is crammed to the rafters
with tales of narrowly averted disasters
and the whiskey is flowin
like never before
as all over the country
folks just shake their heads
and pour
so here's a toast to all the folks who live in palestine
afghanistan
iraq
el salvador
here's a toast to the folks living on the pine ridge reservation
under the stone cold gaze of mt. rushmore
here's a toast to all those nurses and doctors
who daily provide women with a choice
who stand down a threat the size of oklahoma city
just to listen to a young woman's voice
here's a toast to all the folks on death row right now
awaiting the executioner's guillotine
who are shackled there with dread and can only escape into their heads
to find peace in the form of a dream
cuz take away our playstations
and we are a third world nation
under the thumb of some blue blood royal son
who stole the oval office and that phony election
i mean
it don't take a weatherman
to look around and see the weather
jeb said he'd deliver florida, folks
and boy did he ever
and we hold these truths to be self evident:
#1 george w. bush is not president
#2 america is not a true democracy
#3 the media is not fooling me
cuz i am a poem heeding hyper-distillation
i've got no room for a lie so verbose
i'm looking out over my whole human family
and i'm raising my glass in a toast
here's to our last drink of fossil fuels
let us vow to get off of this sauce
shoo away the swarms of commuter planes
and find that train ticket we lost
cuz once upon a time the line followed the river
and peeked into all the backyards
and the laundry was waving
the graffiti was teasing us
from brick walls and bridges
we were rolling over ridges
through valleys
under stars
i dream of touring like duke ellington
in my own railroad car
i dream of waiting on the tall blonde wooden benches
in a grand station aglow with grace
and then standing out on the platform
and feeling the air on my face
give back the night its distant whistle
give the darkness back its soul
give the big oil companies the finger finally
and relearn how to rock-n-roll
yes, the lessons are all around us and a change is waiting there
so it's time to pick through the rubble, clean the streets
and clear the air
get our government to pull its big dick out of the sand
of someone else's desert
put it back in its pants
and quit the hypocritical chants of
freedom forever
cuz when one lone phone rang
in two thousand and one
at ten after nine
on nine one one
which is the number we all called
when that lone phone rang right off the wall
right off our desk and down the long hall
down the long stairs
in a building so tall
that the whole world turned
just to watch it fall
and while we're at it
remember the first time around?
the bomb?
the ryder truck?
the parking garage?
the princess that didn't even feel the pea?
remember joking around in our apartment on avenue D?
can you imagine how many paper coffee cups would have to change their design
following a fantastical reversal of the new york skyline?!
it was a joke, of course
it was a joke
at the time
and that was just a few years ago
so let the record show
that the FBI was all over that case
that the plot was obvious and in everybody's face
and scoping that scene
religiously
the CIA
or is it KGB?
committing countless crimes against humanity
with this kind of eventuality
as its excuse
for abuse after expensive abuse
and it didn't have a clue
look, another window to see through
way up here
on the 104th floor
look
another key
another door
10% literal
90% metaphor
3000 some poems disguised as people
on an almost too perfect day
should be more than pawns
in some asshole's passion play
so now it's your job
and it's my job
to make it that way
to make sure they didn't die in vain
sshhhhhh....
baby listen
hear the train?
Porque é que o JP Simões é porreiro
Porque escreve letras como esta:
No quarto impecável, ao lado do corpo, a carta, com um último artigo a sair no jornal de domingo, no correio dos leitores, dizia assim:
"Sou jovem. Honesto, estudante. Trabalho, sou pago: eu pago os impostos, as letras, os juros da casa, dos móveis, dos livros na estante, dos discos, dos filmes. Que hei-de fazer? Eu vou ao cinema, eu leio poemas, gosto de ler! Eu voto, eu escolho, eu olho nos olhos dos casos, dos factos, das coisas concretas. Eu não tomo drogas, não sou alcoólico! Eu estou preocupado e um pouco dorido ao ver que em várias revistas adultos, ministros, artistas, nas revistas da tv, demonstram que os jovens são brutos, boémios, incultos, autistas, não têm emprego, ou são arrivistas e mal educados. São tão depressivos, são tão destrutivos, que hei-de fazer? Com 23 anos já não faço planos: para quê fazer? Eu vivo na esperança, na vaga mudança que nunca vai acontecer. Eu não tomo drogas, não sou alcoólico!
"MORANGOS COM AÇÚCAR" PENSAR 5
Inevitável na reflexão sobre os “Morangos com Açúcar” é o nome da série. É claro que ele apela principalmente à franja adolescente e pré-adolescente do público (à franja dos vinte anos destinar-se-ão outros aspectos, como as roupas, os penteados, etc., o que, por sua vez, nos remete para saber porque é que esta idade tem cada vez menos referentes próprios – falamos de estilo, obviamente, mas não só -, tendo de optar entre ser pró-adolescente ou pró-adulta). O morango, super-fruta por excelência – vermelha, doce, comestível e comerciável em diversas formas -, passa a ideia de delícia leve, de algo que se come num instante sem complexos de culpa e sem deixar marcas no corpo. Exactamente como uma série de fim de tarde, telenovela para jovens que reduz a trama ao mínimo denominador comum de simplicidade para não exluir outros públicos.
Este é mais um aspecto sinistro. “Morangos com Açúcar” é uma série concebida por adultos desde o início para criar nos adolescentes “necessidades não necessárias” (as famosas necessidades não necessárias – oh, colegas de Economia Política, há quanto tempo, há?), ou seja, para estimular a venda de uma série de produtos derivados (cantores, revistas, livros, peças de teatro, etc.) ou não derivados (todos os dos anunciantes). Este programa está mais próximo de um anúncio do que de uma série, portanto. O busílis está aí: o que são os “morangos” do título? Nada me tira da cabeça que eles são, em suma, os arquétipos de adolescente criados e representados: com “açúcar”, obviamente, pois as suas vidas fictícias têm a animação e intensidade desejadas por todos os demais. Assim, por trás da série está todo um intuito de paternalismo e de frustração – de alguém que, em suma, não quer saber do que ser adolescente realmente significa, a não ser que sirva para vender mais uma marca de gelados.
Este é mais um aspecto sinistro. “Morangos com Açúcar” é uma série concebida por adultos desde o início para criar nos adolescentes “necessidades não necessárias” (as famosas necessidades não necessárias – oh, colegas de Economia Política, há quanto tempo, há?), ou seja, para estimular a venda de uma série de produtos derivados (cantores, revistas, livros, peças de teatro, etc.) ou não derivados (todos os dos anunciantes). Este programa está mais próximo de um anúncio do que de uma série, portanto. O busílis está aí: o que são os “morangos” do título? Nada me tira da cabeça que eles são, em suma, os arquétipos de adolescente criados e representados: com “açúcar”, obviamente, pois as suas vidas fictícias têm a animação e intensidade desejadas por todos os demais. Assim, por trás da série está todo um intuito de paternalismo e de frustração – de alguém que, em suma, não quer saber do que ser adolescente realmente significa, a não ser que sirva para vender mais uma marca de gelados.
pensar gratuito
Espantoso como os castelos de indícios se constroem tão facilmente desde a "Menina e Moça" até ao "Código da Vinci".
portugueses?
Estava eu muito descansado a ver os extras do "Playtime" que vinha no "pack" Jacques Tati vendido pelo Público há tempos quando, a dada altura, uma surpresa: no plano em que as luzes voltam à sala de cinema em que a versão restaurada do filme foi exibida pela primeira vez, no Festival de Cannes de 2002, dois homens estão no centro do enquadramento. Um deles vira-se para trás: é o João Lopes. O outro parece-me, com menos certeza, o Jorge Leitão Ramos. Não percebo muito bem porquê, mas senti-me estupidamente contente.
"morangos com açúcar" pensar 4
O comentário do Francisco (presumo que este Francisco) foi verdadeiramente oportuno. Se "Morangos com Açúcar" é francamente mau, o que faz com que se veja "Morangos com Açúcar"? Primeira resposta: um muito básico impulso voyeurístico. Vê-se "Morangos com Açúcar" para ver adolescentes atraentes que, volta e meia, aparecem meio despidas/os (o 24 Horas de hoje trazia na primeira página o drama de uma das actrizes: "Rita Pereira queixa-se que já lhe tiraram fotos ao rabo"). Uma história que extravasasse da mera frivolidade seria, nestas circunstâncias, um empecilho a distrair as mentes.
Mas não pode ser apenas isto, mesmo que eu me aperceba de uma percentagem crescente de homens que acompanha a série/telenovela. Há uma outra dimensão: "Morangos com Açúcar" percebe a altura do dia em que passa e a disponibilidade de atenção dos espectadores que, por então, começam a chegar a casa, cansados do emprego ou da escola. Funciona pela caricatura de pessoas e de gestos e, por isso, apela à preguiça mental que sabe estar lá, à sua espera. Entra no ridículo e não sabe dirigir os seus actores (nem todos cabotinos), mas isso não lhe importa, pois, à hora a que passa, isso não é necessariamente mau; é, apenas, opção.
Ler também n'A Peste:
- "Morangos com Açúcar", Pensar;
- "Morangos com Açúcar", Pensar 2;
- "Morangos com Açúcar", Pensar 3;
- "Morangos com Açúcar", Pensar 5;
- "Morangos com Açúcar", Pensar 6;
- "Morangos com Açúcar", Pensar 7;
- "Morangos com Açúcar", Pensar 8.
- "Morangos com Açúcar", Pensar 9.
Mas não pode ser apenas isto, mesmo que eu me aperceba de uma percentagem crescente de homens que acompanha a série/telenovela. Há uma outra dimensão: "Morangos com Açúcar" percebe a altura do dia em que passa e a disponibilidade de atenção dos espectadores que, por então, começam a chegar a casa, cansados do emprego ou da escola. Funciona pela caricatura de pessoas e de gestos e, por isso, apela à preguiça mental que sabe estar lá, à sua espera. Entra no ridículo e não sabe dirigir os seus actores (nem todos cabotinos), mas isso não lhe importa, pois, à hora a que passa, isso não é necessariamente mau; é, apenas, opção.
Ler também n'A Peste:
- "Morangos com Açúcar", Pensar;
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- "Morangos com Açúcar", Pensar 5;
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- "Morangos com Açúcar", Pensar 7;
- "Morangos com Açúcar", Pensar 8.
- "Morangos com Açúcar", Pensar 9.
o teste da religião
Deixa estar, David: como vês, eu sou ainda mais satânico (será que...).
You scored as agnosticism. You are an agnostic. Though it is generally taken that agnostics neither believe nor disbelieve in God, it is possible to be a theist or atheist in addition to an agnostic. Agnostics don't believe it is possible to prove the existence of God (nor lack thereof). Agnosticism is a philosophy that God's existence cannot be proven. Some say it is possible to be agnostic and follow a religion; however, one cannot be a devout believer if he or she does not truly believe.
Which religion is the right one for you? (new version) created with QuizFarm.com |
recado
Ao João Pedro Pereira: parece-me que o que andamos a fazer n'A Cabra há anos não passa afinal de "good old new citizen journalism" em papel. Um dia, ao escrever-se a história deste conceito, talvez o nosso jornal mereça lá entrada como objecto que precedeu o conceito.
meanings of life
Sexta-feira, sítios cinzentos, requerimentos, enganos, registos falhados, calor, chuva de cinzas em Coimbra, carros e sandes de leitão.
Sábado, pele, água, cair, voltar, brincar, jantar, dormir.
Domingo, regresso, almoço tardio, Odisseia.
Segunda-feira, registos conseguidos, o mundo mais fácil, comboio, Porto, Binmarder e Lamentor, olhos fechados, picanha, beijos, coisas novas, o cheiro, o cheiro.
Sábado, pele, água, cair, voltar, brincar, jantar, dormir.
Domingo, regresso, almoço tardio, Odisseia.
Segunda-feira, registos conseguidos, o mundo mais fácil, comboio, Porto, Binmarder e Lamentor, olhos fechados, picanha, beijos, coisas novas, o cheiro, o cheiro.
SEMPRE O MESMO REGISTO
Sim, é verdade, o IVA subiu, o IRS também se há-de sentir e anda tudo a ver se mais com menos. Não deixa por isso de ser curiosa esta pequena descoberta silenciosa: desde dia 12 de Março que o registo de uma obra intelectual ou artística na Inspecção-Geral das Actividades Culturais custa € 25 de emolumentos, mais € 0,30 de portes. Isto pode não querer dizer nada a quem nunca teve necessidade de registar uma obra, mas é bom lembrar que até 11 de Março a taxa de emolumentos se mantinha como sempre tinha estado, ou seja, € 0,90. De € 0,90 para € 25, a diferença é muita. Não faça contas, leitor, eu já as fiz: é uma subida de cerca de 2778 por cento.
A taxa de 90 cêntimos era baixíssima e irrazoavelmente desproporcionada face aos custos administrativos do serviço (sublinho que, no que me toca, o IGAC sempre funcionou muito bem). Não se pode deixar de ter em conta o carácter específico do registo em causa, que versa objectos cuja rentabilização comercial nem sempre é garantida, mas, enquanto autor, parece-me que uma subida até € 5 era perfeitamente aceitável e compreensível. O aumento para € 25 dá a ideia de se querer compensar o atraso na actualização da taxa por todos os meios possíveis, ainda para mais num registo que, não sendo obrigatório no que toca à protecção da obra pelos direitos de autor, é obrigatório para outros efeitos (por exemplo, os concursos do ICAM exigem o registo dos argumentos e das sinopses).
A taxa de 90 cêntimos era baixíssima e irrazoavelmente desproporcionada face aos custos administrativos do serviço (sublinho que, no que me toca, o IGAC sempre funcionou muito bem). Não se pode deixar de ter em conta o carácter específico do registo em causa, que versa objectos cuja rentabilização comercial nem sempre é garantida, mas, enquanto autor, parece-me que uma subida até € 5 era perfeitamente aceitável e compreensível. O aumento para € 25 dá a ideia de se querer compensar o atraso na actualização da taxa por todos os meios possíveis, ainda para mais num registo que, não sendo obrigatório no que toca à protecção da obra pelos direitos de autor, é obrigatório para outros efeitos (por exemplo, os concursos do ICAM exigem o registo dos argumentos e das sinopses).
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